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ASSIM QUE EU TIVER UM TEMPINHO

Não consigo meter
o meu cansaço nesse poema.
Nele não cabe as costas doendo,
o estresse, a depressão,
esse desconforto inesquecível
nas mãos e nos pés,
depois de um dia inteiro
dentro de uma panela de pressão.

Não há nenhuma rima
que possa com tantos calos nas mãos
e na alma impura, 
não há nenhuma metáfora
para expressar a exaustão dos impotentes,
os olhos que fecham à minha revelia
diante da poesia inesgotável
das águas e das mágoas.

A cama me aguarda como
uma amante doce e deliciosa.
Entrego-me.
Amanhã será igual a hoje
como uma noite no meio
e os tolos receios de sempre.
Por que será que mesmo assim,
ainda acho a vida algo variável
em sua mesmice?
Por que continuo a ficar perplexa
diante do que sempre é?

Meus neurônios já começam
a se cobrir,
meu corpo não mais me obedece.
Vou responder as minhas perguntas
amanhã entre um relatório e outro
ou assim que eu tiver um tempinho
entre ônibus lotado e um cafezinho.
Boa noite.



Karla Bardanza










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