Piot Brehmer
Se tivermos tempo,
poderemos tentar.
Um pequeno perdão,
uma palavrinha certa no canto da boca,
os teus olhos acertando
o meu coração com coisas sem fim.
O passado se perde de mim
e eu acordo menos você todos os dias.
Corro tanto do que ainda me resta:
do começo sem início,
dos pés pisando o título de musa,
da tua voz assombrada, me dizendo
que achava que eu era uma mulher difícil de agradar,
Foi doloroso cair do pedestal
e não saber como levantar.
Se tivermos tempo,
poderemos ser quem somos:
você me olhará com a profundidade necessária
para entender que determinados papéis
nunca couberam
na minha vida de ônibus cheios
e bolsos furados.
Talvez ainda haja tempo
de você descobrir outras coisas
que não tive como falar.
Sempre fui melhor em atirar facas
do que com as palavras.
Perdoe por eu ser simples
e falar alto.
Perdoe por eu ser comum
e vulgar demais.
Se ainda tivermos tempo,
vou lamentar menos
não ter sido a donzela frágil
dos filmes que te fizeram chorar
e se tempo ainda me sobrar,
vou continuar ignorando os sapatos de salto alto
e as vendas que eram apenas tuas.
Não te dei a minha voz.
Cedi a vez para você completar os meus infinitos.
Apenas isso.
Se ainda tivermos tempo,
poderemos amar como gente grande
ama:
sem expectativas,
sem buracos no peito.
Karla Bardanza
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