Essa perversa delicadeza do mar
Guarda a minha morte.
Mergulho para me sentir dentro
Do útero da minha mãe, em líquido
Afeto.
Com olhos abertos, me sinto protegida,
Viva, esperando para nascer, sem saber,
Sem saber tudo que me aguardava deste
Lado.
Sou um feto confortável dentro do oceano,
Ouvindo as vozes das rosas tão distantes,
Brincando de esperar por estrelas:
Quero ser amparada pelos braços do sonho.
Fico dentro d’água, sentindo o meu coração
Parar lentamente enquanto os segundos
Escoam lá fora e a areia se cansa das horas.
Me lembrei da primeira vez que vi o mar.
Meu pai me levou na Barra. Corri das ondas,
Mas queria mesmo abraçá-las, lembrei
De todas as vezes que fui feliz.
A memória me acolheu.
Quando sai daquelas águas,
Eu já sabia quem era eu.
Karla Bardanza
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