Por enquanto
falo por quem não tem
vez nem voz:
a identidade subjugada,
um eu que se pensa maior.
Não, não olhe:
não estou só.
Por enquanto
a minoria segredada,
o abismo para a diferença.
Mas, eu e você somos o outro
e outro não é apenas o outro.
Ele é ele mesmo, único, singular.
Não, não aponte o dedo.
Não me faça calar.
Por enquanto
a luta e o direito que
não é exercido, o conflito,
o dito pelo não dito.
Eu estou aqui.
Eu estou no mundo.
Todo amor tem nome de respeito.
Por enquanto
a visão esquálida
do que seja o meu universo,
o verso amuado.
Por enquanto, por enquanto.
Porque sou negro.
Porque sou mulher.
Porque sou índio.
Porque minha religião não é a tua.
Porque minha face nua te assusta.
Porque amo quem amo.
Porque o dinheiro é pouco.
Porque sou louco.
Porque sou gordo,
Porque sou magro,
Porque sou baixo,
Porque minhas pernas são rodas,
Porque não sou apenas mais um.
Sou mais que um, sou tantos,
sou muitos, sou todos.
Porque acima de tudo
sou gente, sou gente.
Olhe agora.
A tua hora é a minha.
O tempo não se fez diferente
para mim.
Por enquanto
o não, a porta quase fechada,
o soco na cara, a pedrada,
a morte sem perdão,
a intolerante intolerância.
Porque as diferenças não são
diferentes.
Porque somos todos gente,
apenas gente.
Os mesmos anseios, as mesmas
lágrimas, a mesma dura tarefa
de viver:
ele, ela, eu,você: nós.
Por que estamos sós
e amarrados por estes nós?
Karla Bardanza
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