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ACIDENTES DO DESTINO


Abandono o sol e o seu breve calor.

O fogo é apenas brasa sem voz.

A noite arrastou-se por alamedas

Cegas enquanto a auto-ilusão

Despenteava as estrelas.



Deitada perto da janela semiaberta,

Olho sem ver as árvores chorando

Flores. Estupefata, minha alma

Afunda em horas desconfortáveis.



Tenho pouca caridade pelos meus

Defeitos. A vida deve ser um crepúsculo

Solene, um voto de transformação

Eterna e se possível um deleite

Poético.



É com algum medo e estranha

Aceitação que eu devo abraçar

As trevas enquanto a lua minguante

Ainda chora neste momento apenas

Meu com a minha loucura.



Não temo esse estado de parálise

Nem os acidentes do destino.

O que me apavora é a autopiedade,

A mulher chorando no portão.



Ela é a sombra que evito.

A árvore estéril esperando

A chuva, a voz inquestionável

Perdida em minhas profundezas

Quando o passado abre seus

Olhos sem palavras.



Levanto do sofá, sentindo

O meu corpo tremendo: um frio

Nervoso corta e anuncia o sangue

Escorrendo pela poesia. Não há

Lágrimas ou dor. Não há nada onde

Desaguam estes rios sem água.

Apenas a dolorosa hierarquia

Da gentil mágoa.



Karla Bardanza



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