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OUTROS EUS EM MIM

Quadro de Duma




O que me completa
é o ar,
os átomos soltos na eternidade
do agora.

Nunca pensei
que coubesse tanto no vazio.:
histórias, fotografias,
pesadelos, escuridão
e claridade.

Não tenho saudade
de estar dividida
em partes e portos
sem navios.

Quando não há
o fogo, a calmaria
dorme tranquila
em meus confins de silêncios
e flores.
É melhor o que não se sente.

Não há letargia,
inércia
ou medo.

Há apenas a mulher
engolida pela poesia cotidiana.
Aquela que acorda cedo
e vai guerrear sem elmo.
Quando se cansa,
já é mais de 22h00
e a lua já está de pijamas.

A vida segue
e eu sigo atrás dela.
Tiro os sapatos
para sentir a força telúrica,
a estabilidade de ser
quem sou
e vou andando.
Às vezes, cansada,
às vezes, febril.

Nada importa
além da segurança
e do sustento,
do salário certo,
das coisas que solidificam
e fazem sentido.

A vida nos acomoda
e incomoda.
Estou no mundo
e o mundo não está em mim.
Aqui dentro,
existências múltiplas,
missões para finalizar.
Aqui dentro,
uma vontade louca
de ser mais leve
que o ar.



Karla Bardanza






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TEU QUASE POEMA DE AMOR

Quadro de Josh George



Espremido de abandono
vai o amor pelas ruas desconhecidas
onde um carro estacionado
nos faz reféns da noite.

Minha pele abraça a tua
sem pudor, meu rosto
canta praias, palavras, pensamentos.
(meu rosto é uma dor que não vês)

O vento carrega as ondas
para dentro do que deixamos
de ser...
(...porque foi mais fácil assim)

Beijo tua boca com gosto
de fumaça e adeus,
e um deus desconhecido lá dentro de mim
me avisa que já está na hora.

Naquele carro,
ficou o meu perfume barato,
um pouco do céu
e dos teus olhos sempre quase meus.
(Havia tanta tristeza em ti...)

Levei pouco em mim
também: apenas o necessário
para saber dizer nunca mais...
...mais...

Fostes amado
como eu não sabia.
Fostes amado
pelo meu perdão,
pelas minhas desculpas,
pela culpa cimentada
aqui dentro.

Fostes amado
pelo tempo
que senta no sofá da sala
e me acompanha todos os dias.

Fostes amado
pelo amor que ainda te ama.

O que restará do céu
sem as contelações de Touro e Escorpião?

Um dia, sonhamos
com possibilidades, signos
e sinastria.

Um dia...
(mais...)
Um dia.






Karla Bardanza





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A IRMÃ MAIS VELHA DE BARBIE

Quadro de Veronique La Perriere






Todo dia 
ela tenta parar de tentar ser
a irmã mais velha da Barbie.
(Mas não consegue)

Devora revistas,
anota dietas,
vai mil vezes à academia
e volta para casa
alguns quilos mais magra
e sem nehuma poesia.

Quando se olha 
no espelho quebrado
do banheiro,
vê apenas as unhas roídas,
a pele seca,
os seios mortos,
a flacidez da solidão.

A tirania da beleza
é o saldo diário
da busca pela eterna perfeição.

Ela corre,
corre 
e não sai do lugar.

Ela morre,
morre
de tanto suar.

Ajeita os cabelos,
faz a pose certa,
busca o macho alfa,
o príncipe encantado.
(Mas não o acha)

Quando relaxa,
encontra pouco nos
seus olhos do que 
já foi no passado.

E agora
que é uma outra versão
moderna de si mesma,
não passa de um erro
danado.




Karla Bardanza


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O AMOR É LÍQUIDO

Quadro de Molly Schmid



Acariciando os cabelos de minha filha com Dengue, lembrei de uma frase que li em algum lugar: "belo é tudo aquilo que se contempla com amor". Eu contemplava a minha obra com emoção, com uma emoção estranha que pertence apenas as mães. Estávamos mais uma vez no hospital, esperando o quinto exame de sangue e mais uma nova bolsa de soro. Por alguns minutos, observei as pessoas ao redor e o quanto ficamos calados diante da tragédia do desabamento aqui no Rio de Janeiro. Todos os olhos estavam ali, naquela tela que vomitava verdades perigosas. Intimamente, transbordei de gratidão pela vida ter me dado a dor que posso suportar e sofri pelas mães que perderam suas crianças nessa história sem autores ou culpados até agora. Sei que todos que estavam ali lamentaram também porque nada nos resta além da tristeza e das orações diante da perda do outro.

Não há dor maior do que a da mulher que chora pelo seu pedaço que se vai. Ainda posso ver e ouvir a minha avó na exumação de meu tio: "olha o que restou do meu filho...do meu filho...". As lágrimas caindo como chuva que dói...O amor é líquido. Damos o nosso sangue, guardamos nossas crianças em nossas barrigas cheias de água quente e aconchego, amamentamos, dando o nosso amor branco, hidratamos quando estão doente, abraçamos e beijamos quando choram e choramos juntos também quando já estão adultos e não podemos colocar no colo.Ó amor é líquido, sim. E a água que sai dos olhos quando só nos resta isso diante dos tropeços do destino: esse menino sem orientação nem mãe.

Abracei minha filha e a segurei com força. Viver dói, mas é um milagre impressionante, uma dádiva que nos foi dada com a confiança de que estaremos aqui para honrá-la com sabedoria. Estamos todos a caminho...do amor ou da dor...Nem sempre cabe-nos escolher. O importante é fazer a nossa parte mesmo quando é o destino que está fazendo a dele e nos tirando o que sempre vai ser nosso. Quando olharmos para trás, não choraremos por arrependimento, mas sim pela alegria que se foi sem a nossa permissão. Choraremos de saudade. E mais uma vez o amor será o líquido que derrama dos olhos do coração.




Karla Bardanza








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DE CORPO ABERTO

Quadro de Lorella Paleni




A palavra olha para mim
e me completa,
beijando os limites da minha pele,
amparando a minha cabeça
 interestelar que ainda
escreve o que não sabe
ousar.

Excedo
as fronteiras invisíveis da alma
e cresço para dentro,
para além da Via Láctea
e do tempo,
dissolvendo o céu em letras,
em coisas definitivas e vivas,
em fogo e água,
em terra e ar,
em elementos ao meu redor.

De corpo aberto,
estou menos só
porque transcender
é ir sempre além do que
os meus olhos podem
quando nada já podem.

A vida seca
nos meus lábios,
minhas mãos doem
e tudo se consome
em metáforas,
em palavras com fome
de mim.

E eu,
e eu
quando não sou mais eu,
sou eu enfim.




Karla Bardanza



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FORÇA

"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras coisas."
caiofernandoabreu



Quadro de F.A. Moore






Ainda bem
que hoje já passou
e que amanhã já
é agora.

Ainda bem que
posso ser algo que nem sei
mesmo quando o
abismo olha para mim
e me sorrir.

Porque se eu cair,
não vou desapontar o céu.
Lá de dentro
vou contar as estrelas,
vou me salvar
de mim mesma,
vou acreditar que amanhã
vai ser sempre,
sempre
melhor do que hoje.



Karla Bardanza










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PELO AVESSO

Quadro de Katie M Berggren




O amor como descoberta
entrou em mim quando pari.
Ela me dá gana de ser do tamanho
do mar, do céu.
Ela me dá vontade de ser definitiva.

Quando chegou,
já chegou plantando emoções 
e idéias rosas em mim,
me dando as cicatrizes da liberdade
e eu fiquei assim
afrontando o vento,
solidificando castelos no ar,
brincando com o tempo.

O amor como verdade
só fui saber quando deu a hora.
Ela saiu aqui de dentro
e o meu coração ficou para sempre
 batendo do lado de fora.



Karla Bardanza


Caros Leitores,


Não tenho conseguido postar assiduamente porque minha filha está doente. É mais um número na estatística que engorda a Dengue. Estou sem ar nem inspiração. Desculpem-me.











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SEM PRESSA

Quadro de Carolina Westerhout




Abri a gaveta,
os problemas caíram nos meus pés.

Peguei um por um
e coloquei-os de volta com as mãos
sujas de ontem.

Não tenho pressa.
A vida que me resolva.

O meu futuro sempre
chega atrasado mesmo.




Karla Bardanza





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CAROS LEITORES

O BLOG FICARÁ FECHADO ALGUMAS HORAS PARA UMA NOVA MUDANÇA.

OBRIGADA

KARLA BARDANZA





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PEDAÇOS E RESTOS

Quadro de Barbara Issa Wagnerova



o que se perdeu de mim
foi o que eu nunca tive:
o calor das coisas vãs,
a insensatez doce dos
meus olhos desfigurados,
a fuga do céu.

o que se perdeu de mim
foi apenas o que não teve
nem começo nem fim:
os adultérios tímidos da lua,
a eclipse total do amor,
a flor orvalhada à noite.

o que se perdeu de mim
foi apenas o não
quando a minha blusa desabotoada
não te disse sim.

E quando olho 
o que me resta,
sigo perdendo outros tantos pedaços
que morrem mansos,
que morrem loucos
no espaço.




Karla Bardanza





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LITURGIA

Quadro de Natalie Shau




Guardo milhares de metáforas
em meus cabelos.
Elas estão presas pelos fios tênues
do meu nada.
(sou sempre melhor quando esvazio-me de mim 
em minhas próprias liturgias)

Olho por cima dos ombros
e os sonhos falam uma língua que preciso decifrar.
Eles chamam o que não há mais no meio
dos meus olhos,
eles dançam na serpente que trago
no fim de mim.

Quando meus pensamentos esbarram na eternidade,
é sempre tarde para eu ser o que deveria.
Ponho as mãos no rosto
e sou apenas uma mulher.
(eis ai o mistério da fé)


Uma mulher como outra qualquer.


Karla Bardanza





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UPGRADE NA ALMA

Quadro de Wladyslaw Theodor Benda





Não se incomode se
eu tirar aquele ar trágico do rosto.
Depois de tantas indas e vindas,
meus olhos cansaram de estar
sempre agoniados, esperando
a volta dos que não foram
porque nunca estiveram aqui.

Faz de conta
que você pode se acostumar
com a minha cara de paisagem,
tipo que-se-dane-seu-filho-da-mãe.
Faça um esforcinho básico
para não ficar down quando
o meu novo rostinho estiver no ar,
dando mais ibope do que aquela cara
de sofredora de plantão.

Sabe que estou gostando
deste upgrade na alma.
Liguei o botãozinho do que se dane;
fiquei mais calma,
mais distante,
mais confiante,
mais alguma coisa que eu nem sabia
que podia ser.
(essa minha mais nova versão é um espetáculo!)

Só resta agora,
falar com todas as letras
para você...
(cara/o leitora/or pode completar:
adoro a estética da recepção!)



Karla Bardanza




A Estética da Recepção ou Teoria da Recepção propõe uma reformulação da historiografia literária e da interpretação textual, procurando romper com o exclusivismo da teoria de produção e representação da estética tradicional, pois considera a Literatura enquanto produção, recepção e comunicação, ou seja, uma relação dinâmica entre autor, obra e leitor.







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VIAGEM

Quadro de Juan Bautista Nieto




Meus sentidos querem a caridade dos céus,
as coisas mansas que habitam palavras que
ainda nem aprendi a falar.

Há tanta mágica nos silêncios, nos mistérios atrevidos
não escritos, em tudo que chega um dia 
mais cedo:
a alma respira duplamente.

E tudo me sente.

Vivo para além,
para chegar lá onde eu me transformarei
em amor.
Aqui é por enquanto.

Quando eu chegar
onde eu tenho que chegar,
quero estar sem bagagem nas mãos
porque nelas estará apenas
o meu coração.



Karla Bardanza









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AMARGO DOCE, DOCE AMARGO

Quadro de Erika Yamashiro




Tua mão hostil ainda rasga a minha armadura de pano,
com as mãos cheirando a doces,
a soluços e convulsões.


A flor da pele estou quando as estrelas dormem
e me confudem, e confudem as minhas pernas
com as tuas que nem estão mais aqui.
Isso é inominado, isso é uma mina escondida
dentro da minha vida desassossegada,
isso é uma revelação do mais nada.

E se me guardo, não me guardo de mim mesma.
Soco o ar, não querendo sentir, faltando sabores na boca
...e...
...e...

Porque amar com intervalos
é como pecar pela metade
e eu preciso do erro inteiro
para ser feliz.
Quero cair com a certeza
de que não cai em vão.
Quero lembrar do meu coração
com doçura:
o amor tem que deixar um gosto
doce na boca da alma.

Mas você, 
você é um ser imaginário,
um mito acordado dentro de mim,
uma coisa que não me deixa ser,
um gosto amargo é febril.

Mas você...
é um amor para a vida toda,


Karla Bardanza








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CENA URBANA

 Quadro de Chloe Early





Bebe-se na mão do abismo
as gotas insanas do agora.
Palavras conspiram no peito,
sombras deliram nas horas inquietas.

Esvai-se a suavidade das mãos
enterradas na areia eternamente morna.
Os prédios contemplam os olhos lá de baixo
ardendo como insensata chama.

Queda-se a esperança sem voz,
sucumbindo ao grito final.
O que fica espatifado no chão
é sempre mais do que os cegos podem ver.




Karla Bardanza



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A ÚLTIMA MORTE DE VÊNUS

Quadro de Ernesto Arrisueño



Ele anda na poeira dos dias,
procurando fora o que nele falta
como se soubesse desabotoar
a mágica que debruça nua sobre
o decote generoso da lua.

Ele mente para as palavras,
atirando a esmo adjetivos
que não servem mais
como se pudesse mirar no alvo
sem atingir as nuvens ao redor da paz.

Ele fuma a vida com angústia
e medrosa rapidez, comendo
o ar, espalhando suas dúvidas
como se fossem fumaça de uma
única estranha vez.

Ele não tem tempo para olhar
as profundezas do querer nem
mesmo para se ver chorar. 
Ele confundiu Vênus de repente
e a empurrou para a última morte.

Ele não tem sorte porque
da sorte não é parceiro nem vencedor.
Ele é apenas um cavalo sem sela
despetalando a flor da flor.


Karla Bardanza







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HORAS COM CARA DE NOTA SUICIDA

 Quadro de Mauro Cano


O que me faz mal é a palavra na boca e o papel vazio, é o coração solitário cheio de luxúria, é o medo disfarçado de bicho solto. Nestas horas com cara de nota suicida, a vida incomoda, cospe em mim com tanta covardia que eu nem tenho coragem de revidar. Fico ilhada em minha sordidez e maldição com as mãos crispadas, com os olhos estilhaçados.

Tenho andado com o nervo exposto, com as lágrimas na pele, submersa em minha confusa confusão, esperando o julgamento dos Deuses enquanto me sinto um cão sem dono. Ando de um lado para o outro, esperando o meu próprio eclipse. Sou uma lua perdida pelos céus do ontem, amordaçada pelas nuvens, sem gravidade, sem gravidez.

Para onde vou dentro do labirinto de flores? Para onde vou quando tudo me faz morrer? Para onde vou quando tudo me faz não ser? Queimo em chamas frias, ardo em labaredas fracas: o meu fogo não me preserva das minhas próprias atrocidades e, enquanto caminho nas horas, esfaqueio a saudade.



Karla Bardanza


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DESAVERGONHADAMENTE FELIZ

 Quadro de Dick Pieters




A vida continua e não importa o que dói aqui dentro. Vamos arrastando os braços, as pernas, o coração, o pouco que restou da alma. Vamos andando em areia movediça sem nenhuma certeza de que vamos chegar lá mas, nem mesmos nós sabemos onde esse lá é, tampouco, se estamos no caminho certo. O importante é fazer da travessia sempre uma descoberta, um reencontro, um renascimento. O importante é crescer para dentro e ficar maior do que o teu próprio sonho. A vida pode ser ainda se a vida está viva. Morrer não é apenas estar enterrado. Morre quem anda sempre de olhos fechados, quem esqueceu a alegria no banco de trás do ônibus, quem não sabe mais quem é quando se olha no espelho porque se perdeu de si mesmo.

Ser feliz exige uma coragem danada, uma vontade que muitos já não sabem como exercer. A gente fica cansado de tentar, de buscar, de correr atrás do vento. Leva tempo para aprender que a vida ainda é a resposta quando tudo agoniza. Leva uma eternidade entender que não precisamos segurar o vento com as mãos mas, apenas sentí-lo no rosto. No entanto, temos que dar uma chance não apenas ao mundo mas, a nós mesmos. Temos que crer que apesar dos joelhos esfolados e de termos perdido nossos melhores pedaços, podemos levantar e seguir nossa trajetória. Isto não é uma visão romântica da vida. É apenas a necessidade de sobreviver a si mesmo e continuar sem escutar o não lá de fora. Dizer não é mais fácil do que dizer sim. Quando digo não, protejo-me das decepções, não dou a minha cara a tapa. Agora, o sim implica em tantos desafios porque exponho-me e nunca sabemos as consequências reais. Tudo na vida é uma questão de não ou sim. Então, vá lá e diga sim a você mesmo primeiro. Aceite suas inseguranças, erros e medos sem culpa: ninguém é perfeito. Depois, procure a tua felicidade sem se importar com o tempo. Ele é nada mais do que um conceito. E acima de tudo, não perca de vista o teu coração. Quando deixamos de sentir, deixamos de ser.

Faça-me o favor: viva pelo amor de Deus e dos Deuses e seja desavergonhadamente feliz..


Karla Bardanza








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NOS OLHOS DE QUEM VÊ

Quadro de Kathrin Longhurst





Parou e finalmente olhou-se pela primeira vez:
"Espelho, espelho meu,
existe alguém mais feia do que eu/"

Precisava culpar-se, achar suas imperfeições.
Vasculhou seu rosto, seus grandes olhos milagrosos,
cada pelo, cada poro, cada parte de seu corpo
que lhe fazia ser ela mesma.
Olhou-se exaustivamente até encontrar a sua singularidade.
Percebeu que tanto a beleza quanto o defeito
estão nos olhos de quem vê.

"Espelho, espelho meu,
será que posso ser reduzida a um clichê?





Karla Bardanza






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QUANDO O MEU CORAÇÃO FOI ACORDADO PELOS POEMAS DENTRO DE VOCÊ

Quadro de Valentino Ciusani





esvaziei a cabeça
olhando os teus novos retratos,
contemplando os teus olhos ainda aflitos,
relendo os nossos velhos tratos,
relembrando os mesmos conflitos.

pareces o mesmo homem
com muito menos poesia.
pareces ainda o meu menino,
o mesmo que me roubou o dia
 escrevendo o soneto mais divino
enquanto eu ainda fingia.

e eu que te ensinei a amar
quando amar já não sabias,
e eu que te fiz morrer e renascer
quando você todo já se perdia,
sou nada menos do que posso escrever.

o que temos agora
é o que na verdade nunca tive.
restam porém os poemas, as cantigas, as baladas
daquilo que ainda se revive
e me tornou imortal e encantada
quando dentro do amor estive.

restam as palavras expostas,
a fria delicadeza do que se pode ler.
quando o meu coração foi acordado
pelos poemas dentro de você,
pelo teu amor que ainda me é sagrado,
por tudo que nunca pudemos viver.

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Karla Bardanza





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TRISTEZA APENAS

Quadro de Mary Alayne Thomas





Não é hora de ir ainda.
Fique mais um pouco,
ouça o vento chorando
dentro do meu peito já
tão desapontado.

Não é hora de caminhar
para o norte, de deixar
as esperanças para trás,
de sair devagar.

Alguns vôos são tão eternos,
tão ternos, tão sangrentos.
Tento entender.
Tento.

Gostaria que ficasses,
que escutasses o mar
dentro dela.
Gostaria que olhasses
além dos olhos.

Fique aqui,
aprendi a sorrir contigo
porque fizestes o amor sorrir.
Aprendi coisas que
calam as estrelas
com as tuas palavras amuadas.
(Eu sei o que te moveu)

Não vás ainda,
não feche o céu:
aquele coração é teu.

O que perdemos
foi tão maior que os oceanos.
O que dizer
quando se perde um filho?
Quando a mágoa é maior do que a dor?
O que falar quando a vida
já não cabe no amor?




Karla Bardanza






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QUANDO CHEGARES NO FIM DO DESEJO E NO INÍCIO DA MINHA VERDADE

Quadro de Ian Daniels





Quando você puder crescer
para dentro e deixar a gentileza
nascer do vento.
Quando você puder me dizer
o que ninguém disse ou ouviu.
Quando você honrar as estrelas
e a grande mágica de todos os dragões.
Quando você entender
os limites que não existem mais
entre a tua vã filosofia e a poesia 
nua da lua.
Quando o êxtase do meu espírito
for igual ao teu.
Quando tiveres em tuas veias
o Vinho da Vida.
Quando dentro de ti habitar
a beleza e a força, poder e a compaixão,
a honra e a humildade.
Quando segurares o vento com as mãos.
Quanto conseguires chegar no fim do desejo
e no início da minha verdade.
Poderás ser o meu mestre
e eu te honrarei pois, o que podes me dar,
não me dáras se não achares em ti
todas as palavras que reverenciam
o amor e o grande mistério das águas.






Karla Bardanza






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