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CAMA DE GATO

 Quadro de Louise Camille Fenn



Acordo mas ainda estou dormindo. Pego o ônibus tentando ler sempre o mesmo livro, olhando pela janela de vez em quando apenas para ver se algo mudou além do eterno nada. Desço no mesmo ponto, atravessando todas as ruas, toda a falta de perspectiva que mata vagarosamente o que me mantinha viva e vou seguindo sempre em frente para chegar no ponto de partida.

Estou cansada de mim e dos pequenos vazios que moram na igualdade dos dias, nas coisas mornas e frias que alimentam a minha fome triste. Se eu soubesse como sair dessa cama de gato, talvez eu pudesse dar conta das estrelas cadentes e de todos os pedidos que nunca fiz. Já nem sei quem sou eu e se esta que esta aqui é mesmo eu ou se eu não sou mais eu.

Daqui para frente, apenas uma única certeza. Isto não me deixa desolada. O que esmaga o peito é o que não tem remédio porque remediado parece estar. Quem disse que isso era um bem supremo? Onde foi que eu errei? Onde foi que eu errei?Não sei se tenho tempo ainda para responder as minhas eternas dúvidas. Há tantos desacertos, tantas palavras que sucumbiram antes de mim. Não há muito mais para dizer depois que o efeito da anestesia passar. A dor não cede a minha alforria e pequenas verdades.

O regime ainda é escravocrata e a chibata tem endereço certo. Enquanto traço o mesmo itinerário, apenas ela está mais perto, apenas ela vem na minha direção. É triste esse silêncio que antecede tudo que um dia deixará de ser.


Karla Bardanza



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QUANDO TODO MUNDO ESTIVER DE OLHOS FECHADOS



 Quadro de Cathy Delanssay



Não quero ser gente grande.
Nasci para ficar pequenininha
e caber nas asas das joaninhas
ou nas pétalas das flores.

Ser gente grande dói, 
porque quando
acaba um problema,
eles inventam outro
ou então eles pensam demais.
Às vezes, eles tem problemas para ver
o que é bonito mesmo
quando bonito não é.

Vou ficar sempre assim:
querendo o que não tem fim,
labuzando os dedos de prazer,
gritando que quero e pronto
e se não der certo,
vou me jogar no chão
e me descabelar
até o desejo escrever no ar
que eu posso, posso, posso...

E quando todo mundo 
estiver de olhos fechados,
vou abrir os meus em cima do telhado
e vou pescar a estrela mais linda
apenas para enfeitar o meu quarto
triste e amontoado de contas
para pagar e saudades
porque eu cresci por fora,
mas por dentro,
eu tenho só cinco anos.



Karla Bardanza
 

 






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ENQUANTO ME ABRAÇO

 Quadro de Cherylene Dyer

Não tenho sonhado ultimamente. Deve ser falta de tempo ou disposição. Quando estou de olhos fechados, as coisas estão em preto e branco. É estranho não esperar acontecimentos e surpreender-me pouco. Não sei bem se esta fase é a consequência do cansaço ou do excesso de alguma coisa entre a sabedoria e racionalização. Sempre gostei de viver transbordando, da paixão escorrendo pelos poros. Agora, estou contida em minhas próprias limitações e ressecamento. Meus pés estão tão fincados no chão que tenho notado minhas enormes raízes. Minha pele está séria e entrando em lenta erosão. Minhas mãos nem procuram mais o inatingível. Viver tem sido um ato estranho ultimamente. A vida não deixou de ser maravilhosa nenhum instante. Sou eu que não me sinto mais assim. Não tenho medo de me perder nesta seriedade, inexatidão e estranhamento. Tenho medo é de perder a poesia, de acordar de repente e não tê-la mais me esperando nas pontas dos dedos e nas curvas do coração. A rotina nos engaveta e tenho a impressão de que me despertenço toda segunda-feira. O calendário sufoca-me com todos aqueles números e as coisas sempre iguais.

Não tenho planos, estratégias ou dicas para uma vida melhor. Os livros de autoajuda não me ajudam e eu creio que o ideal é viver à la Zeca Pagodinho, deixando a vida me levar. Vou olhando para frente, esquecendo as coisas lentamente, criando novas saudades, refazendo caminhos, vivendo mais perto de mim.Não sei se a vida vai estar mais incrível amanhã. Certezas não tenho nenhuma. Daquilo que aprendi, pouco sei também. "Um dia de cada vez" diz a pulseira que vi no braço de minha filha. Que seja assim então. O hoje vai acabar em duas horas para o amanhã começar. Estou respirando e tudo torna-se possível dentro do real. Vou fazer um favor a mim mesma: esquecerei que isso tem nome de vida. Será mais reconfortante acordar sem a lembrança de que preciso dar conta desse momento intensamente. O outro nome da sabedoria deve ser paz. Encaixo-me nesta alternativa com gratidão.O que vale mesmo é a vida aqui dentro, é o coração batendo seja por que motivo for, é o amor guardado nas estranhas enquanto me abraço mesmo quando sinto tão pouco, tão absolutamente pouco.


Karla Bardanza



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DEVIR, FILOSOFIA E (FALTA DE) SENTIDO

 Quadro de Ted Seth Jacobs



Não tenho filosofia
e nem sentido.
Pensando bem, 
creio que apenas Alberto Caeiro
me entende
Sou um ser na curva
do devir:
pronta para cair
com leveza
e
gratidão.

Minha realidade sensível
é inapreensível a olhos nus
e o meu estado é transitório
ou talvez homeopático.
Pequenas doses de problematização
e teoria tem me ajudado
a pensar quando nem penso mais.
(Pensar embrutece a visão)
Prefiro a sempre poesia
que cabe na ponta da minha língua
e no céu da minha boca
quando estou louca,
santa ou puta.

O meu logos já
perdeu a razão e a medida
e Permênides não mais
explica nada porque
o ser é e eu não sou.

Fico entre o ser
e o nada:
é bem melhor assim.

Minha inquietação 
me arranca do chão
e me deixa na zona de indescernibilidade
onde o meu devir de nada provém
além de vir de mim
para de mim sair.






Karla Bardanza











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MATURIDADE

 Quadro de Carlos Oviedo



Aqui tudo mudou. Os silêncios escutam-me calados e a pressa cedeu lugar a mansidão. Minhas mãos ficam mais paradas e pouco importa se a eternidade tem nome de nada. O corpo perde os contornos e ganha uma luz desconhecida, a pele resseca com avidez enquanto que descubro novas formas de lidar com a minha voz e a minha vez.

Coisas pequenas ficam enormes, princípios são acordados ou dormem, tudo fica tão claro, tão cheio de significados e símbolos. Tudo pode ser um erro danado ou apenas uma nova forma de aprendizado. Os sentimentos se relativizam e a balança está sempre equilibrada. A justa medida tem nome de vida e eu sou uma estrela.

A imutabilidade perde-se em novas imagens e metáforas, ganhando palavras e candura. Os olhos olham para dentro e desobservam a pequenez. Lágrimas caem sem preguiça por tudo e nada quando sou bruxa ou fada.

Já não sou mais o que estava acostumada a ser. Meu eixo existencial desconhece o poder ou qualquer coisa que não tenha a dimensão do coração. Não sei quando a metamorfose aconteceu. O único fato que ainda reconheço é que essa mulher (des)encantada ainda sou eu.


Karla Bardanza


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AMOR E LUZ

Quadro de Alfredas Jurevicius




 Traga a luz, traga a luz para Vênus.
Sem ela, nada desabrocha,
respira ou eterniza.
Traga, traga a luz
e crie o incriado
profano ou sagrado.

A luz não sobrevive sem o amor:
esse mistério que une os opostos,
e me faz transitar entre os mundo
e autotransfigurar-me
pois mesmo sem nada ter,
tenho quase tudo.

A rosa de cinco pétalas
está em minhas mãos,
sinto-a viva,
entrando em minha alma
em perfeita simetria.

Estrelas multiplicam-se em triângulos
e triângulos são poesia.

Traga a luz para mim
e acorde-me desse sono,
da ilusão pequena e primordial.
Luz, luz, luz,
anjo na escuridão.

Vênus precisa de ti
e da luz preciso eu,
faça-me conhecer o desconhecido,
pois o amor sob vontade é 
a lei do meu único deus.





Karla Bardanza







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OUVINDO SINOS TIBETANOS

Quadro de Linda Joyce



Além do céu onde os sons propagam-se mansamente pelas estrelas invisíveis existe paz. Todas as almas estão ali esperando o retorno enquanto o espaço-tempo dissolve-se. O passado esquecido abre as portas para o futuro, para as possibilitadas ilimitadas do amanhã e a vida recomeça com gratidão.


Quando voltei, acordei assustada. Não estava preparada para ser eu mesma. Isto ainda é um grande desafio diário. Às vezes, procuro-me embaixo das roupas, dos múltiplos eus, querendo saber o quanto ainda resta de mim em mim mesma.


Alguma coisa ainda é nostalgia. Sinto falta do que não tive, de algo que já foi e nunca deixou de ser, mesmo que não seja mais. Isso é o meu grande enigma que não procuro mais decifrar porque não há respostas tampouco perguntas.


Não sei porque cheguei aqui com esta lacuna, com este ponto obscuro em minhas profundezas. Não sei se algum dia poderei cimentar este grande abismo que me separa da completude. Entre o ontem e o amanhã, apenas a vida: esse poderoso bem, essa palavra inigualável no céu de minha boca.


Quando eu me for para o seio da Lua, será sem aviso prévio. Não quero que me paguem nada, nem quero sair devendo. Irei sem pressa ou expectativas e onde quer que eu esteja, ainda estarei viva.




Karla Bardanza




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CRUA

Quadro de Joel Rougie




Que a Lua cuide de mim
e desenhe o meu destino
em um roseiral.

Já me vou por ai
sem hora para chegar,
com a cabeça bem confusa.

Continuo vestindo
a mesma blusa.
Não mudo assim não.

Tem coisas que permanecem
e eu acho que está bom
desse jeito.

Peito perfurado de balas perdidas, 
minhas pobres vidas,
minhas indas
e vindas
e eu na cena ainda.

Já não sei mais
o que me faz feliz
nem quem está com a razão.

Estou crua
mais uma vez.
A carne exposta,
os ossos doendo,
os olhos cheios de choro.

Mas está tranquilo
mesmo sem Happy End.

Deixa estar,
um dia a gente se entende.
Um dia,
as coisas dão uma virada.

Quero mesmo
é seguir em frente
enquanto afundo
no mais profundo nada.





Karla Bardanza









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RESIGNAÇÃO

Quadro de Hossein AliAsgari





Dei as costas para o Sol,
ofendendo-o com a mágoa das sombras,
virando o rosto
para a sempre chuva que cairá
por tempo indeterminado.
O perdão não virá do céu
e eu que sou amedrontada
pela minha força e mansidão,
pisei em teus canteiros:
todos aqueles que vão da alma ao coração.

Daqui vejo
os danos causados pelo crime imperfeito,
pela minha boca incessantemente
aberta e ressentida.
Se eu tivesse lágrimas para chorar,
eu seria um pouco mais feliz.
Falta-me a explosão dos infelizes
mesmo quando as cicatrizes chamam
por mim.

Sabe, não te amo pouco
ou muito.
Amo-te na medida certa
e desequilibrada que não consegue
camuflar ou aceitar menos do que
preciso e podes me dar.

Sai, fechando florestas,
apagando luzes,
arrastando-me para
o mais inferior de mim,
querendo que você dissesse não,
querendo que você dissesse sim.

E eu que nunca acreditei em ti,
acredito menos ainda.
Aquele homem, eu amo
e abomino.
Aquele homem,
ficou para trás com o que restou
das nuvens.

Não quero pensar,
nem ver
o quanto ainda há você
em cada face minha no espelho.
O amor tem mil rostos
e todos eles estão voltados
para o passado,
para o meu bem-amado,
para todo o mau
que eu deixei nos teus olhos
sempre azuis e nunca meus.

E agora
que não há mais esse único deus,
minha fé desmorona delicadamente
porque o amor é apenas
para quem tem audácia
e sente.
(Você foi amado, você é amado, você sempre será amado
mesmo quando não sobrar nem mais o amor)


Feliz aniversário.
Feliz tudo que recomeça
para ti sem mim.





Karla Bardanza







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HONESTAMENTE EU MESMA


 Quadro de Paul Bond





Pago o preço
da liberdade
em suaves prestações
a perder de vista.

Nós, grilhões,
correntes, gaiolas
são palavras mofadas.
Nasci com a boca 
cheia de ousadias,
nasci esquisita,
aflita para seguir
em frente.

Não tenho asas,
tenho é sede
de coisas maiores
do que o infinito.
Tenho é vontade desgovernadas.
É assustador ser eu mesma.

Apenas a minha alforria
não me basta.
Careço de ver 
outros pássaros no céu,
careço de coisas
(des)necessárias
como poesia e pão.

Minhas mãos
não são macias,
nem a minha voz é suave.
Minha alma é grave
e graves são os meus erros.
Nunca ajoelhei implorando
perdão.

(E você
nunca viu 
que mesmo livre,
sempre estive em tuas mãos)

Pago o preço
de não saber ser
o que deveria.
Não crio rugas,
nem fico sem dormir por isso.

Quem quiser que me cuspa
se conseguir me engolir
porque eu...ah!
eu sou assim:
honestamente sempre eu mesma.
 
 


Karla Bardanza





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PALAVRAS AFIADAS

Quadro de Linda Bergkvist



Que vá pelos ares
sem deixar nenhuma partícula,
cutícula ou coisa
que o valha.

O absurdo do absurdo
é o silêncio do ódio,
a vontade de escarrar verdades,
a palavra entrando
desatenta e desgraçada
rompendo as artérias tolas
 do teu coração.

Lambo os dedos
ensaguentados com alegria
depois que arranco o que restou.
Minhas mãos sequer tremem.
Não há espaço para mais nada
além da faca afiada,
além da faca enfiada
no mais medíocre de você.




Karla Bardanza








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MINHA MÃE ME ENSINOU A VOAR

Quadro de Alice Mason



Minha Mãe me ensinou a voar.
Uma vez ela me perguntou
se eu queria ser uma borboleta
ou um passarinho.
Respondi que não sabia.
Queria mesmo era abrir as asas
e ir cair de cabeça nas nuvens.
Desde então, fiquei
lá em cima
e, sinceramente,
não sei como pousar.

Minha Mãe me ensinou
a caçar tesouros em profundezas ignoradas.
Uma vez mandou que eu me olhasse
no espelho e perguntasse a mim mesma
se eu merecia aquilo.
Respondi que não sabia.
Mas fui correndo pra frente
do espelho e fiquei cara a cara
comigo mesma, olhando bem
dentro dos meus olhos
e repetindo várias vezes:
não mereço,
não mereço,
não mereço.


Minha Mãe me ensinou
a caçar estrelas.
Ela falava assim:
você pode, você pode.
Eu sempre acreditei nela
e às vezes, mesmo sem poder,
eu podia.

Minha Mãe sempre falou verdades
que eram dela.
No início, eu não queria escutá-las
e fiz o que a minha cara
e corpo dava.
Agora, falo as minhas verdades
para a minha filha.
Engraçado, acabei ficando
igualzinha a Minha Mãe.

Minha Mãe é uma Mulher
Inigualável.
Foi forjada nas intempéries da vida:
perdeu a Mãe aos 2 anos de idade
e chorou a vida inteira por não ter tido
tempo para ficar no colo de quem
sempre amou sem ter sequer conhecido.

Minha Mãe
é sagrada.
É extensão de tudo 
que é divino.
Todas as coisas provem dela
e todas as coisas voltarão 
para ela.

Minha Mãe
me entende.
Quando choro,
ela chora também.
Minha Mãe
me admira:
os olhos dela brilham
quando ela olha para mim.

Minha Mãe
é o meu tudo:
o meu princípio, meio e fim.
Depois dela,
não haverá mais nada.

Minha Mãe
é a principal culpada
de eu ser assim:
uma mulher em estado permenente de flor.

E se o amor 
tem outro nome,
eu aprendi também
porque ela me ensinou
que o amor é o irmão do bem.

Essa é a Minha Mãe:
uma mulher, uma menina,
uma fada, uma feiticeira,
uma Deusa,
uma Deusa.


Ajoelho aos pés dela
e ela me abençoa todo dia.


As pessoas não sabem
mas acho que o nome da Minha Mãe
é também poesia. 
Esse é um segredo nosso.
Um dia a minha filha vai descobrir
isso de mim também.



Karla Bardanza



Para Minha Mãe.








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A GARGANTA DA SERPENTE

Quadro de Diego Fernandez




Não me ames
com as mãos sem poesia.

Preciso das palavras
que estão ainda na garganta da serpente,
nas coisas que eram
quando você era de repente.

Aquela delicadeza escondida
faz-me pensar que quem morava ali
fugiu por obrigação,
para cumprir o melhor papel.

Virgem para mim
é quem pertence a todos
sem pertencer a nenhum.
O privilégio que tivestes
eleva-te a ser mais um
na escala Richter do tabu.

O que amo em ti
é o poeta empoeirado,
o homem desvairado
que ainda pode beber a noite
e recitar o céu.

Nossos passos alargaram-se.
Não sabes mais como
roubar o fogo como Prometeu
e eu continuo a ser Pandora,
abrindo caixinhas
por mera curiosidade e vocação.

Confesso apenas
que reverencio
o que ainda permanece
quando nossos olhos encontram-se
na curva.

Estou fazendo as malas
e de mudança.
Você não sabe mas eu não posso
confiar num deus que não sabe como dançar.
Espero apenas
que seja indolor esta viagem.

Não sei de onde tirei
tanta coragem para amar
alguém tão diferente de mim.

Não me queiras
sem a exata consciência desta grandeza,
sem  desvario ou ousadia.
E quando eu me for
(e isso já está agendado),
lembre-se apenas que a poesia
ainda precisa de ti.

Com amor.



Karla Bardanza






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"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." Friedrich Nietzsche

Quadro de Rod Luff




Costuro a alma
ao corpo,
alinhavo sentimentos,
chuleio o tempo
vagarosamente
ao som da melodia das estrelas.

Minha agulha
tem dois olhos
e tece teias 
de palavras também.

O bem é quase
uma filosofia,
o mal é nada
mais que um conceito.
Aprendi
que tudo na vida
tem jeito ou poesia.

Sou uma tecelã
de emoções
enrolada nos fios
do infinito
e o que sinto
está para além
desse mundo imediato,
desses fatos curtos
que esgarçam
a vida.
 

Sou uma Penélope às avessas
chorando no tear.
Sou Ariadne sem nenhum fio ou Teseu.
Sou apenas eu mesma dançando
com a Deusa e o Deus.



Karla Bardanza

 
 







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PELA SEMENTE, A FLOR E O FRUTO


Observo teus rituais de prazer,
invocando o que sempre foi,
clamando pela semente,
pela folha, pela flor
que desabrocham em perfeito amor
e perfeita verdade.

A Amada Lua 
em sua triplicidade está
onde ninguém pode ver:
carrego-a com devoção
e não vejo apenas este agora.
Para além deste real,
há mundos suprassensíveis,
há aquela que sempre me terá.

O caminho leva-me
para um encontro 
com a minha própria magia
e esplendor.
Deslimito-me deste arcabouço,
entrando em tua dimensão,
porque esta é a Arte.
O tempo é cerimonial:
liberto-me arrebatada.
E no limiar desta Gnose,
tenho tudo
porque sou
sagrada.



Karla Bardanza




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CERTIDÃO DE NASCIMENTO

Quadro de Angela Reilly





Deixe as nuvens nos cantos
dos olhos e as mãos vazias.
Guarde as teias de aranha
nas caixas atrás da cama.
Esqueça tudo que já foi dito
por quem desconhece
as tuas chamas.

Acenda as flores,
apague as linhas tortas
que ainda te prendem.
Vire a mesa com delicadeza.
Algo te espera 
dentro de alguém.
Algo é apenas luz e sofreguidão.

Exerça os músculos
dos teus braços e do teu coração
sem pressa,
sem fome.

Teu nome é estrela
a partir de agora.


Karla Bardanza






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ESTÁTICA

Quadro de Mara Light




Publique-me no vento,
nas costas vermelhas do hoje
sem disfarçar
quando olhas as diferentes diferenças
do sempre.

Aguardo a lua
e o mel,
a cisão alargando
um pouco mais as minhas fraturas.
Viver é fechar os olhos do agora.

Dói
o que vejo.
Dói
o que não alcanço
porque não sou da altura
desse sonho.

Saio por onde entrei
sonolenta,
lenta,
nublada.

O que fica para trás
é quase nada,
O que fica para trás
é a minha musa
amordaçada.



Karla Bardanza






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DEPOIS DO FIM

Quadro de Andrew Gonzales





quase não vejo
as flores escondidas
nas sombras da casa,
nem ouço
a respiração ofegante das palavras
pelo corredor.

o que fica depois do amor?

quase desconheço
os mesmos lugares:
não há nada
mais aqui para mim.

o que resta quando nada mais resta?

minhas mãos hesitam:
faltam-me o ar e a eterna poesia da vida.
não busco respostas rápidas.
abraço a solidão com candura.

quando a alma doeu tanto,
tudo pode ser suportado
com glória e absoluta paz.

o que fica depois do fim?
apenas amar uma vez mais.



Karla Bardanza









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