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REDENÇÃO


Quando esse amor pulsou

No meu tímpano, fechei as

Mãos, fingi não ouvir,vesti

Minha cota de malha: o aço

Dos meus dias.

Construí muros ao redor,

Fabriquei espadas, acendi

Fogueiras, coloquei o meu

Elmo, fiquei só.



Olhava-o por detrás

Das torres, preparando

Catapultas, estratégias,

Desculpas.

Olhava-o com os olhos

Semicerrados na distante

Escuridão dos morros

Vazios da minha alma

Cheia de guerra.



Por um instante sonhei.

A invasão foi mansa e

Calma.

Rendi-me sem razão,

Sem querer.

Quando virei-me para

O sul, lá estava você.

Aceitei teus tratados,

Tuas divisões, teus mandatos,

Tuas conclusões.

O vento norte nada mais dizia:

Parei de lutar comigo e

Com a poesia.

Fiz-me cativa, serva e amante.

Fui mais uma estrela em teu

Céu arrogante.



Quando havias roubado

Tudo que te permiti, foi

Embora conquistar outras

Terras caladas.

Meu castelo foi queimado,

Meu dragão amaldiçoado,

Meus jardins pisoteados.

Sobrou pouco de mim

Em ti Meu Amado.



Olho para as minhas ruínas

E já não sei como rezar e

Pedir redenção.

Salvação não há mais:

Que amor é esse que desconhece

A paz?



O amor abriu o meu mudo corpo.

Porém, por ironia do destino já

Veio morto.

Agora vago cega: olhos queimados

Pela paixão.

E não sinto minha pele e nem

A rouca traição.

E não sinto mais nada e nem pergunto

De quem foi a culpa.



Percorro descalça os caminhos

Ferozes, guardando os espinhos

Da rosas, movendo moinhos sem

Cor, penhorando minha alma ainda

Cheia de sombras e tanto pavor.



Karla Bardanza





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