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PEQUENO DELITO DE VIVER

 Ela se deu por vencida:
caiu no chão
e
ficou deitada, olhando
para parede cheia de infiltrações,
para o teto mofado,
para o relógio parado
na prateleira.
Estava cansada,
apenas cansada
de dar murro em
ponta de faca,
de tentar as possibilidades
e
por alguns minutos,
saboreou o fracasso
dos diplomas,
a falta de dinheiro,
a indignidade de não ter
chegado lá.

A vida tinha dado errado.

Não chorou,
não acusou a si mesma
pelo crime culposo,
pelo pequeno delito
de viver.
O resultado era ilícito,
os danos não puderam ser evitados.
Não sabia se havia sido negligente.
Não sentia que tinha sido imprudente.

As lesões não eram somente corporais.

Não titubeou diante do flagrante crime:
estendeu as mãos
e pela primeira vez
rendeu-se ao fato
de ser uma derrotada
com título de honoris causa.

Agora ela espera por
julgamento atrás das grades
da vida
segundo dizem os seus pensamentos,
acredita veementemente que nunca mais
será absolvida da difícil
tarefa de ter fracassado.







Karla Bardanza

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