Quadro de Jenny Laden
As palavras não me entendem, não me definem. Tenho andado vazia de adjetivos e emoções. Creio que a minha garganta engasgou com algum sujeito indeterminado ou a minha vida perdeu o singular. Ando plural. Ainda não sei se isso é bom. Minha sintaxe está doente e cansada. Deve ser o final do ano se aproximando com essas coisas inexplicáveis da semântica que vive buscando significado no que já perdeu a significância.
Tenho vivido em função dos numerais e das interjeições: ai! Ui! Oh! E não sai nada mais da minha boca. Só do bolso. Sei que estou monossilábica ultimamente. Essa economia é tudo que tenho na ponta da língua e do coração. O que será que houve comigo? Tenho me sentido muito objeto. Indireto, é claro. Tenho vivido procurando coesão e coerência e, no entanto, estou assim precisando de um complemento (pode ser verbal ou nominal: ainda não sei também). Quem sabe uma oração possa me salvar? Que seja coordenada e (in)subordinada.
Tenho urgência de predicativos, de amores vivos, de um novo pronome. Nós é tão lindo! Careço de um vocativo: venha logo, amado!
Meu português está pela metade. Tomará que acabe logo essa minha fase de oração sem sujeito, de intransitividade. Esse negócio de não precisar de um outro termo que me complete estã me deixando louca, rouca, pouca. Ainda bem que tenho as rimas...Mas, o que rima com essa falta de mundo?
F
U
N
D
O
No fundo do poço, estou. Pelo ao menos, o verbo estar é transitório. Que seja rápido então!
Karla Bardanza
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