Quadro de Ennio Montariello
De tanto insistir,
desisto.
Passos miúdos,
uma fuga quase real.
Depois
de entrelaçarmos as mãos,
não há mais espaço
em ti para o agora,
para o que foi perdido.
Sou a única protagonista
ainda neste episódio.
Tempo e dor misturam-se:
é tarde demais para tentar.
(apenas eu não tinha visto
o roteiro.)
Não, não precisa dizer
nada.
Quantos silêncios cabem
no teu silêncio?
Não há lágrimas aqui,
nem profundo desespero.
Não há absolutamente nada
porque não posso perder
o que nunca tive.
O caminho parece longo
entre a tua porta
e a minha.
Nunca me senti tão
ridícula e sozinha.
Sou uma atriz
que perdeu a vez, a voz
e a fala.
Percebo finalmente
quantos anos tenho,
vergo sob o peso do
meu tolo coração,
deixando enfim cair
as tuas digitais
que ainda embaraçavam
as linhas das minhas mãos.
Karla Bardanza
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