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NO COLO DAS ÁGUAS



Aquelas águas espremiam a tarde,
abençoando o horizonte
fechado, as coisas guardadas
em impossibilidades.

A correnteza insatisfeita levava
quase tudo, menos as palavras
e as promessas.
Oceanos inteiros dormiam
dentro daquela mulher.

Por um tempo inconfessável,
ela ficou imersa em sua própria
solidão, esquecendo o corpo
no sal da vida, nas profundezas
misteriosas da morte.

Depois de tantas marés vazantes,
ela sentia as ondas a arrastando
para algo bem maior do que ela,
para essas coisas que são quase
divinas e inquestionáveis.

Sentiu-se tão protegida
nos braços do mar,
no colo das águas,
no leito daquela imensidade
e vagarosamente,
foi despindo as mágoas,
foi afogando a dor
na vastidão de sua saudade.





Karla Bardanza












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