Caro doutor,
estou cansada
e o meu fígado
também.
Atualmente acho
que existo nas horas vagas,
quase largas
se não fossem as muitas
restrições.
Respirar, eu sei que posso.
Sabe doutor,
estou desanimada
e o meu fígado
também.
Existo mas não porque penso.
( sempre achei Descartes um chato)
Existo mas não penso,
nem quero pensar.
Preciso apenas ver
e sentir.
O real ataca as minhas células
hepáticas incessantemente.
O real me dá um golpe de judô
e eu me sinto menos gente todo dia,
toda hora.
Talvez eu vá embora de mim.
Se eu fizer isso,
não vou precisar dos remédios.
Estranho não terem encontrado
um antídoto contra a decepção ainda.
Ofereço-me para possíveis testes.
Caro doutor,
não fique zangado:
até eu mesma não me entendo.
Às vezes,
não entendo qual é a diferença
entre a vida e a morte também.
Estou aqui diante do senhor,
ouvindo essas verdades
e sem pensar.
Amanhã doutor,
amanhã eu ligo.
Vou sobreviver
a mais isso.
Vou seguir a dieta
com bravura e lealdade.
Vou fazer todos os exames
e os anti-virais.
Prometo que vou viver
um pouco mais.
Karla Bardanza
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