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COM OS OLHOS BEM FECHADOS


O horizonte sangra.
Eu também.
Escuro mistério,
Intraduzível enigma,
Meus olhos são todas
As minhas palavras.
Desrazão.

Não disfarço.
Não escondo
As linhas confusas
Da palma da minha mão.
Minha boca prova.
Minha boca cala
A fala absurda
Do meu coração.

Olho o equilíbrio dos rítmos,
Olho, apenas olho.
Sutileza, apenas sutileza.
Algo foge de mim, algo
Escapa, ameaça, trapaça.

O olhar traça
A viagem para o além,
Desvela, revela, enlouquece.
(Não quero ir embora)
Hora, hora, hora:
Quero o espaço neutro,
O chão riscado de giz.

O espanto é múltiplo;
Transponho o vazio,
Velas se acendem,
Pétalas caem,
Olhar é fazer amor.
E tudo me pertence
Integralmente.
E tudo mente.
Sente?Sente...

O tempo cristaliza
O desejo.
Olho.
A senha,
O signo:
O que sinto
É tão benigno.
O que sinto
É catártico.
O impacto é sempre
Melhor.

Sinto:
A vida está viva.
Você.
Você.
Aqui.
Bem aqui.

Silêncio perfeito,
A trama muda,
Olhar é transgredir.
Olhar é dizer.
Meu verbo fixo
Ainda silencia.

Amordaço o desejo
Com os fios da poesia,
Rabiscando esse prazer
Com os olhos bem
Fechados.
Olhando, olhando,olhando
Para dentro de
V
O
C
Ê.





Karla Bardanza

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