Quadro de Ho Ryon Lee
Abaixo as mãos,
procurando a saudade em ti:
uma dura vontade suave.
Nave sem destino,
menino, menino
onde é que você escondeu
isso que já foi meu?
Isso que nunca foi meu?
Menino, menino
estamos velhos,
mais gostosos
e insatisfeitos.
De que jeito começar
aqui dentro mais uma vez?
Vamos mentir?
Vamos nos desesperar?
Menino, menino,
para onde vou
se já não sei mais chegar?
Seguro o calor
sentindo o constrangimento
da fome,
esquecendo nomes,
endereços e códigos de honra
e de barra.
Menino velho,
desaprendemos a felicidade.
Já não sei mais como
brincar com tanta leveza.
Menino, menino
onde foi que perdi
a delicadeza?
Acordo
da vaidade momentânea,
pedindo arrego,
cheia de medo
e de absolvição.
Menino, menino,
deixa eu fugir de mim
e me esconder por detrás do Muro de Berlim.
Menino, menino,
dizer sim ao passado
é assustador.
O amor está em algum manual,
em letras apagadas,
em coisas que já desconheço.
Menino, menino
isso é quase um romance.
E pra isso,
tem preço.
Fecho as mãos,
segurando meu resto de consciência.
Menino, menino,
a gente não pode,
nem deve fazer mais nada
além de pura saliência.
Karla Bardanza
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