Quadro de Montserrat Gudiol
Esparramei meus olhos em tuas nuances raras, em teus matizes tão perto do infinito. Ningúem mais pinta o céu dessa forma, realçando as nuvens e as estrelas dentro de mim e todos os pormenores que me pertencem mais, quando as cores são quentes e a vida morna.
Tentei desenhar algo maior na tela: algo que coubesse e guardasse esse sentir, essa vontade de te beijar de olhos abertos apenas para não perder as tuas emoções. Tentei contornar as diferenças, burlar as entradas, subornar o destino. Lembro dos esboços cheios de ousadias e mansidão, das palavras te convidando para o sol, dos olhares sobrepostos quase equilibrando a paisagem bucólica do desejo.
Quase chegamos. Quase. Sinto a luz em mim, ressaltando o agora faminto, as coisas que são porque tem que ser. És um rosto doce. És a delicadeza para a qual eu nunca disse adeus.
O inexorável nunca é um instante de sombras e contrastes. A manhã morre dentro de mim, escurecendo a dor do inevitável. Nada resta mais aqui além do glorioso direito de ter fracassado com honra.
Karla Bardanza
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