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UM DESEJO PARA CHAMAR DE SEU


Quando a sala suspira é porque as paredes chamam o passado para dividir o mesmo copo vazio da insatisfação. Ela não bebe quase nada. Detesta o gosto amargo do que ainda resta na borda da taça cheia de possibilidades.


A tinta amarela derrete, a novela chora com as mesmas dores, tudo está tão igual. Ela vive roubando o presente das suas possíveis surpresas. Nada é tão importante assim. Ontem, ela estava com o mesmo olhar sem caminho. Ontem, ela estava com a mesma calça jeans e a mesma camiseta. Algo desaconteceu. Ela está viva em alguns dias da semana: justamente aqueles em que seus seios apontam para o seu obscuro objeto de prazer.


Quando as horas calam mansas, ela investiga o desejo com os seus olhos oblíquos. O momento é feito de sal e vontade. O gosto fica na boca elevando e abaixando a pressão. Os altos e baixos do corpo que arqueja sem arquejar, da cerveja que morre na mesa coberta de solidão, de tudo que fica na penumbra, no baú nunca aberto.


Ela não sabe mais como fazer belas teias, ela não mata mais as vítimas: ela não entende mais de caçadas. A idade chegou com o peso do silêncio e do bom senso. E agora?


Não há respostas, nem eternidades. Não há descanso. Toda a tranquilidade é fictícia. O teatro pede tantas máscaras. Ela perdeu algumas pelo caminho. No momento, tem usado a mesma. A vida ficou tão real que chega a ferir. Hoje ela já acordou exausta com a mesma realidade. Amanhã ela não pretende sair de casa. Talvez, lave roupa, talvez cozinhe. Talvez. Há tantas opções que não escolheu.


Ela precisa apenas de uma única coisa: um desejo para chamar de seu ou quem sabe entrar e contato com o seu deus. Enquanto o rio flue, ela veste a mesma camiseta sem graça e dorme cedo. E nem dormindo, sonha mais.




Karla Bardanza

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