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UMA MULHER DE POUCAS PALAVRAS

Quadro de Macu Jordá




Abraçou-se,
olhando a paisagem do nada,
a solidão ajoelhada aos seus pés
sempre descalços.

Sentiu seu corpo
(corpo)
A carne morna, o sangue
triste, as coisas que ainda
existem.

A parede estava rachada,
as flores murchas,
as poltronas rasgadas,
o relógio funcionava com
alguma dificuldade.

A idade entrava pela
boca calada,
pelos olhos distantes
de si mesma,
pelas mãos ásperas,
pelas pequenas rugas
anunciadas.

Ela ainda era ela
sem os sonhos,
sem as palavras,
sem o que achou
que tinha tido.

Os sentidos a buscavam,
reclamando
sentidos.
Ela nunca teve pressa
em conhecer as respostas.
Andava devagar.

Esbarrrou 
com a imutabilidade:
ela ainda era uma mulher.
Cansada,
calada
e cheias de dimensões adormecidas.

Dentro daqueles olhos
havia apenas uma única interrogação:
o que houve com a vida?
O que houve com a vida?



Karla Bardanza









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Um comentário:

Helô Müller disse...

Tão real e tão lindo, Karla!
As 4 últimas estrofes têm tudo a ver comigo...
Bj
Helô