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MEU PAI ENTRE AS FLORES


Meu pai era um homem diferente.Todos os sábados, religiosamente, ele comprava flores para minha mãe.Eram muitas e muitas flores, de todos os tipos, de todas as formas.Era um mundo de flor!Às vezes, nem tínhamos jarras suficientes para hospedar tantas rosas, palmas, lírios, jasmins, crisântemos,copos-de-leite, margaridas e etc.Como eu era adolescente, achava uma perda de tempo tudo aquilo, especialmente, porque era a minha responsabilidade arrumar todas elas.Eu detestava!Reclamava como toda adolescente, porém fazia o que tinha que fazer, cheia de má vontade.Era um martírio para mim...Mas, em minha casa, todos tinham tarefas a cumprir.Depois que meu pai se foi, os próprios feirantes guardavam as flores para a gente.Adoravam o meu pai.Ele ia à feira e fazia uma festa.Todos o conheciam.Porém, era muito sofrimento para minha mãe vê-las.Então, nunca mais tivemos aquela beleza em casa.Lembro que no dia do acidente, ele primeiro foi fazer a feira e levar a s flores para minha mãe para depois viajar...Foi a última vez que vi meu pai com vida...Fiquei muito tempo sem ver qualquer tipo de flor.Muito mesmo.Tempos depois entendi o quanto tinha aprendido com o meu pai.Conheci cada flor, seu nome, sua beleza.Aprendi a simetria e como fazer arranjos.Acima de tudo, aprendi a ter paciência porque para tornar uma jarra bonita de se ver, você precisa ter muito.Não é apenas pôr água no vaso e jogar a coitada.Tem que arrumar com delicadeza e se tiver mais de um tipo, tem que haver equilíbrio e uma bela combinação.Na verdade, é quase uma terapia. E esse fato marcou minha vida, tanto que o nome de minha filha é um nome de uma flor.Toda vez que penso no meu pai, penso nele entre as flores.Onde quer que ele esteja lá no céu, deve haver um roseiral...Deve haver um monte de jardins...Saudade sem fim, Pai...Saudade nunca tem fim, Pai...Sempre fostes um homem de coração de flor...Sempre...


Karla Bardanza

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