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INNUENDO

 Quadro de René Magritte


Qual cavalo alado,
sem um corno saindo indolentemente
das brumas do todo sempre,
qual innuendo estranho onde as asas são atraídas
para o fogo de uma vela numa casa velha,
qual uam pseudo bruxa diante das borbulhas
de sua mente quase má,
ajoelho, buscando de novo
um pouco de ar.

E a casa queria-se um castelo
perto do nada, suspensa pelos
olhos de Magritte ou talvez um
castelo de cartas como divinação
e contradição.
E a casa era igual ao melhor pedaço
de mim: aquele mesmo que procuro
não sentir em meus surreais vôos
e verdades.

Oh! Triste a minha sina, como um fado que canta
debaixo de uma ponte sem ferro ou flor.
Oh! Triste a minha sina de pó e terror,
de rápido encontro com os meus mundos.
Apenas sou e se sou devo ser o que já não
sei mais deixar de ser.

Vi o mar, sim, e quis um poema perfeito, sim...
Mas não te procurei, não te quis encontrar...
Não desta forma quando pouco já sei,
quando fecho os olhos para cheirar os sonhos
e ser forte e ser fraco e ser alguém.Quero
tanto, tudo que possa justificar
e ser um pouco de magia.
Quis o corpo.

Quis a alma também, mesmo utópica,
mesmo sem gémea ou atalho de outra,
quis a alma impura disso que faz-me
maior e brando, quase rei,
quase santo e céu.

E ao longe vi profetas, deusas indianas,
algumas gregas, como os vasos partidos
nos barcos adormecidos em fossas escuras
[...tão profundas...tão perto...]

E pronto...

Qual cavalo alado, irei como vim.
Sou os troncos que entram pela janela do teu quarto onde te baloiças nas noites,
pensando em mim
e em minhas viagens sem volta.

Não temas...
Não chores...
Deixes-me ir.
Fugir para dentro do branco,
do que engole o destino
e estreita a morte.

Qual cavalo alado,
sem uma asa saindo tonto
das nuvens cansadas,
qual innuendo estranho onde as palavras são
sangue, punhal e maldade,
qual bruxa que não é lambendo
a pele de sua melhor vítima,
ajoelho para cair
dentro daquela paz,
morrendo
mesmo,
morrendo
agora,
morrendo mais.



Ricardo Pocinho e Karla Bardanza



Ricardo, amigo, obrigada por esse momento maravilhosamente poético. Te beijo.






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Um comentário:

Ricardo Pocinho disse...

Eu é que te agradecerei sempre Poetisa. Obrigado. Abraço-te