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EU COM RAIVA DE MIM

 Isabelle Bryer





Conto o dinheiro,
as horas,
as vezes em que esqueci
de ser borboleta
porque ser lagarta era
quase mais fácil.

Escrevo para mim mesma
um improvável poema,
uma coisa lamentável
sobre uma existência
que não está condenada á liberdade.
( porque ser livre dói demais)

Fiz esta pequena escolha.
(Fiz?)
Eu já tinha esse rosto,
essa pele,
essas esquisitices
que quando não me imortalizam
por um minuto,
choram por mim.

Estou numa fase confessional,
assassinando a poesia
e convencendo-a de que
só faltam as rimas.
Estou lucidamente vendo
águas paradas e precipícios saudáveis.

Não direi que amanhã
vou acordar para uma outra promessa:
o sol continuará longe
e tudo será inviolável
como sempre foi,
inclusive a minha falta de respeito
pelos dias melhores.
Eles não virão
com o décimo-terceiro.

Minha agenda capitalista
acorda todo dia cansada,
lenta e desleal.

Amanhã vou contar
tudo novamente
e respirar aliviada
por algo que desconheço.

Não vou mais violentar
a esperança e fazê-la abrir
as pernas para mim.

Se alguém desconfia
que isso não é vida,
fique calado e letal.

Isso é por enquanto.
(Por enquanto sempre foi
uma conjunção subordinada demais
para relacionar as minhas orações)


Karla Bardanza




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