A hera dorme no muro,
crescendo para lá
e para cá, sem muita preocupação.
Um ar de desolação
habita aquela casa com janelões
de madeira
e histórias para contar.
Dentro da casa,
há uma dama,
uma mulher nublada
de longos cabelos tristes.
Não sei se a casa
mora dentro dela.
Não sei.
Não sei.
Alguns dizem
que ela já foi feliz.
Tinha os cabelos negros
enfeitados por flores
e mansidão.
Tinha luvas de rendas
brancas e um homem
que sempre segurava
as suas mãos doces.
Quando a vejo,
penso que um dia,
ela sorriu.
O homem já se foi
e com ele, o perfume dela
e todas as flores do jardim.
Aquela mulher silenciosa
é um resto de ternurinha,
uma pétala guardada dentro
de um romance antigo.
O amor quando se vai assim
e deixa tanta coisa para trás
é uma vela queimando
ao vento.
Um dia,
pude vê-la chorando
com uma foto amarela
encostada ao peito.
Suas lágrimas eram
cristais rosas.
Há ainda tanto amor
dentro daquela mulher.
Vi também
que um homem chorava na
fotografia.
Quando os olhos dele
pousavam nos cabelos dela,
ele ainda sentia o perfume
e vivia de novo.
Algum dia,
ele tocará aquela pele
mais uma vez.
Algum dia,
ela soltará os cabelos
enquanto o jardim floresce.
Essa história
não me pertence.
Estou nela por acaso
enquanto o ocaso
cai nos meus olhos calmos.
Nestes instantes delicados,
olho para dentro
e
entendo o quanto aquela
mulher sou eu amanhã.
Karla Bardanza
Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados
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