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ESTIGMA E ESTILETE

Quadro de Zhao Chun




Se eu te disser que tudo isso
é uma alegria obscena,
uma liturgia para orquídeas,
você me mostraria teus dentes
distanciados da leveza das pétalas?

Porque agora,
bem agora,
cabe apenas a vontade
de desfolhar o mal-me-quer de dentro de mim
e dançar cosmicamente
por entre todas as flores
em profundo desapêgo
e mansidão.

(É primavera)

E eu
já me reparto pelas estrelas,
pelas coisas inalcançáveis
e verdadeiras,
pelos risos, 
pelas rosas
sempre arreganhando-se
cada vez mais para mim. 

Se eu te disser
que por trás da folha
esconde-se o que é essencial,
poderias ver os acordes espalhando-se
pelo silêncio das begônias? 

Porque
eu tenho uma estrela azul na testa
e a minha lucidez engasga
as ovelhas e os seus pastores.
Abri as aléias de meu coração
para receber todas as bençãos
em pétalas, abri as sementes
com as mãos sujas de terra e esperanças.

Floresço
junto com Ostara.
Falta pouco para a roda girar
e as árvores latejarem no meu corpo telúrico.
Quanto a mim,
nada posso além das perguntas
guardadas entre o estigma
e o estilete esperando
para descabelar os teus horizontes.
Quando a mim,
apenas a necessidade desse estado
permanente de flor.


Karla Bardanza

Irmãs e Irmãos, Feliz Ostara





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