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(DES)SENTIDOS

Quadro de Vanessa Dakinsky




Imagens esquecidas
em meus olhos
escorregam para
dentro dos sentidos.

Meus ouvidos pulsam
ao som do ritmo
do que deixou de ser.

E entre a imagem e o eco
morre a ação esmagada
pelo gosto do limão da boca,
pelas mãos vacilantes
entre o agora, o depois
 e o antes.


Karla Bardanza






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COISAS DA ESPERANÇA

 Quadro de Duma






Aquele que você ama
move os olhos sonâmbulos para o mar
e perde os pensamentos
em ritmos e espaços
 onde as ondas desmaiam de tanta ousadia.

Aquele que carregas a tua fome
tem milhares de melodias
nos cantos dos olhos
e duas palavras faltando
em seu pequeno dicionário
de emoção.

E enquanto esperas
sentada à janela,
cravando as unhas no pescoço do tempo,
as mãos ficam mais endurecidas,
a vida te vive
e incomoda o vento.



Karla Bardanza

 






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A ÚLTIMA SESSÃO

 Quadro de Freydoon Rasssouli




Os tíquetes já tem dono.
Cinema para dois, por favor.

As palavras anestesiaram os meus ouvidos
por mais de dois dias enquanto
perguntava-me sobre coisas
que a noite leva dentro da bolsa.

A face beijada,
a eterna traição dos olhos, 
as promessas dormindo desde dezembro.

Deito-me com a impressão
de que o ontem libertou-se de mim
e chora de mãos dadas na sessão das três.

Não peguei os meus tíquetes ainda.
Não tenho pressa
até porque já perdi a vez.

A fila andou.
Não tem problema esperar
um pouquinho mais
para escolher um lugarzinho onde
os meus olhos astigmáticos
vejam a vida por outro ângulo.




Karla Bardanza







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DÚVIDA QUASE EXISTENCIAL

 Quadro de Evegeniy Monahov






Não me sei
- talvez seja-
quando me busco
no impossível
e estou perdida
e engolida por mim em mim.

E quero
e ouso
acariciar o incompreensível
em coisas infatigáveis.

Não me sei
-nunca me soube-
mas o que lateja
em minhas pálpebras
e apenas a delicadeza urgente
de ser eu,
de ser gente leve
e cheias de êxtases
e travessuras.


Karla Bardanza








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¨POEMA DIVIDIDO

Quadro de Gianni Bellini



dividiu-se
esperando a invisibilidade
do sol.

esqueceu-se
que os olhos vasados e cegos
tateavam o quebra-cabeças,
montando e desmontando enigmas.

as mãos...
as ternuras...
tudo ficou na boca
com mil línguas
até mesmo as palavras esperando
para fugir.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

dividiu-se
quando despia a insensatez,
e o mistério desesperado comeu 
as respostas e as perguntas
de uma única vez.



Karla Bardanza






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ESTIGMA E ESTILETE

Quadro de Zhao Chun




Se eu te disser que tudo isso
é uma alegria obscena,
uma liturgia para orquídeas,
você me mostraria teus dentes
distanciados da leveza das pétalas?

Porque agora,
bem agora,
cabe apenas a vontade
de desfolhar o mal-me-quer de dentro de mim
e dançar cosmicamente
por entre todas as flores
em profundo desapêgo
e mansidão.

(É primavera)

E eu
já me reparto pelas estrelas,
pelas coisas inalcançáveis
e verdadeiras,
pelos risos, 
pelas rosas
sempre arreganhando-se
cada vez mais para mim. 

Se eu te disser
que por trás da folha
esconde-se o que é essencial,
poderias ver os acordes espalhando-se
pelo silêncio das begônias? 

Porque
eu tenho uma estrela azul na testa
e a minha lucidez engasga
as ovelhas e os seus pastores.
Abri as aléias de meu coração
para receber todas as bençãos
em pétalas, abri as sementes
com as mãos sujas de terra e esperanças.

Floresço
junto com Ostara.
Falta pouco para a roda girar
e as árvores latejarem no meu corpo telúrico.
Quanto a mim,
nada posso além das perguntas
guardadas entre o estigma
e o estilete esperando
para descabelar os teus horizontes.
Quando a mim,
apenas a necessidade desse estado
permanente de flor.


Karla Bardanza

Irmãs e Irmãos, Feliz Ostara





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POENTE

Quadro de Philip Munoz




Com o sol na minha boca,
escondo-me da manhã,
engolindo o agora,
envelhecendo calada dois segundo atrás.

Esforço-me para hospedar
a paz na hora bruta,
arrancando grão a grão
a hora que cai.

Mas cedo ao cansaço
menos indignada,
deixando a agonia da minha escuridão
pisar sem força
nos meus calos.

E outra vez,
testemunho uma de minhas vidas
ir pelo ralo abaixo
enquanto
ainda lembro,
enquanto
o sol apaga em minhas entranhas
queimando os segundos de cristal.


Karla Bardanza
 








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DELTA








Quadro de Brad Reuben Kunkle





 sentou-se por alguns minutos
totalmente aniquilada pelas folhas marrons
caídas no chão:
esperando para ser uma fugitiva,
procurando feridas nas rosas,
forjando um segundo sol,
sentindo-se humilhada pelos kois
livres no lago.

e enquanto dividia o vento
com os dentes,
os rios encontravam o mar
novamente.


Karla Bardanza


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ALQUIMIA DE ÚLTIMA HORA

Quadro de Annick Bouvattier





 Espalho meu silêncio sobre as palavras,
antevendo sussurros e rumores,
suspirando cores perdidas.

E tiro da minha cartola
quase encantada, a mágica 
necessária para recriar significados.

Instantaneamente,
predicados caem aos meus pés
e na alquimia do momento,
sinto que estou para além dos elementos
e absurdamente sem medidas;
leve, linda, solta,
fazendo sentido quando sentido já não há na vida.



Karla Bardanza






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ATÉ QUE ARDE

Quadro de Stephen Smith



e lá vai ela mais uma vez
com os ouvidos cheios de vozes
pela cidade crua.

frio bom,
casaquinho salmão
e nenhuma paixão entalada
na garganta.

olha ao redor,
sente-se assim,
quase um objeto direto,
quase uma coisa intransitiva.
(sente-se viva?
sente-se o quê?)

e quando cansa de ser exemplo lá pelas tantas, 
está com a cara mais de puta do que de santa,
já consumida pelo estranho trabalho
de dar murro em ponta de faca.

às vezes ela acha que perdeu algo,
mas ainda não tem pressa de descobrimento.
e enquanto o tempo sai mordendo
a esperança até sangrar,
ela liga o computador
e desliga-se de si mesma,
esquecendo tudo que jaz
e numa muda paz,
fala com meio mundo,
sorri, sofre
e goza
toda prosa,
toda rosa,
pela metade,
fingindo tudo,
até que arde.



Karla Bardanza
 







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POESIA NA VEIA

Quadro de Tracey Harris




O curto é circuito:
veias finas e explodidas,
a vida reclamando no estômago,
um coquetel para raciocinar
depois da dor.

Doutor, Doutor,
para onde vou
depois do depois.
Doutor, Doutor
o corpo entrincheirado,
aguarda a nova luta
bastante amedrontado.

As marcas são roxas e breves,
a alma é tonta e leve:
não consegue ficar
dentro do invólucro,
não cabe neste espaço fechado,
abafado, camuflado.

Doutor, Doutor
abona o meu dia
e me dá 24 horas de poesia,
por favor.


Karla Bardanza







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IMENSIDÃO NOVAMENTE

Quadro de Yang Gao



Meus pés adolescentes ainda
afundam nas horas não sábias,
levando-me por alamedas
e cantos cheios de sofreguidão.
Abro o zíper da saia
e as mãos, ensaiando
novos pecados
com fervor,
com nenhum respeito 
pelos meus cabelos quase brancos.

E entre um turista e outro,
leio a minha vontade
antes que seja tarde demais
para brincar de ser gente grande.
 Não penso.
Escureço com as estrelas,
deixando cair os sapatos
e
a vergonha.

Não quero mais viver
em pausas.
Daqui para frente,
meu nome é eternidade.


Karla Bardanza






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A OUTRA DE MIM

Quadro de Roy Nachum




O reverso, o avesso,
o lado de fora
pelo lado de dentro,
o ego à flor da pele do Id:
quem decide quando eu me nego?

A pele inexata,
a data de validade perto do fim,
o tempo arrebentando dentro de mim,
os problemas, os dilemas,
eu cortando os dobrados,
os anos profanos e sagrados
diluindo, diluindo
as coisas que eu sabia.

Quase já sou outra
se não houvesse
um pouco de mim
na poesia,
nos cantos dos meus olhos
voltados para as sombras,
nas minha vida ainda tão desarrumada,
no meu pacto com a minha confusão
e enigmas.





Karla Bardanza

 



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CARTA DE ALFORRIA

Quadro de Roman Garassuta





derrubei paredes e muros,
abri céus, sóis e escuros
com as mãos ávidas,
cansadas, quase 
compreendendo
quem eu era
ou sou.

fiz
de tudo
um pouco
para chegar
perto de mim,
de meus soluços
e agonias amadas,
com as mãos desarmadas,
com o corpo vestindo poemas
e os olhos procurando estrelas e luares.
 Só parei mesmo
quando senti que 
eu podia ir pelos
ares com gratidão.

Jogando fora tudo
que me fazia enraizar:
desde
a alma até o coração.


Karla Bardanza






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APROXIMAÇÃO

Quadro de D Yee






Aproximaria minha alma da tua
mais uma vez,
abrindo os bolsos do perdão,
batendo no peito
da  minha culpa
apenas para ver o azul
dos teus olhos desmancharem
a noite num silêncio voraz
e deixaria para trás
tudo que ainda não deu certo
porque nunca estivemos perto
para sabermos quem guarda mais mágoas
e exaustão.

Aproximaria minha mão da tua
mais uma vez
e sem voz,
eu olharia através de ti
com todas as vontades esquecidas,
com todas as vidas que já fugiram de mim
ainda hoje
e por alguns bravos minutos,
sussurraria o que não consigo ouvir de minha boca.

E te diria minhas verdades tolas,
meus pecados pagos,
minhas coisas que te amam ainda.



Karla Bardanza





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POEMA

Quadro de Serena Potter




Você dormiu.
Meus olhos morreram.
Minhas palavras morreram
e o amanhã chegou calado hoje.

O infinito
vestiu as minhas palavras
de frio e a tarde de branco.

Descanse na Luz.
Descanse.

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O amor é sempre a vida que resta.


Karla Bardanza


Agosto foi um mês muito difícil para mim e foi embora levando o meu tio hoje. Ele foi um lutador e eu o admiro. Desculpem, estou sem palavras.





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