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COMPROMISSO QUASE PROMESSA

Quadro de Lori Preusch



Não vou ser uma pessoas
que morre de verdades.

Tampouco viverei de bom senso,
desse algo pequeno e tenso
que atropela as aventuras
e causa acidentes
de percurso.

Quero olhar para trás
e ter a certeza que eu trouxe
coisas incompreensíveis para o mundo,
para o fundo de mim.

Isto é o letramento da minha alma,
a certeza de que a minha existência
é do tamanho de uma benção.


Karla Bardanza





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PARA VIVER DE INTENSIDADES

Quadro de Giuseppe Pecoraro

  



Sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim
 Clarice Lispector






Não quero mais estes pensamentos.
Cansei-me.
Busco um algo para além
dessas coisas pequenas que estão
aqui, dentro dos meus espaços
pesados.
Quero trocá-los, devolvê-los à origem.
Já não há mais como ser igual
a mim porque ser eu mesma
dói devagar e deliciosamente.

Não quero passar o resto
de minha vida sendo vítima de minha própria
maldição e impunidade.
Preciso de outras verdades,
outras pipas voando no céu,
outras galáxias.

De agora em diante,
terei minha cabeça entre duas grandes aspas
para viver de intensidades e surpresas,
para ir muito além da metáfora
à flor da pele.



Karla  Bardanza







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ABSOLUTA

Quadro de Irena Chrul




O gosto da imortalidade
dissolve delícias na minha boca:
só a poesia me faz companhia
enquanto fico mais egoísta
e faço mais um pouquinho de nada
despreocupadamente.

Descanso a fé, o amor e a esperança
e vivo esse agora cheio de afinidade
com o meu corpo- obscuro objeto
do desejo de alguém-
sendo uma heroína, dançando nua
na memória incomum da sua luxúria.
E eu que pensava que o meu corpo
era só meu, descubro já gozando
que ainda sou, que ainda sei
ser absoluta.


Karla Bardanza








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TREMENDO DE DESEJO

Quadro de Sol Halabi


Meu nome está salvo em sua boca
e eu aprecio esta preciosidade,
colando o meu corpo no infinito,
deixando os meus poemas
tremer de desejo
enquanto esta agonia romântica
escorre pelas curvas das letras,
pelos cantos obscuros da minha alma
e me faz ver eu mesma
bem melhor através de você.


Karla Bardanza



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Orgasmo

 Quadro de Michele D'Avenia


As palavras me comeram ontem.
Elas laberam a minha musa
até que os meus dedos pingassem poesia.
O resto foi apenas êxtase


Karla Bardanza


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O FIM DORMIU DENTRO DE MIM

Quadro de Steven Kenny


Deixe-me te olhar
com os olhos cheios de ontem,
com a dor suportável
do amor.

Esse momento gentil
é apenas meu,
é  simplesmente um verso que escrevo
com as mãos da noite.

Há tanta delicadeza
em avançar ferida,
em sentir o além
do sonho.

O fim não é agora,
não foi antes.
O fim dormiu dentro de mim
e sonhou apenas contigo.

Deixe-me te buscar
nas estradas que vão
da pele ao coração,
nas coisas que não morrem nunca
porque não desisti ainda de sentir,
porque posso ainda parir estrelas
quando olho os detalhes
escondidos de tua alma.


Karla Bardanza







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DESPERTAMENTO

Quadro de Diaz Alama







Tirou a roupa
e enxergou a força
do dia dentro de si mesma.
Viu discos-voadores
no mar, garçons quase franceses,
comidas difíceis de falar,
palavras poéticas que andavam.

Sentiu tudo:
a intensidade de ser
o que nasceu para ser,
o belo já desapercebido,
o inconcebido morando no espelho.
Viu-se nova, viu-se velha,
viu-se assim.

E maravilhada,
balbuciou "sou poeta"
para a janela aberta,
para as flores da noite,
para a vida soprando
sonhos com delicadeza,
para a mulher tão extraordinariamente
comum que ainda respira
em seus versos.



Karla Bardanza
 
 

 






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1º ENCONTRO LUSO-POEMAS - VERSÃO BRASILEIRA

Ontem foi um dia memorável. Foi o 1º encontro do Luso-Poemas no Brasil realizado no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Nos emocionamos juntos e celebramos o que de melhor ainda há: A Poesia.




Poetas Fátima Abreu, José Silveira e eu
Fátima Abreu, Sol Figueiredo e eu
Poeta Fátima Abreu e eu mais uma vez

MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói - Local do evento

Todos os poetas juntos.Sentada: Poeta Iolanda Brazão.
Em pé: da esquerda para a direita: Poeta Roberto Esteves da Fonseca, Felipe Mendonça, eu, PCoelho, Sol Figueiredo, José Silveira, Sandra Fonseca, Diana Balis, Fátima Abreu e Branca.

Eu e a Poeta Fátima Abreu lendo nossos poemas

Poetas PCoelho, Sandra Fonseca e José Silveira


Poetas Sandra Fonseca, Sol Figueiredo e Alice Luconi



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AGORA E DEPOIS

Quadro de Daehyuk Sim




Quando eu choro baixinho,
com as mãos cobrindo uma dor
que é tão minha,
o lamento do mar é a poesia,
que ficou para depois.

Quando choro sem os olhos
por nós dois
e o infinito morre dentro
de mim,
há tanta paz para depois,
para depois de nós dois.

E o depois
é agora
quando coloco as mãos
no rosto, escondendo
nós dois.
E o depois
é um chorando por dois
agora e depois.






Karla Bardanza












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POEMA SEM MEIAS-VERDADES

 Quadro de Serge Marshennikov



A manhã é você. 
Amanhã não é você.
Será apenas claridade,
dilatando a retina,
arrebentando outra ruga,
outras rusgas.

A manhã e os seus poucos
segundos, e a sua obra-de-arte:
uma bem-aventurança,
uma dança deslizando
pelo corredor de portas fechadas,
quase nada,
absolutamente nada.

Amanhã, os segundos dobrarão
os joelhos. De costas
para o espelho embaçado,
verei com coragem
o que posso guardar apenas para mim
e egoistamente, vou mentir
que posso ser feliz
com tão pouco,
com quase nada,
absolutamente nada.


Karla Bardanza




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BRASIL - AME-O OU DEIXE-O

Quadro de Eduardo Arguelles





Quando eu era garota,
meu pai levava O Pasquim para casa.
Líamos escondidos
como se fossemos cúmplices
de um crime perfeito,
o coração na boca,
o sistema entalado na garganta,
a penumbra do desassossego,
coisas que as pessoas esqueceram.

Penso naqueles momentos
com gratidão,
penso no meu pai - esse sujeito
que me ensinou a transgredir com fé-
dando-me as mãos
para que eu fosse maior
e muito mais eu enquanto
o Big Brother de George Orwell
denunciava mais um vizinho.

Foi ele
quem me deu
o primeiro par de asas
quando só nos restava rastejar.
Olho para trás,
sentindo o gosto do passado na boca,
sabendo o quanto custou
ter as nossas línguas de volta
para saborearmos a nossa liberdade. 

E amo meu pai muito mais
por ter me ensinado
a resistir até o fim.


Karla Bardanza






Este poema é dedicado ao meu pai. Saudades do meu primeiro e único herói.

O Pasquim foi um semanário brasileiro editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.


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APENAS VIDA

 Ilustração de Danni  Shynia Lo





Não tenho enlouquecido ou duvidado. Não tenho vencido nem chorado. Não tenho feito nada para me arrepender depois. A vida está acontecendo com simpatia e sem muitas conjunções. Nada de "se", " porque" ou "logo". Estou vivendo, sentindo o ar encher os meus pulmões e o vento despentear os meus cabelos. Tenho andado, bebido, comido. Trabalho, às vezes aborreço-me, outras (so)rrio, mas não tenho tentado equilibrar-me no meio-fio. Desço logo para rua sem muita aventura e continuo caminhando sem pressa para algum lugar. Não estou precisando de grandes desafios, coisas, explicações ou razões. Quero apenas a alegria comum do dia a dia, as nuvens em volta da lua e tudo que me deixa intoleravelemte mais leve. Não sei se devo chamar este momento de claridade ou escuridão, de acomodação ou experiência. Palavras atravessam-me e acabo engasgando com nomes que nem ouso pronunciar, porque o meu despertamento veio tão tarde que os meus olhos nem querer dormir. Seria muito mais difícil perder a minha história de vista.
Não abro a porta com sofreguidão e nem tenho me olhado com caridades. Minhas verdades não são universais. Assumo as consequências da minha audácia. É o que ainda me resta todo dia depois que me perco da poesia e sento à beira de mim sem olhar para os lados e para trás. Talvez tudo isso tenha um nome só: paz. Talvez tudo isso seja a melhor maneira de existir. O que vier, que venha para me fazer sorrir, para me despir com alegria, para me fazer cativa dessa deliciosa liberdade tardia.



Karla Bardanza



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COM OS ESTOQUES DE SONHOS RENOVADOS

Quadro de Zhaoming Wu






Ele estava sentado
dentro de mim,
chamando-me para ir
para muito além do jardim
e de todas as coisas que ainda
continuam.

Fui vestida de pontos de interrogação,
caminhando em sombras apenas para renovar
os meus estoques de sonhos
e voltei com os olhos
cheios de luares
e as mãos desabrochando poesia.

Não sei por quanto
tempo a vida germinará
dessa alegria acanhada,
nem se as fadas ainda sabem
o meu nome.
As certezas caíram todas
dos meus bolsos.
Nada restou para depois de amanhã
além dessa vontade radiante
de voltar a ser eu mesma
todo dia.



Karla Bardanza






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O QUE FAZ O SANGUE SER

Quadro de Slava Fokk





Enquanto o corpo vai apagando
lentamente, meu coração vai crescendo,
reclamando um delicado prazer
desconhecido atravessado na aorta.

Não há mais espaço aqui dentro
para pequenas coisas, para
palavras e ritmos que não fazem
o sangue ser.

Descubro com gratidão
o tamanho de tudo que nunca foi medido
com os olhos nas horas e
nos momentos derradeiros
porque eles acordam todos
os meus deuses.

E é tão doce atravessar
todas as esquinas
com as mãos abertas,
sem querer mais nada além 
do que apenas sentir.



Karla Bardanza









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POEMA QUEBRADO

Quadro de Diego Dayer







Hoje o dia foi
assim:

......................................................

pontilhado de vazios,
lacunas e pontos de interrogação.

Coloquei um ponto final nele
quando a minha língua travou
e a última metáfora caiu de minha boca
e espatifou aos teus distantes pés.



Karla Bardanza







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SOU BRASILEIRA DE SEGUNDA A SÁBADO

Quadro de Marco Suali




Sou brasileira de segunda a sábado,
ar cansado,
correria,
a poesia caindo da bolsa
cheia de mundo,
ônibus lotados,
olheiras apenas.

Sou brasileira de segunda a sábado,
dou murro em ponta de faca,
mato um leão por dia,
engulo sapo,
estou um trapo
sexta à noite.

Sou brasileira de segunda a sábado.
Domingo perco a identidade,
a estribeira e tudo de menos e mais,
lembrando que amanhã já é segunda-feira...
Porra...que ela descanse em paz.


Karla Bardanza











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