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ESCREVO PARA DAQUI A CEM ANOS



Não leia essas coisas

que tento escrever,

que finjo ajoelhar para escrever.

O desgoverno das palavras

me governa.

O acriançamento de minha poesia

é psicológico.

Sou ainda dos brinquedos,

das bonecas, dos escaravelhos.

Escrever requer um merecimento,

uma fibra de lagartas

quase borboletas.

Talvez se eu meditasse mais...

Esse nirvana de Manuel de Barros

é para quem escolhe e encolhe

os horizontes.

Sou disso ainda não.

Sou apenas a musa-palhaça

de algum alguém que escreve

bem melhor que eu.

Quando eu for magnificada,

estarei de vermelho e negro

ao lado de Stendhal.



Karla Bardanza









Saramago fala sobre Stendhal - escritor que não teve reconhecimento em vida.

O Stendhal dizia: “Escrevo para daqui a cem anos”. E, realmente, nesse caso acertou. Mas oito anos depois, salvo erro, da publicação de A Cartuxa de Parma tinham-se vendido treze exemplares. Então Stendhal não devia estar a pensar que escrevia para o seu tempo… Se o seu tempo, em oito anos, tinha comprado treze exemplares da Cartuxa, então é porque o tempo dele não estava interessado. Nesse caso, parece que a posteridade, essa sim, quis saber o que é que esse senhor chamado Stendhal tinha andado a fazer. Mas o que é a posteridade? São cinqüenta anos depois? Cem? E temos a certeza que duzentos anos depois a posteridade ainda continua a interessar-se por aquilo que a posteridade dos cem anos se interessou? E daí a trezentos? E a quatrocentos? E a mil? Quer dizer, se eu pudesse antecipar os gostos, as expectativas, as necessidades dessa posteridade num certo momento disso tudo, então poderia dizer, bom, eu sei o que a posteridade quer e sei que estou a fazer aquilo que ela vai querer. Alguém pode dizer isso?
















Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

Um comentário:

Helen De Rose disse...

Se eu pudesse dar um salto quântico no tempo, talvez eu pudesse volta aqui e dizer, mana. Tomara que tudo isto fique registrado em algum lugar, que não haja destruição de nada. Adoro tudo o que vc escreve. Bjo. Adorei essa imagem da mala.