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MANHÃ SURDA




Acordou às 10 e ficou na cama,
ouvindo a mesma música com
ar de musa retro.
Com as mãos no rosto, escondia
o dia e até as palavras que não
cabiam na sua falta de predicados.
Era tudo sucinto, pequeno,
desmontável. Cabia numa gaiola.
Cabia numa caixa de sapatos,
cheia de amores sem fins e
ratos. Ela colecionava erros com
muita fidalguia e honestidade.
Dessa vez, o erro estava boiando
dentro dela como um corpo
sem nome, como a esperança
que morre e some após a mais
vil descoberta. Ela, tão só,
tão doente, dizia entre os dentes
:” estou certa, dessa vez
estou certa”.

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Mas ninguém ouviu. Nem ela mesma.


Karla Bardanza


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