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MONÓLOGO

 Quadro de Joyce Cambron



Parou e começou a falar como se estivesse despejando um balde cheio de palavras. Aquilo tudo estava engasgado na garganta, na pele, na alma. Os olhos estavam cheios de manchas vermelhas, as mãos crispadas, o rosto era uma coisa perdida entre o desespero e a mágoa.

Eu sei que não tenho importância pra você, que posso morrer que não vou fazer falta nenhuma na sua vidinha. Eu sei que o que houve entre a gente foi nada. Sabe de uma coisa? Não ligo. Quero que você se dane.Você e a tua família ridícula. Você e o teu egoísmo. Você, seu filho da mãe, seu palhaço, seu idiota.

Os pescoço estava tenso, as costas pareciam segurar um peso maior que ela podia carregar. O corpo vergava com a dor, o ódio, a agonia, a mágoa. Ela vomitava tudo com fúria, com dó, como se estivesse em convulsão.

Sabe, não senti tua falta. Um mês passou rapidinho. Nem notei quando você me deixou em casa e disse que ia me ligar e não ligou. Em quatro semanas, muita coisa aconteceu. Não deu nem tempo de ver que você não estava lá. Vivi vários momentos difíceis e olha que engraçado, em nenhum deles tive o teu apoio ou mão amiga. Estava sozinha. Melhor assim. Sabe, antes só do que mal acompanhada a minha mãe diz. E é verdade. Pra que vou querer um cara babaca como você? Pô, você é o maior imbecil que eu conheci. Criança! Imaturo! Filho da P...

Ela gritava, gritava com uma força estranha, com a boca espumando, com o suor pingando pelo rosto contorcido. Os cabelos caiam soltos pelos ombros, desenhando uma beleza desconhecida, uma mulher voraz, cheia de gana de matar e morrer.

De repente, ela parou de falar, chegou mais perto do espelho e desatou a chorar, soluçando alto como uma criança. Ficou parada ali, olhando para si mesma, pensando nas coisas que estavam entaladas e que nunca seriam ditas, ouvidas, pensadas. Sentiu-se do tamanho de uma joaninha, minúscula, pequena, tão pequena. Resignadamente, deitou no chão e ficou lá o dia todo, fraca, fraquinha, só, sozinha.



Karla Bardanza









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