Seja bem-vindo. Hoje é

TE SINTO AQUI

Quadro de Nathalie Vogel




Te sinto aqui.
As águas fazem curvas,
o delírio amarra as mãos,
o corpo existe.

Te sinto aqui.
O sentido não tem palavras,
os olhos nada vêem,
a pele entende.

Te sinto aqui.
Te sento aqui.

E nem preciso de fim
para chegar lá
onde as amoras e as cerejas
escorrem.

Te sinto aqui.
E morro
em metades
colhendo o melhor
de mim.



Karla Bardanza





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NÃO TENTE VER O QUE CARREGO EMBAIXO DA SAIA

 Quadro de Julie Hefferman




Não tente ver
o que carrego embaixo da saia.
Pode te assombrar.
Pode ser alguma coisa
sem explicação
-porque eu mesma nunca consigo me explicar-

Aqui
há um mundo,
um infinito,
um algo que minto.
Aqui
a água ainda é potável.

Dou-te de beber
e apenas isso.
Todo o resto
é por sua conta e risco.

Todo o resto
é 
para ser decifrado
e fluidificado.

E se ainda assim,
achares o que já posso
ter esquecido ou amaldiçoado,
não me digas,
não fales jamais.

Quero o benefício da dúvida,
as coisas que me complicam
e derretem.
Quero a mim mesma
cada vez mais virgem
e brutal
porque já não tenho
mais tempo para o que
encurta os meus dias,
porque já não posso deixar
de ser eu mesma.



Karla Bardanza



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GERÂNIO

Quadro de Kim Nelson




Como um gerânio
exposto as suas próprias
fraquezas,
isso é.

O desalento
é o tempo mudo,
as coisas que não são
transitórias,
o azul sempre azul,
absoluto 
distante dos meus contornos.

Como um gerânio
guardado nas sombras,
ressuscitando
com a luz que entra
pela janela,
isso é.

A dor e a verdade
são todas e minhas
quando as pétalas
se abrem
buscado o impossível e
toda a luz não cabe
no agora.

Como um gerânio
tentando ser alegre,
isso é.

E o que ainda me conforta
é a minha audácia,
é a minha coragem
de amar isso
que ainda insisto
em chamar de amor.



Karla Bardanza






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A QUEM INTERESSAR POSSA

Quadro de Casey Baugh



As mesmas coisas continuam
sempre primeiro.
As palavras não mudam,
nem o formato,
nem nada.

E
no entanto,
é isso
que está aqui
with a little help.

Salve-se quem puder
penso eu com reservas.
Essa mentira,
quem não quer?

Isso resseca os meus lábios,
desanima os meus olhos,
mas não enfurece a poesia.
O acordo permanece igual.
A mentira também.
Viro a minha cara
para isso.

Porém a quem interessar possa
que fique claro que
nada me aborrece.
Estou zen,
sem,
cem mil dias
além.


E la na frente,
tudo vai ser muito
mais diferente
do que dita essa vã
filosofia
do agora.




Karla Bardanza




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AMOR-(IM)PRÓPRIO

Quadro de Matteo Arfanotti




Me concedo o direito
de te esquecer todo dia mais
um pouco até que estejas morto.

Até que o meu corpo
diga amém.

Esta utopia me deixa tão zen,
tão mega-ultra-super-moderna.
É sensacional viver sem dramas,
tramas, fios que enrolam
o desespero.

Não me libertei.
Aprendi que há vida
depois de perder
o amor-(im)próprio.


Viver é sempre
reciclar o coração.
Tenho uma nova palavra
entre aspas:
"recomeço".
Tenho uma nova linha
na palma da mão.


Karla Bardanza


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QUE SEJA RÁPIDO ENTÃO!

Quadro de Jenny Laden


As palavras não me entendem, não me definem. Tenho andado vazia de adjetivos e emoções. Creio que a minha garganta engasgou com algum sujeito indeterminado ou a minha vida perdeu o singular. Ando plural. Ainda não sei se isso é bom. Minha sintaxe está doente e cansada. Deve ser o final do ano se aproximando com essas coisas inexplicáveis da semântica que vive buscando significado no que já perdeu a significância.

Tenho vivido em função dos numerais e das interjeições: ai! Ui! Oh! E não sai nada mais da minha boca. Só do bolso. Sei que estou monossilábica ultimamente. Essa economia é tudo que tenho na ponta da língua e do coração. O que será que houve comigo? Tenho me sentido muito objeto. Indireto, é claro. Tenho vivido procurando coesão e coerência e, no entanto, estou assim precisando de um complemento (pode ser verbal ou nominal: ainda não sei também). Quem sabe uma oração possa me salvar? Que seja coordenada e (in)subordinada.

Tenho urgência de predicativos, de amores vivos, de um novo pronome. Nós é tão lindo! Careço de um vocativo: venha logo, amado!

Meu português está pela metade. Tomará que acabe logo essa minha fase de oração sem sujeito, de intransitividade. Esse negócio de não precisar de um outro termo que me complete estã me deixando louca, rouca, pouca. Ainda bem que tenho as rimas...Mas, o que rima com essa falta de mundo?
F
U
N
D
O
No fundo do poço, estou. Pelo ao menos, o verbo estar é transitório. Que seja rápido então!



Karla Bardanza




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TRANSPARÊNCIAS DO INVISÍVEL

Quadro de Alex Kanevsky






Ando tão desacostumada
de sentir que conto
todas as nuvens
em teus imensos olhos azuis
com certa fraqueza
e cansaço.

É tão triste
quando as coisas
estão dissolvidas dentro da
gente como folha de livro velho
que vai quebrando com qualquer
mão incauta,
com o toque mais delicado.

Perdi tantos pedaços
de mim em páginas
antigas,
em histórias inacabadas,
em coisas desencantadas.

Não espere fogos de artifícios
ou solstícios.
Não espere nada.
Ainda falta muito
-muito mesmo-
para você aprender a me ler.

Minhas metáforas
foram escritas do outro lado
da folha.
Tenha o cuidado de procurar
as minhas transparências
no invisível.
O que os seus olhos
vêem é apenas uma única
possibilidade do real.
Eu sou uma verdade fugidia.





Karla Bardanza







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O MELHOR FILHO DE XANGÔ





Meu cabelo
é preto, pretinho,
selvagem como o meu sangue,
como todos os atabaques
que me chamam de amor.
É Alujá:
começo a chorar
(por ele)

Meu sangue,
minha pele,
meu orgulho 
herdei do meu avô:
cabra danado,
neguinho moleque,
homem de fibra,
o melhor filho de Xangô.

Sentava com ele
e ouvia com a alma
carregada de rezas,
as verdades absolutas
sobre sangue e honra:
essas coisas que o tempo
parece esquecer.

E quando
ele já estava caminhando
para lua
(e isso ficou aqui dentro),
ele me disse
(ele me disse pela primeira e única vez)
"nunca se esqueça
que amo você,
nunca se esqueça
que o meu sangue corre
nas tuas veias."
(Não esqueci Vô)

E sem pedir
a minha permissão,
foi embora com os Orixás
só para ficar mais perto,
muito mais perto
de Xangô e
dizer com orgulho 
"Saravá meu pai,
caô, caô."





Karla Bardanza


Para o meu avô.
Desconheço o autor da bela imagem acima.
Alujá é o toque de atabaque para Xangô.






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MORAL DA HISTÓRIA

Quadro de Ron Hicks




Toda abandonada por dentro,
desperdiçou muita maquiagem
e palavras, tentando
alargar a mente daquele homem
horas a fio
com a sua delicadeza.

Ele nunca conseguiu
saber a grandeza daquela estrela.
Gostava mesmo
era de pedras brutas,
de pernas, peitos e bundas.

Moral desmoralizante:
os opostos se traem,
os iguais se atraem.



Karla Bardanza





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APRENDENDO COM OS SUFIS

Quadro de Liu Yuanshou




Os Sufis acreditam que o espaço
que cerca o coração tem conecções
com todas as partes do corpo
e da mente.
Ao redor do meu estão nuvens,
coisas inconfessáveis
e o nada primordial
que é a minha substância.

Meu cardiologista também encontrou
muitas músicas lá e milhares de
poemas abandonados.

Depois que descobri essa nova
verdade, entendi um pouco melhor
todas as minhas lacunas
e cantos escuros.

Tenho tentado ocupar
este espaço desde a pré-eternidade
com o que não é transitório,
com palavras que me absolvam
da minha finitude e inexatidão.

Ainda não sei
qual é a dimensão destes vãos,
nem se a minha natureza
é um nada desejante.
Enquanto observo a inequação
dos dias,
preencho o vazio
(que me excede e exulta)
com tudo que transborda
e amplia o nada-instante.





Karla Bardanza




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ESPERANÇA AINDA

Quadro de Forrest King




Ficou acuada igualzinho
a um bicho machucado
quando ele começou
a quebrar as coisas.
Aquele destino,
ela conhecia de cor.

Não sabia se chorava,
se enxotava as crianças pro quarto,
se fugia ou dava logo a cara
para o primeiro tapa, soco:
aquelas grosserias de sempre.

Ele tinha se acostumado
a fazer dela um pano de chão.
Já ela tinha se acostumado
a ser menos que nada.
Não tinha muito jeito
para virar a mesa.

Agarrou-a pelos cabelos
e a arrastou até a pia
facilmente.
Ela lembra do sangue escorrendo,
da dor no ouvido,
da escuridão.

Ela lembra do hospital,
dos ossos quebrados,
da polícia,
dos olhos caiados de pena,
da humilhação.

Nunca mais o viu.
Está escondida
junto com as filhas,
esperando a vida,
esperando uma nova vida.




Karla Bardanza





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A POESIA DO AGORA

Quadro de Chelin Sanjuan




Estou raciocinando o nada
com imensa alegria
enquanto ajudo as bolinhas
de sabão crescer e evoluir.

Esperei por muito tempo
para exercitar a minha inércia
e falta total de lógica.
Sorrio cheia de gratidão
pelo o que não me faz falta.

O meu desamparo agora
é apenas poético.
Estendo as mãos para as palavras
e vou salvando uma a uma
da chateação de servir.

Estou bem menos
do que eu já era.
Deve ser por isso que eu
me sinto bem melhor.
Sem verdades ou profundas teorias,
resta apenas a poesia,
a imorredoura poesia do agora.





Karla Bardanza








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A ROSA DO DESERTO

Quadro de Arthur Braginsky




Quando ele fala,
as palavras se recusam a seguir
em linha reta.
Ficam paradas no ar
e depois espatifam no chão,
sem nunca chegar ao alvo.

Alguma coisa nele
não consegue ir adiante
como aquele poema
abandonado na mesa
da sala, como as dívidas
sujando o passado e o presente,
como os sonhos amarrotados
dentro da cabeça.


Falta o fogo que ela roubou
de suas mãos.
A rosa do deserto
mora ainda em seus porões
intranquilos, em suas pequenas
verdades.
Os limites das sombras
morrem dentro dele
todas as manhãs
quando tudo
é uma flor
que ainda intoxica
e o faz dormir.





Karla Bardanza












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NÃO TEMOS QUE REZAR PELA MESMA CARTILHA

Quadro de Hend Al Mansour





Não há nada escrito.
Não. Não há.
Não temos que ser todos
altos ou belos ou magros
ou heterosexuais.
Não temos que ter
a mesma religião
ou ser brancos.
Não temos que gostar
da mesmas coisas
tampouco rezar pela mesma
cartilha.
Não temos também que dançar
de acordo com a música.
Não. Não temos.
Não temos que ser perfeitos,
de olhos azuis, ricos,
ou sei lá o quê.
Temos apenas que ser gente.
(Dura missão ser gente,
dura missão respeitar
o outro diferente de mim
porque a diferença
assombra os despreparados).
Não há nada escrito
que diga que temos
que ser todos iguais.




Karla Bardanza

Ontem vivemos uma situação triste - tanto eu quanto o meu amigo, o meu querido amigo que sem voz, preferiu apenas sorrir diante da violência que sofremos (porque não quero chamar de discriminação). Ele, diplomaticamente permaneceu calado, contrariando tudo ou talvez, todos. Eu me calei também. Não por diplomacia ou educação mas por circuntâncias outras.Obrigado a meu outro amigo que quando viu o que estava acontecendo, veio prontamente nos defender. Às vezes, me pergunto quando estaremos preparados para aceitar o outro e quando recuperaremos a nossa humanidade perdida. Enquanto isto não ocorre, seremos sempre vítimas de nossa cegueira e ignorância. A vida, caros amigos, é muito mais do que nos disseram que era. A vida é, acima de tudo, respeito pelo próximo. Não sei se sonho com o mundo melhor. Mas, sinceramente, espero que a geração de minha filha e outras que virão ainda estejam mais preparadas para aceitar e entender que é o outro que nos dá a dimensão exata do que somos. Não respeitar o outro significa que não me respeito também, à medida que deixo de exercer dignamente o meu direito de ser um ser humano.





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DIANTE DE MIM E EM MIM

 Quadro de Pascal Chove




Você acha que sabe a diferença
entre o amor e a guerra
como você fosse o único soldado aqui.
Mas pouco você entende
de escudos e elmos,
de pessoas e vida.

Amanhã o galo vai cantar
e você vai lembrar da vezes
que me (re)negou.
Sabe, sou uma mulher de entrega absoluta.
Larguei tudo para seguir o que nunca
seria o meu dono
ou me teria nas mãos
pois eu não acredito nem em batalhas,
nem em mentiras verdadeiras.

Diante de mim e em mim
apenas a verdade que você não pode alcançar.
(minha) vida não está contida em palavras.
A ubiquidade do meu ser não pode ser compreendida:
eu sou mil mulheres e nenhuma delas vive
ou cabe nas tuas limitações
ou dentro dos teus olhos.


Karla Bardanza








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WISH YOU WERE HERE

Quadro de Soledad Fernandez



Ainda fecho os olhos
quando escuto o que
desarruma os meus dias
sem vontade.

Quase envelheci ontem
escutando a mesma música,
as mesmas palavras
que não podes mais me dizer.

Se você estivesse aqui,
eu poderia saber todas as diferenças
do que nunca ficou para trás.
Se você tivesse aqui,
esse poema de amor seria menos,
muito menos tolo.

Estranho essas coisas
que ficam dentro da gente
como oração,
como melodia,
como maldição,
como poesia.
Estranho amar quando
o amor nos ama
e não pode estar aqui.

O que resta para as pessoas
que tentam sorrir?
O que resta quando o amor
ainda é tudo o que resta?



Karla Bardanza









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OS PRINCÍPIOS DA LUXÚRIA

“O pecado é excesso do Bom."
 Santo Agostinho

Quadro de Alberto Pancorbo



Essa cobiça arreganha os meus olhos:
já não ando em meus caminhos.
Minha carne é apenas violência e inexatidão
e eu me sujo com os olhos colados
no céu, com os joelhos esfolados,
estendendo a mão ao mestre
sem nada a oferecer
além disso e disso.

Amo esta vergonha,
esta devastação quando tudo
é o além, é a queda do céu
para o meu céu.
Perdoe-me senhor:
o excesso do excesso
me faz livre.
o excesso do excesso
é o melhor pecado
de quem vive.




Karla Bardanza





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AS VOZES DENTRO DA MINHA CABEÇA

 Quadro de Vladimir Dunjic



Aqueles espelhos são como câmeras
filmando cada vez que eu faço 
qualquer coisa.

Eu falei para eles que eu estava
bem:
aquelas vozes não chamam mais 
o meu nome mas eles nunca
me ouvem.
Estou ficando cada vez mais gorda aqui,
dia após dia.
Me disseram que eu não melhoro,
que o meu comportamento não 
é aceitável.
O que é um comportamento aceitável?

Queria ter outras opções
além de ficar dopada,
e amarrada o dia todo.
Não consigo controlar a minha mente.
Me disseram que tem um monstro
dentro dela.

Fui classificada,
rotulada,
marcada.

As vozes nunca param
(eu menti para eles)
Alguém pode me ajudar aqui?
Elas estão gritando, gritando.
Não consigo fazer isso parar.
Não consigo.

Eu deveria tapar os meus ouvidos.
Se pelo ao menos eu pudesse ouvir música aqui...

Lá vem eles com aquela injeção.
Não.De novo não...

Quem sou eu?
Quem é você?



Karla Bardanza







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MEUS POEMAS NUNCA ACABAM

Quadro de Antonio Macedo




Meus poemas nunca acabam.
Quando os abandono,
os protejo de mim,
de minhas asas mentirosas,
de minha visão limitada
e romântica do agora
que não vai ser.

Meus poemas são amamentados
nos seios da dúvida
quando minhas mãos perdem o nada
e encolhem o infinito.

Meus poemas são escritos
para curar o que sinto,
para estancar o sangue
que jorra nas minhas horas
improváveis de ser poeta
ou poetisa.

Meus poemas
são
apenas ar,
são apenas
brisa.




Karla Bardanza








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ESTOU -JÁ

Quadro de Lucia Coghetto




Não aguardo
o que me aguarda

Não aguardo
o que está previsto
quando visto
o que me despe.
Não sou dada ao
que pode vir.
Estou-já.

Desaconteço
amanhã.
O agora é todo meu:
esse momento cabe
no impossível
e eu nem preciso mais
fazer sentido para mim
mesma.


Karla Bardanza

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SEM SENSO

Quadro de Vanessa Lemen





Desta forma, a forma informa e desinforma
o padrão fora da norma.
Deste jeito, o jeito sem jeito deste leito
é feito e desfeito.
Estas linhas sem entrelinhas estão tão
sozinhas quanto o céu sem destino,
quanto o menino que dorme na rua,
quanto a nua melodia da dor.
Não fico,não sei, não sou.
Penso e ainda não existo,
existo e ainda penso.
Tudo quase tenso, quase denso
no intenso desfazer da rubra poesia,
sem eira, sem beira, sem anistia.

Karla Bardanza










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