Quadro de Marina Podgaevskaya
Estou cumprindo com fé
a minha obrigação de sentir dor
sem parar muito para pensar
porque ela está aqui
ou se a mereço.
Não questiono mais essas coisas
ou justifico-as.
(Não as aceito também)
Sinto e pronto.
Há poucas chances
de mudanças nesse momento.
Sei que a mesma dor de hoje,
vai continuar amanhã.
Sei também que não vai
doer menos, nem mais.
Talvez eu tenha me acostumado
com a farpa embaixo da unha,
com a bolha em carne viva,
com a vida sempre me deixando
na mão.
Um dia,
serei forte
e terei um espaço apenas
para tudo que é bom,
que vale a pena guardar.
Por enquanto,
o silêncio do que dói,
a inevitabilidade de ser eu mesma
com as minhas manhas e mazelas,
as águas negras do meu inconsciente
afogando a mulher.
Um dia,
(quem sabe...)
não valorizarei tanto
os meus abismos
ou os meus achismos.
Um dia,
serei tão leve
que a dor nunca mais
vai pesar.
Karla Bardanza
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