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ENGOLI O AMOR


Coloquei o amor na boca
e o engoli.
Ela nunca mais sairá:
está dentro de mim.
Comi-o com as mãos tremendo
e com o corpo tonto.
Sei que não vou perdê-lo mais
quando a chuva derrubar
o céu.

Toda a beleza que ele
guarda, agora
é toda minha.
O que estava apenas fora,
está dentro também, morando
em minhas esquinas assombradas
pela saudade, pelo tempo quase
desumano e destruídor.

Coloquei o amor na boca
e ele descansa em minhas entranhas.
Comi cada pedacinho dele
com tanta delicadeza.
Sinto que minha alma não cabe
mais em meus vãos e cantos
abafados pela dor
depois dessa surpresa.

O amor (quem diria!) tem gosto
de melancia, de sonhos,
de poesia.
E o amor tem gosto
de oração, de completude,
daquelas coisas que apenas as crianças
e os poetas entendem quando falam
com as estrelas e acendem as palavras.

Ele está aqui na minha boca
toda vez que grito nua e louca
que não canso de esperar
os vagalumes cortejarem a noite
encantada e suspensa
entre o sim e o nada.

Coloquei o amor na boca
e o engoli:
estou iluminada.





Karla Bardanza









Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

A MINHA PALAVRA


A minha palavra é escrita para ser sempre calada.
Quero-a sentida
e sentindo.
Quero-a acordando o silêncio
cheio de assombro.

A minha palavra é escrita para ser herética
e erótica.
A minha ótica dos acontecimentos
não tem culpa, apenas filosofia.

A minha palavra é escrita no calor do atrevimento
quando o tempo se compadece de mim
e me joga confete e serpentina.

A minha palavra é tão menina.
Tenha paciência com as suas bobeiras,
besteiras e olhares.

A minha palavras me manda pelos ares
e eu sorvo as nuvens com ousadia.

A minha palavra só quer mesmo
é brincar de ser poesia.


Karla Bardanza








Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

SOU UMA ARANHA CANSADINHA


Acabei de tecer o mundo,
uma teia para te esperar:
mas não chegue agora,
deixe a hora passar
com delicadeza.

Enquanto encontro sentido
nesta ausência, faço planos
para o amanhã, para a pessoa certa,
para a incerta mulher de passos largos
que anda na minha calçada
sem fama.

Não venha sem entender de magia,
de dança, de poesia.
Não venha cheio de vazios.
Preciso de rios e correnteza:
-arraste-me-

Sou uma aranha cansadinha:
às vezes quando paro é apenas
para admirar os fios do infinito.
Às vezes, paro e te fito com os olhos
sem pensamentos, com o sentimento
de tudo, de sonhos, de mundo.
Aquele Poeta me entende.

Te aguardo em minha teia de palavras
e alguma insensatez.
Não! Já te falei:
não venha agora!
Mas se vier...
Venha de vez!





Karla Bardanza







Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

O INFINITO NA PALMA DA MÃO

"Ver o Mundo num Grão de Areia 

E um Céu numa flor silvestre,

Ter o infinito na palma da sua mão

E a Eternidade numa hora."

-William Blake-








Venha ver o que me faz bem-aventurada:


O segredo do vento, o suspiro da estrela,



As flores selvagens, Bharatanatyam, Odissi,



Cítaras e saris, feche os olhos para viajar por



Dentro de mim.







O infinito mora na palma da minha mão,



Linhas que se soltam e vão direto para



O espaço calado do meu coração, grãos



De areia a beira do mar. Se eu fechar os



Olhos agora, deixe-me sonhar mesmo



Que a eternidade dure menos que uma



Hora e eu não possa ir embora dentro



Das bolhas de sabão.







Viajo na poltrona, a alma solta pelo ar,



Música sagrada e incensos, nada me contém



Neste corpo: nem os ditames, nem os paradigmas



Tampouco os estereótipos. Meus nervos óticos



São míopes para a discriminação.







Venha, segure a minha mão enquanto tocamos



O infinito e atravessamos os oceanos, os anos,



Sonhando com a alma cheia de tudo porque



Se nada tivermos, teremos apenas o mundo.







Venha ver o que me faz bem-aventurada:



A magia do tudo-nada que se esconde e se



Revela quando as palavras libertam emoções,



Quando as monções beijam o sudoeste da Índia,



Quando dentro de mim habitam borboletas e a vida



Está muito além do jardim.







Karla Bardanza

ESTE POEMA FOI INSPIRADO EM RUBEM ALVES E WILLIAM BLAKE.AMO VOCÊS DOIS. 










Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
-Karla Bardanza-
















HÁ MUNDOS INTEIROS EM MIM


Há mundos inteiros no meu corpo.

Oceanos e cachoeiras valsam quando

Olho a lua inteira pela janela aberta

À eternidade.



Algo é nostalgia do que nem sei se perdi.

Uma saudade estranha me completa.

Deve ser o que ainda não encontrei nem

Dentro nem fora, e que talvez não ache

Nem quando as estrelas forem embora.



Há tantas ausências na minha vida, tantas

Buscas, tanta necessidade de voar.

Mas, o medo agasalha o coração.

Mas, a razão atrapalha o desejo.

Mas...Mas...Mas...



O teu beijo onde está?

Na boca de quem caberá?



Quando eu te encontrar, te acharei.

Te acharei nos pequenos detalhes,

Nas possibilidades do real, no acriançamento

Das manhãs, no Deus de perfeito de amor,

Na Deusa acariciando a flor.



Há poucas certezas hoje e nenhuma para amanhã.

No entanto, a minha verdade insiste em ser magia.

Se ela não couber neste momento em que estou

Entre mim e mim mesma, sobreviverá talvez nesta poesia.



Há mundos inteiros em mim.





Karla Bardanza







Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

TUAS TRANSPARÊNCIAS


O prazer mora nos ouvidos quando tua palavras
deslizam para dentro de mim como um vento
cheio de luzes e mansidão.
Ouço o meu desejo no teu discurso politicamente
correto, na tua verdade que não descansa nem
nos finais de semana.
O amor engana.
Quero ser engolida por essa ilusão, por esse momento
tranquilo: a eternidade cabe na palma da mão.
Cabe nas tuas palavras que fazem amor com os
meus olhos, com a minha pele, com o meu coração
agora  agora  agora.

O absoluto é o vôo. Minhas asas são grandes demais
para serem carregadas. Não aterriso. Chego bem
perto dos meus próprios abismos. Perco-me com
a satisfação exata dos sonhadores. Vivo a circunstância
com a beleza que o momento merece.
Olho as tuas transparências:
não penso, nada penso.
Pensar me faz adoecer de solidão.
Sou tão malcriada,
gosto deste engano coberto de nada.
Satisfaço-me com a simples constatação
que me tens ainda nas mãos.

E quando sinto que vou cair,
levanto-me e saio de dentro de mim.






Karla Bardanza











Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
-Karla Bardanza-

O QUE FAZ CÓCEGA NA ALMA


A realidade não precisa de mim.
O riacho corre,
a estrela brilha,
os peixinhos nadam.
A vida é um rio jorrando incessantemente
no Tempo.
Quem me quer é a imaginação.
Sento na árvore,
ela segura a minha mão
e me mostra a aranha tecendo
casinhas, as nuvens que nunca deixam
de ter quatro anos e insistem em brincar
no céu, o nada tão tudo que os olhos do
mundo já não podem mais sequer ver.

A imaginação atrapalha o real,
dá novos significados à vista cansada,
acriança os minutos,
faz cócegas na alma cheia de
silêncio e alguma solidão.
É lá que eu moro: dentro dos sonhos,
dentro da fantasia minha de cada dia,
que acontece quando
eu me dispo do mundo matemático e rotineiro
e me visto apenas de poesia.



Karla Bardanza










Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
-Karla Bardanza-

AGORA QUE O SOL FECHA OS OLHOS


Agora que o sol fecha os olhos
e a semente aguarda quieta dentro
do útero da Terra, abro os braços
para receber o outono em total
abandono e tranquilidade.

Deixe que o verão siga o seu
caminho e atravesse os Portões da
Morte.

Deixe que Ela descanse enquanto o
seu ventre cheio de luz e paz
espera e se prepara para o
inverno.

Há tanto silêncio:
ouço o Vento Norte
e o ciclo eterno da vida.
Estou aquecida.
O renascimento respira
no tempo.

Tudo morre para viver.
Tudo renasce
e renascerá:
eu, você e o momento
transmutado em sonho sagrado.

Meu coração está confortado:
o amanhã respira dentro
de mim em ramos de trigo,
calêndulas e crisântemos.
O amanhã chegou agora.


Karla Bardanza



Feliz Mabon!









Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
 -Karla Bardanza-

A POESIA DO SILÊNCIO



Deito no teu corpo

E ouço a poesia do silêncio

Subindo pela minha pele,

Delicadamente,

Delicadamente.



Todo o desejo cabe

Nos meus poros tão abertos

Ao teu infinito.

Te sinto,

Te sinto.



E te olho com olhos

De eternidade, rasgando o

Peito onde você plantou

Tanta vastidão e saudade.



Desaprendo o medo,

Afogo as pequenas covardias,

Meu corpo é semente,

Meu corpo é morada

Perdida entre o céu e o nada

Onde habita todo o prazer.



Minha alma carrega você

Em luzes e rosas, minha alma

Abraça o teu discurso, os teus livros,

O tudo que eu sempre redescubro

Apenas quando ouço o teu silêncio.



Deito no teu corpo

E lá dentro de mim há um jardim

Selvagem cheio de poemas escritos

Quando a minha mão esquerda

Está cheia de coragem e andorinhas





Karla Bardanza









Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
-Karla Bardanza-






























































QUANDO EU FOR GENTE GRANDE


Quando eu for gente grande 

Vou desaprender tudo que ouvi.

Meus olhos vão continuar vivos

E os meus braços nunca estarão

Cansados para abraçar.



Enquanto meus cabelos forem

Ferozes e as minhas mãos não estiverem

Fechadas para descobrir as joaninhas

Escondidas nas pétalas das flores,

Não serei o que não quero ser.



Abro os olhos e há tanto prazer

Em molhar os pés no mar ou correr

Atrás das borboletas.

Abro os olhos mais ainda e as nuvens

Constroem castelos no céu.



Antes que eu pegue essa doença

Incurável, vou viver de assombros

E descobertas, vou deixar a porta

Aberta para que todos os meus

Sonhos possam entrar.



Ser gente grande é uma dura tarefa

De embrutecimento.

Não quero chegar lá porque não

Vou nunca esquecer o barulho

Bom do vento ou cheiro de terra

Fresca molhada.



E se não tiver jeito mesmo,

E eu tiver que ser gente grande,

Que pelo ao menos a minha alma

Seja encantada.







Karla Bardanza












Observe-me com a leveza de uma bolha de sabão... e ache minha beleza... Ela está ao meu redor...no meu calor...no meu estado permanente de flor.
-Karla Bardanza-