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O VÔO MAIS ALTO

Quadro de Maria Pace-Wynters



Sentou no trapézio
e o rosto ganhou cores
que ela desconhecia.
Sentiu os desenhos
criando coisas
estranhas
dentro
dela.

A face
parecia
um rosto
que ela já tivera,
os olhos
abriram-se.
O coração
fez malabarismos.

Para o alto
ela foi
e nunca
mais voltou.


Quando me
perguntam
quem era ela,
respondo apenas
que era a pétala
de uma flor.



Karla Bardanza


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PURIFICAÇÃO

Quadro de Anabela Faia


Tirou os sapatos
com a pressa dos torturados
e molhou os pés no mar.

Ficou ali
de olhos fechados,
sentindo uma liberdade
reaprendida,
a justa medida pulsante,
o instante de líquido afeto.

Depois
que saiu do êxtase,
tudo estava mais perto,
mais sublime.

Deixou nas águas
tudo que valia a pena
deixar para trás
e se jogou
de corpo inteiro
na vida
uma vez
mais





Karla Bardanza







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MÃOS

Quadro de Howard Kanovitz





Não consigo viver
a superfície e desobservar
 as minhas profundidades
cheias de caos.

Você me mostra a lua
e ficamos ainda calados
porque ainda sentimos,
porque...
há ainda
luz entre nós dois...

O que vivemos
ainda é o altar onde
dorme o nosso único deus.

E enquanto
ele nos esquece
na sombra
da estrelas,
as palavras
ficam penduradas
no céu da boca,
querendo o corpo
e a paz
uma vez mais.

Teus olhos dissolvem-me
numa verdade silenciosa
e eu quase arisca,
confesso a minha escuridão
e já não sabemos quem
tem quem nas mãos.



Karla Bardanza
 










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PONTOS CARDEAIS

Quadro de Yoko Tanji




Não quero mapas,
rotas, cadeados
ou coleiras.
Pertenço as coisas
que me arrastam
e afogam
de prazer.

Nasci
para me abandonar
nas águas abissais
das palavras.
Deve ser por
isso que a
 minha caligrafia
só entende
de estrelas.
 e a minha sintaxe
ateou fogo
a minha existência.

Quando me deito,
o meu corpo
é apenas uma
desinência escondida
no norte ou talvez,
a oeste de mim.

 Amanhã
quando eu acordar,
tudo vai ter gosto
de sal e sul.

E não há bússola
que dê conta
do meu leste,
nem de todos
os meus pontos
cardeais.

Porque por onde sigo,
sei em
que (des)caminhos
estão
os meus inícios
e até os meus  finais.



Karla Bardanza




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ANGOLA, MEU AMOR



 Quadro em Fernando Caterça Valentim




Não chore mulher
pelas órfãos com
 sonhos mutilados
nem
pelos homens
arrastados
pela discórdia.

Tantos
ainda desaparecem
no fogo da ira,
tantos ainda pisam
em falso neste pobre
país rico.

Enxugue suas lágrimas
e veja que a luta trouxe
apenas um punhado de liberdade
e de dor.

Não chore mais por nós,
 Angola,
meu amor.



Karla Bardanza


Sobre as minas enterradas em Angola




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VERDADE

Quadro de Anne-Julie Aubry





Isto
está contido
num sentido
que apenas
eu concebo.

Isto
eu bebo
e me engasga
em noites
sem lua.

Isto
ainda me rasga
e me deixa 
quase nua.

E
quando
me falam
de vida,
lembro
apenas disto:
de que sem
você não
ex-isto.



Karla Bardanza




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HARÉM


Quadro de Jennifer Croom



Uma parte de mim
é um quadro perdido,
a outra é um esboço feito
à nanquim
e nenhuma delas
dão contam
dos abismos onde caem
todas as mulheres
que moram
dentro de mim.




Karla Bardanza









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ENQUANTO AS ESTRELAS ESTÃO SUSPIRANDO ENTRE ELAS

Quadro de Ellen Eagle


As estrelas suspiram entre elas. O céu deita-se para ouvir. Deito no telhado, querendo saber como medir a eternidade. Há algo que está suspenso no ar e a oeste da Via Láctea. Bebo o leite da esperança, alimento-me do devir. O que há em mim é inominável e grandioso. Arrisco-me a ir mais longe do que posso sem medo, sem segredos que não possam revelados para mim mesma. Descubro que algo pode viver feliz em mim independente do quantos nomes a felicidade possa ser chamada. Fale-me sobre você e de onde você veio e poderá ir. Fale-me de coisas que aumentam a alma neste instante em que o tempo perde o tempo e a vida vive em mim. Estamos vestidos de amanhã e amanhã seremos e saberemos o nosso lugar no esquema do destino e das idéias. Somos.

Cheguei onde deveria estar e estive onde sempre deveria. (Re)conheço este lugar, vendo pela primeira vez o que sempre vi porque você está aqui, olhando para este mesmo céu e abrindo as flores com as mesmas palavras que tocam os oceanos e os metais. Nada pode pertubar este momento de gratidão as nuvens e ao infinito que me deixa tão menor diante dos Deuses e tão maior diante da agonia. Fale-me das tuas procuras e de como o desejo precipita-se sobre a beleza. Meus ouvidos aguardam a delicadeza de tuas palavras de algodão.

Escuto a tua imensidão enquanto o meu silêncio te cumprimenta. Esta sou eu com as mãos abertas para o teu sol e os teus ventos. Estás na poesia que sempre me procura.





Karla Bardanza
Para George


While the stars are whispering to each other



The stars are whispering to each other. Heaven lies down to listen. I lay on the roof, wondering how to measure eternity. There is something that is suspended in the air and to the west of the Milky Way. I drink the milk of hope, I feed myself with the concept of becoming . What is in me is nameless and great. I dare to go further than I can without fear, without secrets that can't be revealed to myself. I find that something can be happy in me regardless of how many names happiness can be called. Tell me about yourself and where you come from and can go. Tell me about things that raise the soul at this moment in which time loses time and life lives in me. We are dressed in tomorrow and tomorrow we will be and know our place in the scheme of destiny and ideas. We are.


I am where I was supposed to be and I have been where I should always be. I recognize this place, seeing for the first time what I have ever seen because you are here looking at this same sky and unfurling the flowers with the same words that touch the metals and the oceans. Nothing can disturb this moment of gratitude to infinity and to the clouds that make me so small before the Gods and so big before agony. Tell me about your quests and about the desire that precipitates beauty. My ears are awaiting the delicacy of your words of cotton.


I hear your vastness while my silence greets you. This is me with open hands to your sun and your winds. You are in the poetry that always looks for me.


Karla Bardanza


For George



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QUESTIONAMENTO







 Quadro de Escha Van Der Bogerd





Por onde deve começar o amor
quando a alma subsiste,
alimentando-se de restos
e fins?

Por onde deve-se caminhar
quando nada mais existe
nas esquinas dos mesmos confins?

Como recomeçar nas sombras
do escuro mar, nas ondas cansadas
de bater sempre no mesmo cais
afogado de solidão,
morto de tanta paz?






Karla Bardanza








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MUDANÇA

 Quadro de Kathleen Kinkopf




Os ouvidos surdos
deixaram a verdade
do lado de fora
e enquanto ele escuta
apenas a sua tonta verdade,
ela faz as malas,
levando tudo
que fica entre o céu 
e as horas.


Karla Bardanza







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PERSONA NON GRATA

 Quadro de Ewelina Ladzinska


Algumas coisas acontecem dentro da gente sem permissão. Há um estranhamento, uma dúvida, uma busca sem asas. Estou esquisita comigo mesma. Ando ruminando, pensando com dor, com vontades que não devo ter. Fico me culpando, arranhado as paredes da alma com as unhas sujas de saudade.

Nada muda. Nada cai do céu. O que tem que ser sempre é. Às vezes, penso que eu poderia ser livre e perdoar. Mas, não consigo nem perdoar a mim mesma. Talvez, seja mais fácil ficar angustiada do que deixar a dor sai de dentro de mim. Aqui dentro ela é quase um troféu, uma coisa da qual preciso para lembrar de que já fui feliz.

Vivo agora de agonias, de movimentos que não me trazem para fora do próprio caos que sou. Estou envelhecendo e tendo mais medo, ficando sempre à margem da loucura, da ousadia, do que já fui e esqueci de ser.

É carnaval. cheguei a tempo de tirar a máscara. Essa persona non grata está me esmagando com essa tristeza e falta de perspectiva. Como posso pensar em morte se nem sei se estou viva? Como posso virar tudo pelo avesso e voltar ao começo quando nem sei se estou no fim/

Ai!Que os Deuses me livrem de mim.





Karla Bardanza






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(IN)DEFINIÇÃO

Quadro de Immaculada Juarez




A vida resume-se
a magoar e ser magoado.

Uns conseguem sobreviver
aos jogos toscos 
e maldições.

Outros rastejam 
com os joelhos esfolados.

Eu não sei
em qual dos grupos devo estar.

Talvez eu já não
esteja em nenhum dos dois.

Talvez viver
seja uma ato para
depois.
Muito depois do agora,
das cicatrizes,
das coisas vãs,
do amanhã.



Karla Bardanza









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SIMPLICIDADE

Quadro de Belinda Eaton





Se eu plantar coisas silenciosas,
coisas que suspiram
dentro deste momento,
talvez haja a esperança de que
a colheita possa ser mais delicada
e a noite um conta-gota de estrelas.

Com os olhos cheios de luares,
a nostalgia irá comer flores, cheiros,
pensamentos, todo o tempo contido
nas rugas, em páginas não escritas,
em poemas abandonados.

Não terei vontades,
o gosto doce da morte no canto
da boca, o suicídio como grito.
E tudo que vier será apenas
pelo que posso,
pelo que sou
pelo que sinto.



Karla Bardanza






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TRÊS

Quadro de Hugo Urlacher




Lembro sem gratidão
de seus olhos azuis por detrás
dos óculos procurando-me
nas nossas sombras
e estúpida exaustão.

Estar diante de ti
é engolir o nada
e cuspir o todo
que deixou de ser.

A rapidez sempre deixa
pratos espatifados,
corpos petrificados,
palavras que não saem
da garganta.

Por quanto tempo mais
vou resistir antes das minhas pernas
traírem o meu agora mais uma vez?
Quando vou esquecer
a matemática limitante do
três?



Karla Bardanza




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UMA ESCOLHA DO CORAÇÃO

 Quadro de Paul Fenniak



Desejou ser igual a todas as mulheres de sua idade: casada, formalmente casada. Infeliz ou não era apenas um detalhe. O amor nunca tinha chegado como deveria e ela, uma romântica, ainda acreditava que ele viria salvá-la da solidão, da opção não escolhida de ser mãe solteira, de não ter tido a capacidade de ter dado um pai a altura de seu filho. Como era difícil criar uma criança sozinha! Como era chato aquela certidão que a denunciava. Não pensou que ele fosse abandoná-la. Achou que pelo ao menos assumiria o filho. Que tolice acreditar que enquanto a barriga ia crescendo, ele mudaria de idéia. O menino já estava uma rapaz agora e ela decidiu nunca fazer exame de DNA nenhum. Não precisava dele mesmo. Trabalhava, era forte - por fora, mas quem precisava saber disso hein?


Estava envelhecendo e colecionava insucessos. Errou muitas vezes mesmo quando tentava acertar. Tinha pensado em suicídio em seus momentos de agonia e medo. Não fez porque ele precisava dela. Um dia, não precisará mais e ela estará pronta para ir de vez. Quando a angústia e a depressão a abraçam, pensa em reencarnação. Se existir mesmo, não quer voltar nunca mais. Estava cansada de se sentir esquisita, diferente e infeliz. Era difícil ser ela mesma. Não tinha conseguido seguir o padrão, as normas. Fez tudo ao contrário. Não pensou em abortar. Ou melhor pensou. Mas depois dis-pensou. Começou a se apaixonar pela barriga. depois pelo filho. Só que o filho estava crescendo, ia fazer a vida dele e ela ia ficar sozinha porque já estava mesmo.


O qie dizer para ela? Uma mulher assim é tão raro. Ela tem tanta dimensões, tanta imensidão. Queria apenas que ela fosse feliz, que tudo de bom a encontrasse quando ela estivesse no ônibus depois do trabalho, com os aqueles grandes olhos tristes pousados no coração, ouvindo a mesma música de sempre no Ipod. Eu sei que ela nunca mais voltará. Já cumpriu tudo que tinha para cumprir aqui.Espero apenas que antes dela ir embora, ela possa simplesmente sorrir.






Karla Bardanza






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SOU PEQUENA MESMO

Quadro de Edson Campos





Estou procurando motivos
aqui em meus vão
cheios de sombras
mesmo agora quando
desaconteço,
enxergo pouco,
limito-me
apenas ao que
abomino em mim mesma.

Uma coisa inominada
come a minha segunda-feira,
rasteja atrás da minha saia,
deixa tudo mais confuso.

Não sei 
como explicar isso,
não sei
ainda andar sobre os cacos
de vidro.
Nunca vou aprender
como perder e resignar-me.
Como ser superior
quando o salto do sapato quebra
e a maquiagem escorre?
Sou pequena mesmo.
A minha decepção nem cabe no meu peito.



Karla Bardanza









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CONSELHO DE ÚLTIMA HORA

Quadro de Emily C. Mcphie





Deixe que os pés te levem
para onde você parou.
Tudo vai parecer igual.
Tudo talvez esteja igual.
Alguma pintura nova,
o corredor gritando,
a hora quente diluindo
o suor.

Mudança, apenas
dentro dos teus olhos
que precisam ver a diferença.
Quem sabe dessa vez,
o céu esteja logo ali,
e você possa sentir menos
vontade de morrer ou fugir.

Deixe as coisas acontecerem
mais uma vez:
o ano, os meses, os dias,
os segundos dentro dos minutos
e vá ensinar a voar:
isso você sabe fazer bem.

Quanto ao resto,
esqueça.
Será melhor.
Coloque uma venda nos olhos,
engula, mastigue ou cuspa
o que te faz mal.

Siga em frente.
 Faça bem a sua parte
e ponto final.


Karla Bardanza







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UMA MULHER DE POUCAS PALAVRAS

Quadro de Macu Jordá




Abraçou-se,
olhando a paisagem do nada,
a solidão ajoelhada aos seus pés
sempre descalços.

Sentiu seu corpo
(corpo)
A carne morna, o sangue
triste, as coisas que ainda
existem.

A parede estava rachada,
as flores murchas,
as poltronas rasgadas,
o relógio funcionava com
alguma dificuldade.

A idade entrava pela
boca calada,
pelos olhos distantes
de si mesma,
pelas mãos ásperas,
pelas pequenas rugas
anunciadas.

Ela ainda era ela
sem os sonhos,
sem as palavras,
sem o que achou
que tinha tido.

Os sentidos a buscavam,
reclamando
sentidos.
Ela nunca teve pressa
em conhecer as respostas.
Andava devagar.

Esbarrrou 
com a imutabilidade:
ela ainda era uma mulher.
Cansada,
calada
e cheias de dimensões adormecidas.

Dentro daqueles olhos
havia apenas uma única interrogação:
o que houve com a vida?
O que houve com a vida?



Karla Bardanza









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OUÇO A DEUSA

Quadro de Josephine Wall




Ouço a Deusa
pisar calmamente nas nuvens,
vestida de estrelas
e com a Lua nos olhos.

Minha Senhora,
dentro do círculo estou.
Que mundo fique lá fora,
a hora é suave,
e as flores nascem em mim.

Mãos de alecrim,
cabelos de vento,
somos o tempo,
somos a eternidade
e o momento.

Ouço os encantos
da Lua Cheia,
ouço o oceano chorando
e a sereia.
Minha Senhora,
água, terra, fogo e ar,
os elementos me celebram,
A vida é céu.
A vida é mar.

Mãe,
em teu útero de paz,
estou mais uma vez
em comunhão contigo.
Desenhe a Lua Crescente
em minha testa 
com tuas mãos delicadeza
que eu te direi onde mora
a verdade e a beleza:
em perfeito amor
e em perfeita confiança vivo.

Minha Senhora
me ajoelho
te sirvo
porque és única,
porque esse é o mistério que aprendi.


O Sagrado Feminino
habita em meus espaços
de silêncios.
Ó Mãe!
Roupas para quê?
Vestida de céu estou
por mim e por você.

Minha Senhora,
as águas suspiram.
O divino é o vinho da vida.
Mãe,
a roda gira,
Sabás e Esbás:
eu te honro com alegria,
com a poesia que aprendi
em noites de lua.

Minha Senhora,
sou tua.
Mãe Amada,
que venha o solstício
para celebrarmos novamente
a grandeza do início.





Karla Bardanza




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IMPRESSIONISMO À MINHA MANEIRA


 Quadro de Berthe Morisot




Nessa tela branca, alvo tão alvo, jogo minhas impressões caladas do universo, do verso feito cor. Todos os matizes deslizam mansos neste pincel cego em minha mão e caminham com tanta classe diante da luz. Minhas sombras tão claras são aves raras voando para o norte, para o céu cheio de neve e saudade.

Sinto-me tão perto de Berthe Morisot e Mary Cassat nessa viagem cuja a fidelidade ao real é toda minha.Tudo é fugidio e durável: decomponho-me com alegria. Nada misturo na paleta, apenas a vida e o sonho.

Pinto mais essa cena onde o céu se perde dentro de mim e dissolve o meu espanto diante do amor. Adoro esse momento de tanta claridade nesse labirinto onde sinto tudo e afeto todos. O impacto é tão doce e suave. Saio de mim mesma e fico olhando tudo em ti e quando tudo se cala, a tua alma me sorri.


Karla Bardanza





Berthe Morisot e Mary Cassat eram as duas mulheres que faziam parte do grupo impressionista.
MORISOT (Berthe), pintora francesa (Bourges, 1841 - Paris, 1895), cunhada de Manet. Praticou um impressionismo elegante.
CASSATT (Mary), pintora e gravadora norte-americana (Pittsburgh, 1844 - Le Mesnil, França, 1926). Radicada em Paris, foi amiga de Degas, que a orientou. Juntou-se aos impressionistas da escola de Paris e ganhou reputação internacional.
Acredita-se que tenha sido Morisot quem levou Edouard Manet, seu cunhado, ao Impressionismo. É exemplo da obra de Morisot, a “Vista de Paris do Trocadero“, em que retrata a cidade baseando-se na vista de cima.
Cassat, por sua vez, era uma das artistas do conjunto cuja influência das estampas japonesas era mais nítida em seu trabalho. Seus trabalhos versavam sobre temas domésticos, tratados de forma simples e direta. “O Banho“ é uma boa amostra deles





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A POESIA DOS SENTIDOS

Quadro de Luis de la Fuente



Minha boca conhece o teu absoluto.
Sinta-me.
Mãos molhadas no além,
tudo antes,
tudo agora-e-depois também.

As minhas mãos te conhecem,
teu sofrimento me completa
e alucina,
diluo-te.
Água, leite e mel.
Céu enlouquecido.
Estamos quase lá
na fronteira da agonia,
poesia dos sentidos.

O meu corpo te conhece,
a minha dança nos teus olhos,
eu - o sangue dentro de ti
quando estás dentro de mim,
o prazer dissolvendo o mundo:
nós, apenas nós. 
Tua voz lambendo os meus ouvidos.

A minha alma te conhece,
teu infinito quer a minha eternidade,
o teu grito precisa da minha maldade,
somos algo inominável,
somos o desejo, a volúpia,
o gozo do gozo.

E você me (des)conhece
de novo
e
de novo
de novo.


Karla Bardanza







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MUITO CALMA NESSA HORA

Quadro de Jerry Ott




Não sei se odeio
ou não odeio:
eis a questão!

Desconheço-me.
Reconheço-me.

Essa sou eu duas horas 
depois de afiar a língua
e o tridente.

Cuspo no chão,
trinco os dentes,
dou soco em ponta de faca.

Vomito fel,
amaldiçou,
inferno,
que inferno!

Meus diabinhos estão soltos
e não sei bem como lidar 
com isso sem machucar
ou sair machucada.

Por que será
que nasci com uma asa apenas
e tão danada?

Falo sozinha,
culpo até a minha última geração
e depois choro embaixo
do chuveiro
enquanto o sangue coagula
dentro do coração.

Durmo em chamas,
sem pensar em vingança.
Não carece não.
Temos o tempo inteirinho
e até a próxima encarnação.



Karla Bardanza



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