Quadro de Brenda Burke
Enquanto enfia as mãos fracas
na areia morna, buscando
a umidade fria que está no ventre
da terra, ela fecha os olhos,
respirando calmamente,
sentindo tudo que poderia sentir,
absorvendo com fé
a música escondida da vida.
Seus pensamentos são flechas
cruzando a mente, atigindo
e
errando todos os alvos.
Ela não queria pensar.
Estava ali apenas para abraçar
aquele momento,
para ser apenas um sonho novamente:
um sonho que não sabia como mais sonhar.
Determinada a fingir que a quimioterapia
era apenas uma palavra destinada ao esquecimento,
ela abre os olhos, procurando conchas
e marias-da-toca na areia,
sendo ela mais uma vez.
O marido estava logo ali,
atrás dela, a observando com os olhos
cheios de palavras angustiadas
e eternidades:
ela sempre soube que aquilo
que havia entre eles era maior do que a morte.
e sobreviveria com força, com delicadeza.
Estranho ficar tão consciente do que é
o amor quando se está morrendo.
Por alguns instantes,
ficou parada, observando as nuvens
formando histórias e imagens
e sentiu uma gratidão esquisita e poderosa
abrir e abraçar o coração,
carregando-a para um paraíso diferente.
Ela não sabe se irá voltar àquela praia
virgem ou mesmo ver as gaivotas novamente.
Ela não sabe nada do amanhã.
Amanhã é amanhã e ponto final.
Mas, bem agora, ela está ali,
lutando ainda, desafiando o destino,
triufando onde não há triunfo
e isto é suficiente.
Karla Bardanza
Para T.J
A vida ainda está aqui. Resta tanta coisa ainda. Seguir em frente é sempre difícil, sempre doloroso. O medo assusta, nos empurra para a escuridão. Cabe-nos viver da melhor maneira possível, mesmo que estejamos duvidando de nós mesmos, de nossa capacidade e força para suportar o que é insuportável. O abismo está tão perto. Olhe mais uma vez o relógio e permita-se encontrar o melhor dentro e fora de você. Feche os olhos, abra de novo. Você fechou: a vida morreu. Você abriu e a vida está viva, te olhando no fundo da alma. Siga em paz.
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