Quadro de Tom Bagshaw
Queria te doer
assim igualzinho
aquela música que
faz conter a minha ferocidade
dissimulada e tonta.
Como fazer essas coisas
que parecem exoticas
e cegas virem à superfície?
Queria muito te doer
como uma alegria desesperada,
uma faca cega entrando
no peito e cortando muito
por cortar tão pouco.
Como esfolar
o machucado já esfolado
e sujo?
E de tudo que dói,
dói muito mais em quem
mais sente e se contradiz
porque perdeu o F de feliz
e todas as palavras
que já não podem caber
na boca assustada
e doente.
Mas quando acaba a verdade,
pára de escorrer
o passado pelas chagas,
pelas escaras,
pelos buracos abertos
com as mãos suadas
e distantes da absurda paz.
E isso que dá de vez
em quando é retirado
a pinça todo dia
sem caridade.
(A verdade é sempre
pra quem amou mais)
Queria muito pouco:
apenas de matar de paz.
Essa paz que me deixastes
nos bens
quando dividimos
quase tudo
do café até o mundo.
Mas eis que
o querer é apenas um querer.
E você...
Ai...
Quem foi-é você?
Karla Bardanza
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