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ESPERANÇA AINDA

Quadro de Forrest King




Ficou acuada igualzinho
a um bicho machucado
quando ele começou
a quebrar as coisas.
Aquele destino,
ela conhecia de cor.

Não sabia se chorava,
se enxotava as crianças pro quarto,
se fugia ou dava logo a cara
para o primeiro tapa, soco:
aquelas grosserias de sempre.

Ele tinha se acostumado
a fazer dela um pano de chão.
Já ela tinha se acostumado
a ser menos que nada.
Não tinha muito jeito
para virar a mesa.

Agarrou-a pelos cabelos
e a arrastou até a pia
facilmente.
Ela lembra do sangue escorrendo,
da dor no ouvido,
da escuridão.

Ela lembra do hospital,
dos ossos quebrados,
da polícia,
dos olhos caiados de pena,
da humilhação.

Nunca mais o viu.
Está escondida
junto com as filhas,
esperando a vida,
esperando uma nova vida.




Karla Bardanza





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