Quadro de Gordana Curgus
Sonho horizontalmente
com a toda perfeição
que nunca terei.
Faço abstrações,
reuniões com o meu alter-ego
e nego as muitas palavras que escorregam
de minha boca
diante de todas as possibilidades do real.
Penso no desconforto
de estar sentada do lado
e não de frente,
penso em mim entrando na cozinha
e na reação imediata que causo
quando a minha pele está mais charmosa
e perto da noite,
traço o risco do bordado
mas não tenho a agulha
ou as armas necessárias
para alinhavar o horizonte.
Deito-me distante
e mesmo distante
(mesmo em outros braços),
algo consome a minha vidinha.
Há tanta indelicadeza no sonho
quando ele é incompleto.
Cheguei cedo demais
nesta festa.
Dezoito luas separam-me
do meu deus absoluto.
Quase nada mais tenho
nem mesmo a poesia.
Perdi tanto
que restou apenas
a memória.
Não tenho certezas
salvo aquelas que me deixam
muito mais longe
do que sinto.
Não reclamo:
se você está feliz, eu estou também.
Como é inexoravelmente
triste tentar quando
falta tudo,
quando o mundo parece
resumido em uma só linha.
Alberto Caeiro
ensinou-me a maior verdade
desde que te vi com/sem barba:
pensar em ti me completa.
Deve ser
por isso que estou repleta
de vazios,
ninguém consegue entender
a minha densidade,
nem capturar a minha tessitura
como você.
Te desejo tanto bem
que me faz até mal.
Talvez seja melhor assim
porque
eu vejo o amor desaparecer
dentro do dentro de mim.
Karla Bardanza
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