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A VIDA NUNCA DEVE SER PELA METADE

 Dominique Hoffer


Então, você pensa
que o fim está chegando
e já não (des)espera mais nada.
Você está pelo avesso
do avesso.
Um cansaço sem voz te habita,
te mastiga,
te cospe poucas verdades.
Você resiste
e sabe bem que se for diferente,
não há a necessidade de dar as mãos
e pular no abismo juntos
e acreditando.

Medo já não há.
Você está jogando fora tudo
e apostando todas as fichas,
faixas e flexas em coisas
que vão além da sua vâ filosofia,
dizendo para si mesmo
que amanhã você vai acordar mais inteiro,
mais íntegro,
mais.

Mas,
amanhã é luta também
e é luta depois
e depois do depois.
Então, te digo, convencida
que valeria a pena
mesmo se sobrassem apenas nós dois,
mesmo que a faca que está sobre minha cabeça,
fosse enterrada no meu peito de vez.

Eu não vou morrer de joelhos,
nem desertar.
Ficarei dignamente de pé
até o sol abrir o céu
e o sal curar a ferida
porque a vida 
nunca deve ser pela metade,
porque eu ainda acredito
que podemos.


Karla Bardanza
 







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A ÚLTIMA POESIA DA CEGA

Matthew Hindley





Tenho a ligeira impressão 
que este país está morto
e à direita de deus paes todo poderoso.

Coisas grandiosas encolhem 
o meu caminho
e eu já nem consigo conjugar
todos os verbos que cabem
nesta luta.

Ontem 
( e não apenas ontem)
chorei com as minhas mãos
vazias de doçura
cobrindo o meu rosto
e a minha vergonha.

E eu
que nunca conheci nada,
descaminho
porque erro
com vontade e ousadia.

Creio que depois
de nós,
todas as vozes
serão uma única voz.

Mas existem
muitas conjunções em minha frente,
muitos nomes próprios
desclassificando os objetos.

Nunca soube muito bem
como ser sujeito de alguma história.
Nunca fui dada as grandes comemorações.
Quanto as lutas,
sempre as travei com fé
e visão de futuro.

A de hoje,
morre um milhão de mortes
e eu não sei quantas vidas
ainda tenho
ou se blefo mais uma vez.

De tudo isso,
resta-me algo
que não ouso nomear
porque me dói
entender.

E enquanto,
escrevo o indescritível, 
algo agoniza ao meu redor
e eu me sinto bem menor,
bem mais coisa.

Nunca mais
o chão será o mesmo
ou o estrondo terá diferente cheiro.
Nunca mais
minha pátria será onde 
meu corpo habita.

Minha cidadania
de agora em diante
terá apenas um único nome:
 Poesia.


Karla Bardanza



Para as minhas companheiras e companheiros de luta.Amo a minha profissão.




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