Quadro de Alphonse Mucha
Ontem, sentada, sozinha,
tive medo:
não um medinho.
Mas, esse tipo de medo
que apenas as crianças sentem.
Minha mãe lá dentro,
em mais um exame
e eu do lado de fora, congelando
junto com as outras pessoas
na sala cheia de portas
e desasossego.
Um casal chegou com o seu bebê,
uma mãe com o seu filho adolescente,
senhoras, senhores,
gente, tanta gente.
Li uma revista, fingindo
não perceber o meu abandono.
Subitamente, lá estava eu com oito anos,
esperando minha mãe na porta
da escola, com as unhas roídas,
pensando: "Mãe, cadê você?"
Quatro horas de angústia,
uma eternidade,
um século.
Não vi quando minha mãe
saiu lá dentro.
Meus olhos estavam fechados,
olhando para dentro,
olhando a praia e os peixinhos
que sempre observávamos
ou mesmo as estrelas e as nuvens.
Minha mãe me ensinou a olhar.
Senti o abraço dela,
o sorriso feliz.
Minha mãe estava ali comigo,
de novo.
O exame foi difícil, doloroso.
Porém, minha mãe estava ali,
de volta,
de volta,
de pé,
na minha frente.
na minha frente.
Olho para ela,
e vejo todo o meu passado,
toda a minha vida,
todas essas coisas que o amor
entende.
Saímos sem pensar
no que irá acontecer.
Saímos felizes
e leves.
Descemos pelas escadas
e não sei bem como explicar isso,
mas acho que minha mãe
estava iluminada.
Karla Bardanza
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