Quadro de Louise Camille Fenn
Acordo mas ainda estou dormindo. Pego o ônibus tentando ler sempre o mesmo livro, olhando pela janela de vez em quando apenas para ver se algo mudou além do eterno nada. Desço no mesmo ponto, atravessando todas as ruas, toda a falta de perspectiva que mata vagarosamente o que me mantinha viva e vou seguindo sempre em frente para chegar no ponto de partida.
Estou cansada de mim e dos pequenos vazios que moram na igualdade dos dias, nas coisas mornas e frias que alimentam a minha fome triste. Se eu soubesse como sair dessa cama de gato, talvez eu pudesse dar conta das estrelas cadentes e de todos os pedidos que nunca fiz. Já nem sei quem sou eu e se esta que esta aqui é mesmo eu ou se eu não sou mais eu.
Daqui para frente, apenas uma única certeza. Isto não me deixa desolada. O que esmaga o peito é o que não tem remédio porque remediado parece estar. Quem disse que isso era um bem supremo? Onde foi que eu errei? Onde foi que eu errei?Não sei se tenho tempo ainda para responder as minhas eternas dúvidas. Há tantos desacertos, tantas palavras que sucumbiram antes de mim. Não há muito mais para dizer depois que o efeito da anestesia passar. A dor não cede a minha alforria e pequenas verdades.
O regime ainda é escravocrata e a chibata tem endereço certo. Enquanto traço o mesmo itinerário, apenas ela está mais perto, apenas ela vem na minha direção. É triste esse silêncio que antecede tudo que um dia deixará de ser.
Karla Bardanza
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