Não me aches.
Escondo poções e livros nas pontas dos dedos
: algo de mágico ainda pode me iludir, guardei
o mundo nas prateleiras, no relógio quebrado.
Não ouço o futuro e suas cobranças na porta.
Não me busques.
Ficarei perto dos olhos da lua, ficarei nua.
Há tanta liberdade na poesia. Colherei tempestades
em tardes quentes, em noites de labirintos
: mornas panelas dormem cansadas no fogão.
Lavo as mãos.
Não me entendas.
Este meu estranhamento é apenas a minha voz.
Não sei dizer nem quando digo e se digo, algo
fica no meio da garganta, algo desce sem vez.
Deve ser o eco das noites viúvas, das manhãs
em que tento ser um anjo sem asas.
Não me ame.
Aprendi com os poetas gregos a ser cega. Apenas
assim posso sentir e escrever o que sinto. Não
vejo mais nenhuma verdade absoluta. Meu corpo
sente as vicissitudes que escorrem pelas palavras.
Não sei definir o amor porque ainda não sei amar
certo.
E no entanto, te amo como se eu soubesse a bela
diferença que me faz brotar como flor e jardim.
Não me sinta.
Mas se sentir, sinta-se dentro de mim, de mim.
Karla Bardanza
Nenhum comentário:
Postar um comentário