Quadro de Mauro Cano
O que me faz mal é a palavra na boca e o papel vazio, é o coração solitário cheio de luxúria, é o medo disfarçado de bicho solto. Nestas horas com cara de nota suicida, a vida incomoda, cospe em mim com tanta covardia que eu nem tenho coragem de revidar. Fico ilhada em minha sordidez e maldição com as mãos crispadas, com os olhos estilhaçados.
Tenho andado com o nervo exposto, com as lágrimas na pele, submersa em minha confusa confusão, esperando o julgamento dos Deuses enquanto me sinto um cão sem dono. Ando de um lado para o outro, esperando o meu próprio eclipse. Sou uma lua perdida pelos céus do ontem, amordaçada pelas nuvens, sem gravidade, sem gravidez.
Para onde vou dentro do labirinto de flores? Para onde vou quando tudo me faz morrer? Para onde vou quando tudo me faz não ser? Queimo em chamas frias, ardo em labaredas fracas: o meu fogo não me preserva das minhas próprias atrocidades e, enquanto caminho nas horas, esfaqueio a saudade.
Karla Bardanza
Nenhum comentário:
Postar um comentário