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COM AS PERNAS ABERTAS

 Quadro de Fidel Garcia





Sou uma pessoa mal acostumada
e dada a levantar logo que caio.
Olho os joelhos ralados,
assopro o machucado
e saio andando
como se nada
( nada mesmo)
tivesse acontecido.

Sou um ser interrompido:
aconteço sem entender.

E não me importa
se os meus adjetivos
tem vida própria.
Geralmente, eles acordam
antes de mim.
Gosto de dormir até tarde
- quando posso-

Não me preocupa
quem não consegue me ver
do tamanho que eu sou.
Não se engane
com a minha altura.
Sou bem maior de perto,
de peito aberto,
com as mãos para o alto
chamando os Deuses.

É quase impossível
ler as linhas da minha mão:
alguém bem que tentou
mas o meu destino
não cabe apenas no que
a minha pele diz.

Eu não quero saber
de frases curtas, silêncios inadequados,
coisas que não fluem:
o desejo ainda é o meu país.

Estou muito cansada
das minhas inutlidades
e esperançãs vãs.
Hoje de noite,
vou fazer o meu amanhã.

Vou descalça,
sem calça
ou nada que me prenda.
Vou com sede de infinito
igualzinha a Florbela
por entre as flores amarelas
da magia.

E tudo que não couber
lá, vai caber na poesia.
Deixarei um pouco mais
para os momentos finais
e se eu ainda me surpreender
comigo mesma
é sinal que transcendi,
excedi,
que fiquei por cima
ou talvez por baixo.

Estou estado de em puro orgasmo
na vida.
Nunca consigo me despedir
do meu gozo,
nem fechar as pernas das emoções.



Karla Bardanza







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