Quadro de Steve Delamare
Uma solidão selvagem abriu a porta
e sentou no meu sofá, convidando trovões
para aquecer os pés frios
e as palavras molhadas
sem a minha permissão.
Algumas (des)necessárias nuvens choram copiosamente
pelas vidraças da janela e as cortinas estão eternamente
fechadas, pois a escuridão não tem
hora para se despedir.
Casacos casam-se com cachecóis
enquanto a noite esfria o café,
e eu carrego o meu guarda-chuva
retrô de bolinhas coloridas
através das ruas do ex-agora.
Nada espero em junho
além de tirar uma soneca enquanto Perséfone
ou Proserpina para os mais íntimos,
deita-se com o seu homem
cheia de devoção e cuidados.
Hades raptou-a novamente
e a docilidade feroz da chuva
pôs-me na cama mais cedo.
Preciso lembrar-me do mito
e da (in)decente alegria
de estar sozinha em junho -
esse mês grávido de corações nas vitrines
e namorados semi-capitalistas.
O que é junho para uma poeta
inexperiente como eu cuja as pernas
ainda tremem diante do solstícios?
O que é junho para todos mistérios e
sementes de romã que caem
de minhas mãos vazias
de amanhã?
Karla Bardanza
Um comentário:
Bom dia , belíssimo, adorei o poema, e te sigo a muito e as vezes fico devendo um comentario, mas tuas obras são sempre de uma construção e estilo que me agrada, tenha um lindo fds, beijos !!!
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