Quadro de Diego Fernandez
Não me ames
com as mãos sem poesia.
Preciso das palavras
que estão ainda na garganta da serpente,
nas coisas que eram
quando você era de repente.
Aquela delicadeza escondida
faz-me pensar que quem morava ali
fugiu por obrigação,
para cumprir o melhor papel.
Virgem para mim
é quem pertence a todos
sem pertencer a nenhum.
O privilégio que tivestes
eleva-te a ser mais um
na escala Richter do tabu.
O que amo em ti
é o poeta empoeirado,
o homem desvairado
que ainda pode beber a noite
e recitar o céu.
Nossos passos alargaram-se.
Não sabes mais como
roubar o fogo como Prometeu
e eu continuo a ser Pandora,
abrindo caixinhas
por mera curiosidade e vocação.
Confesso apenas
que reverencio
o que ainda permanece
quando nossos olhos encontram-se
na curva.
Estou fazendo as malas
e de mudança.
Você não sabe mas eu não posso
confiar num deus que não sabe como dançar.
Espero apenas
que seja indolor esta viagem.
Não sei de onde tirei
tanta coragem para amar
alguém tão diferente de mim.
Não me queiras
sem a exata consciência desta grandeza,
sem desvario ou ousadia.
E quando eu me for
(e isso já está agendado),
lembre-se apenas que a poesia
ainda precisa de ti.
Com amor.
Karla Bardanza
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