CONTEMPLANDO O MEU NADA
Tristan Henry-Wilson
Inauguro a noite,
esticando pedaços de mim,
lambendo a poesia
sempre escondida
das minhas horas
cheias de murmúrios
e falas que aumentam o silêncio.
Eu sou a escuridão
encostando bravamente
nas janelas ainda fechadas,
alucinando as estrelas,
engolindo e desexplicando.
a luz guardada em
caixinhas de fósforos.
A vida come meus pensamentos,
meu tempo semi-precioso:
os ponteiros do relógio
atravessam os muros,
sou eu o escuro confortável
recebendo com ternura
os carneirinhos insones,
as dúvidas macias.
E tudo que arde
me diviniza
porque sou tão menor
do que as coisas
que me alargam
e me culpam.
E essas intimidades
é a minha herança sem nome
para quem já esta deserdado
pelos céus.
Karla Bardanza
OS LONGOS INTERVALOS ENTRE O SOL E AS NUVENS
Laura Den Hertog
Recupero os teus detalhes,
acariciando as pequenas maravilhas
que o ontem traz como
segredo e contradição.
Palavras cortadas ao meio,
sentidos e semi-buscas
quando nos olhávamos
com medo de ver
mais do que queríamos;
pequenas coisas
perdidas entre o tentar
e o quase ser.
E mesmo assim,
deito em minhas lembranças
com a confortável certeza
de que fiz tudo que
a poesia me ensinou
para poder te amar
melhor e mais
quando não havia nada
entre a nossa calma guerra
e agressiva paz,
quando as minhas pálpebras apertadas
só queriam mesmo é ser redescobertas,
quando todo o nosso silêncio
foi apenas longos
intervalos entre o sol
e as nuvens.
Karla Bardanza
O QUE É ARTE ENTÃO, PORRA?
Devdatta Padekar
Embrulho a paisagem
e a coloco em cima da mesa,
quentinha, pronta para ser comida
pelas palavras, pelas metáforas,
pelas imagens.
Bagagem de poeta
é o papel de braços abertos,
é a linha reta e desregrada,
é quase tudo do nada.
Nuvens de cobre,
fios que dobram a esquina
da solidão, as tempestades
nossa de cada dia,
a força bruta,
a luta vã com a vontade
de parir um poema saudável,
fácil de engolir,
fácil de ser band-aid
curando tudo e descolando
na medida certa
quando o mundo aperta
por dentro e fora.
Pedacinhos colados,
um pouquinho do que mata
e consola, a esmola
na mão do leitor
e aquela puta dor
que todo poeta carrega
com orgulho e estandarte.
E depois do depois,
vem um cara qualquer
dizer que a tua pele arrancada
pelas tuas próprias unhas
não é arte.
Karla Bardanza
DOCILIDADES
Richard S Johnson
Deito-me no chão da sala,
contando as partículas do ontem,
abraçada a minha cachorra
que insiste em ser melhor do que eu
nestas questões de afagos
e docilidade.
Minha gata aproxima-se
pedidndo um pouco de mim também.
Olho ao redor,
mais completa,
mais suada,
mais alguma coisa intensa,
sentindo esse poder que a gente
ganha de pesar e medir as coisas
após os quarenta
e
pela primeira vez,
me sei feliz.
E se isso tem outro nome,
deve ser paz,
deve ser candura.
A gente não precisa de muita coisa
para chegar lá.
As mão precisam estar
segurando apenas o coração.
Todo o resto,
é apenas uma questão
de ouví-lo bater.
Karla Bardanza
EU TENHO FILOSOFIAS SEM SENTIDO
Patricia Rorie
A serpente não entende
o destino da estrela
obrigada a brilhar
mesmo quando não quer.
A estrela não entende
o destino da serpente:
sempre rastejando
e atacando mesmo
quando não quer.
E enquanto Simone de Beauvoir
inclui-me no segundo sexo,
eu renego outra vez este
destino de mulher.
Karla Bardanza
DES-INSPIRAÇÃO
Malcolm T Liepke
Ouço a voz bruta do Atlântico
entrando pela minha janela
enquanto rio das culpas que a vida trouxe-me,
sem perdoar nenhuma nuvem,
sem procurar por fragmentos de sentidos.
A elegante performance
do mar repetida infinitamente
cresce em mim:
as palavras esbarram em minhas emoções.
Tento retardar o verão
e essa alegria pegajosa
e sem justificativa que o acompanha.
Tento não pensar no mistério
além das metáforas.
Mas algo parece ajudar-me
a reconhecer a minha própria voz
depois de tanto tempo.
As ondas levam-me de volta
para o suave agora
e nada espero para depois,
além desse oceano
dissolvendo-se com delicadeza
para alimentar
os meus caprichos de poeta.
Karla Bardanza
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