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MENINA INTERROMPIDA

Do nada, sei tudo
ou talvez quase tudo.
Sou especialista
em entender coisas
não explicadas
ou desimportantes.
Falo a língua da árvores,
seguro o vento com as mãos,
canto a música da alma.
Sou uma encantadora de joaninhas:
nunca estou só mesmo sozinha.

Guardo teias de aranhas
e flores secas dentro dos livros.
Coleciono desastres e ocasos,
palavras não ditas e amores inacabados.
Nunca sei o que é pecado
ou se existe pecado abaixo da linha
profana do Equador.
Eu daria uma atriz e tanto
numa história de amor.
O problema é sempre achar o mocinho
e ter um final feliz.

Ainda não sei muito bem
como caçar estrelas
ou falar com as pedras.
Mas, tenho certeza que elas
sempre me escutam.
Preciso conhecer
esse alfabeto de letras invisíveis
que apenas o coração domina.

Eu sou uma menina interrompida
pelas nuvens e pela vida.
Faço limonada quando tudo esta amargo,
largo as pessoas sem voz
para trás
e busco a simplicidade das heras
que enraizam com graça aqui
e ali. A delicadeza das avencas
é algo que me intriga também.

No final das contas,
eu sou zen:
zen dinheiro,
zen berço,
zen verniz.
Não vejo problema algum
em ser essa mistura
que não tem país.

Amanhã vou acordar
mais cedo e ensaiar
com as ondas do mar
a minha próxima fala.
Depois, vou trabalhar.
Nestas horas em que sou
apenas uma escrava do sistema,
minha singularidade sempre se cala.


Karla Bardanza




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