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TE AMO MAIS



Te amo mais

Quando arrastas minha alma

Sacana para a beira da cama

E abres o meu ziper, deixando

Minhas emoções vadias a mostra.



Te amo mais

Quando estou em ti, estando em

Mim e acordo no meio do labirinto

Que odeio e sinto como verdade

E condição para sobreviver.



Te amo mais

Se me perdes nos pequenos

Detalhes que nos engolem e

Afastam, restando tão pouco para

Perdoar.



Te amo mais

Quando menos sei amar.

A hora desce absoluta nos meus seios

E eu rastejo sem rastejar para o gargalo

Misterioso de uma garrafa qualquer.



Sim, te amo mais

Quando me sinto absurda,

Quando me sinto mulher.

E te amo tanto que já

Anoiteço em mesas sem toalha,

Em copos sem fundo, em beijos

No guardanapo, em pratos vazios

De esperança.



E no fim de tudo, quando a noite

Já não é mais virgem, é para ti

A minha última dança.



Karla Bardanza



TODAS AS MULHERES DE XANGÔ


a alma tem prioridades:


tua voz acariciando o


meu pescoço,


um passeio pela Liberdade,


sonetos escritos com


a mão cheia de suspiros


e todas as coisas de Xangô.






se eu te falar


que sou de Iansã


é porque matei um leão ontem


e vou matar outro amanhã.


se eu te disser que sou de Yemanjá,


acredite também.


deixe-me chorar no meu canto


todas lágrimas


do bem.


posso ser de Oxum e ai


serei de todos os lugares


e de lugar nenhum..


agora se a minha cigana


chegar perto, dê à ela


uma sai rodada e assovie


aquela melodia


e se isso não resolver,


tatuei nas minhas cartas


e na minha alma a tua


melhor poesia.














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karla bardanza










Para você, com amor.

ANTES DO VERBO, EU PARIA A VIDA





A rua é de seda
E ela desliza em seu kimono
E olhar de flor de cerejeira,
Andando com a cabeça nas
Profundezas ignoradas de sua
Delicadeza.

E quando passa, a lua borda
Estrelas e chama Kuan Yin
Para abençoar os canteiros
De flores, o Lótus deitado
Na água, as pedras e todas
As suas irmãs.

Ela é a energia compassiva
E receptiva, o sagrado feminino,
A beleza que me habita e que
Dorme em mim.

Antes do verbo, eu era imortal.
Paria a vida, acolhendo tudo
Em meu útero eterno de luz.
Antes, você podia me ver com
A dimensão do eterno.

A rua é de seda e juntas vamos
Em direção ao todo intemporal,
Levando nada além da nossa
Própria divindade, das pétalas
E do vento porque somos o
Que está guardado no tempo
Fora do tempo, no infinito
Silencioso da alma.

Karla Bardanza
















ENTRE AS PERNAS



o amor não sabe ser pedra bruta,

verdade infiel e absoluta.



o amor te olha daqui,

calado, com os olhos estilhaçados,

procurando a rota mais rápida.

todos os santos são são paulo.

todos os rios são janeiro.



a ponte é aérea.

vou pela rodovia, levando

entre as pernas,

toda a tua poesia.



Karla Bardanza




QUANDO O MARUJO NÃO OUVE A SEREIA



Se eu esperar para encontrar a resposta,

Essa que escondestes nas portas do mar,

Perderei o caminho e todas as apostas

Apenas por um pouco de vinho e luar.



Se tento acreditar, meu navio naufraga

Em mares sem azul ou mesmo areia.

Estou ancorada no cais que embriaga

Quando o marujo não ouve a sereia.



Não consigo içar as velas desse tempo.

Estou presa na vã espera da amargura

Que não segue os cabelos do vento,



E desconhece os apelos da doce candura.

Digas, meu senhor, ouves o meu lamento

Ou tudo isso morrerá na noite escura?



Karla Bardanza



LUA CRESCENTE EM ESCORPIÃO



Não te falarei dos nossos sextis, trígonos e conjunções.Não te falarei que o Sol está em Aquário e que a Lua está crescente em Escorpião.



Minha Vênus está cansada. Foi passear em outra casa. Deve está sentada, olhando Marte.


Ficarei calada ao lado de Mercúrio, ouvindo Júpiter em Áries falar sobre a vida com tanto entusiasmo e liderança.Às vezes, sinto o peso de Saturno tão fortemente e quase não posso me levantar.Preciso tanto de Urano para me levar para Netuno e Plutão. Estranho que esqueço quase tudo quando te dou a mão para sonhar com as estrelas, para pisar na cauda do dragão e fugir do destino.


Não, não te falarei de nada que está escrito no céu.Hoje, vou colocar os pés no chão e celebrar os nossos signos sem falar de sinastria, de revolução solar, de astrologia.


Hoje, a cabeça estará no pescoço e eu vou ouvir a lua no teu peito, moço.










Karla Bardanza

QUANDO NADA MAIS TENHO



Não é o bastante,

O nervo exposto,

O sangue sem rumo,

O soco no rosto.


A dor é uma volta

No círdulo, o infinito

Que nunca foi, as indas

E vindas da roda da fortuna

Quando a carta cai na

Mesa.


A delicadeza embrutece:

Os punhos estão fechados

Para o perdão.

Tudo silencia nesta fábula,

Menos a poesia.


Bendita sois vós que me

Alimenta o corpo sem paraíso.

Bendito é o fruto do teu

Ventre fecundo.

Quando mais nada tenho,

Tenho ainda o mundo.


Karla Bardanza




















































KRISHNA E RADHA



Quando as flores caem de meus olhos

E eu beijo as mãos de Krishna e Radha,

Abro o céu para que as estrelas iluminem

O Ganges, calmo rio divino, menino em

Minha alma.



Sim, o amor te guarda no silêncio do templo,

No tempo sem tempo, na lua mansa que

Sombreia o mar e os mistérios das palavras.

O sentido está além, no ritual que observo

Com os incensos acesos e os cabelos perfumados.

Amor sagrado, se me perdes, me tens em

Nuvens e saris, naquela dança que os deuses

Me ensinaram para que eu pudesse sonhar.



Escolhi esse mantra para te acordar.

Madana mohana murari

Haribol haribol haribol

A flecha seduz o arco que enverga sem

Força para ferir o coração.

Amor de minha alma, a paixão cuida de mim.

Eternizo as horas caladas, queimo mirra

E alecrim.



Que a vida possa te dar asas e flautas,

Que o teu canto seja bálsamo e semente.

Te solto no vento, calma e contente

Para que teus pés sigam o vôo da condor.

Se fores e voltares como Krishna, é

Porque eu sou Radha e tu ainda és o meu

Amor.









Karla Bardanza





Madana Mohana Murari





Madana mohana murari

Madana mohana murari

Haribol haribol haribol

Haribol haribol haribol



Por seres mais sedutor do que o próprio cupido, roubaste o meu coração

Cante o nome de Deus Cante o nome de Deus Cante o nome de Deus








A PALAVRA MAIS DIFÍCIL



Que seja brutal

O que já foi.

Que seja intensa

A memória que

Não sabe ser

Perdão:

A palavra mais

Difícil.




Quando o chão

É ausência, tudo

Está escondido

Na fotografia que

Não mais será.




Onde há tantos

Erros? Onde há?




O pó dos meus dias

Continua lá,

Cobrindo o branco

Dos poemas.

Letras dissonantes,

Distante verdade.




Não sei por onde

Começar ou se o começo

Está onde deveria

Estar.

Assim está feito.

Perfeito o que não tem

Passado ou perfeição.




Que seja fácil e breve.

Que seja leve o vôo,

O corpo livre, aberto,

Caindo do céu em

Rota de colisão com

A mentira tosca e tola

Da paixão.




Escute a música.

Quem está aqui,

Não está mais.

Transborda,

Excede.

Sim, escreve poemas

De amor:

Combustível de ódio

Diluindo o nada.




Sentir.

Sentir na alma, na boca,

Nas palavras ditas deve

Ser mais.

Há de ser mais do que isso.




Sentir é coisa sagrada.








Karla Bardanza