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SANGRANDO


Na calada da noite,
O nada rondando
Minha alma
E o seu abismo.
Um labirinto aberto
Entre o meu desespero
E o céu.
Perco-me de mim
Para lembrar-me de
Teus olhos de mel.
Despedaçamento de
Um ser esquecido
Entre o sonho
E a solidão.

Na garganta, o nó,
O grito ecoando
Pelas paredes de
Meu coração.
Lâmina entrando
No mais fundo
De mim.
Mundo sem fantasia,
Tempo de lamento,
Tormento mordendo
Minhas entranhas
Sangrando mágoas.
Falhas escritas em
Folhas amarelas
De saudade.

Bolhas de sabão
Caindo pelo chão.
Tristeza perdida
No tempo.
Minha dor acordada
Por esse vento
Destruidor
Que te comunga,
Que te conclama,
Que ainda te chama
De meu amor...
De meu amor...

Karla Bardanza

ROSA DESPEDAÇADA


Dentro dela mora o pavor
E ela ouve vozes
E ela vê tudo...
Mudo medo,
Profano segredo
Arrastando-a para o abismo,
Para as esquinas da mente.

Ela mente,
E quando mente,
Mais sente.
Amarrada ao horror
E os seus afins,
Ela fecha os olhos
Para não ver e
Ainda assim,
Há um homem sem cabeça,
Há uma mulher mutilada,
Há uma boca que não
Diz quase nada.

(Des)razão
São seus pulsos,
Impulso de busca
E liberdade...
(In)sanidade...
Fio tênue
Prende suas mãos.
Vãos abertos
Dentro dela.
Sonho ou realidade,
O estigma, a mácula,
O enigma.

Ela salta para
Dentro de sua
Poderosa escuridão.
E todo dia,
Alguém que vê
Come o seu coração.

Errada e errante,
Carrega vinte e dois vazios
Fora de seus limites
E nem mais sabe
Se ainda existe.

Karla Bardanza

SEI QUE VOCÊ ME QUER


Não vai embora...não...
Quem é você que chega
Com sorriso de flor?
Estou ao seu dispor...

E te prometo casa,
Comida e roupa lavada...
E que tal asas para voar
Para essa apaixonada?

Meu telefone...Quer?
Meu endereço...Segura.
Pode ir chegando...
Jantando...
E se quiser te abano...
Faço massagem nas tuas costas...
Vou te tratar com
Tanta delicadeza...
Sei como te fazer feliz...
E como sei...
Vais pedir bis...

Pitadas de desejo
Prazer sem fim
Um longo beijo
Tua boca em mim

Não!Não vai sem me dizer
Como te conquistar...
Quero e quero te abraçar...
Quem é você
Com sorriso de flor?
É você quem vai
Acender o meu calor...

Aqui as chaves da minha casa,
Suas toalhas e o chinelo...
Sua cama prontinha...
E de bandeja eu sozinha...

Sei que você
Não vai resistir!
Começa por onde quiser...
Quero ser tua mulher...

Pode
Fica à vontade...
Estou pronta...
Que venha a felicidade!

Novo amor com
Sorriso de flor...
Me viu e já se perdeu...
É, estou pronta para
Ser tua mulher...
Peça ...Sei que você também
ME QUER...

ERRO DE PESSOA


Errei...
Errei ...
Com você
O vazio
E o seu além.

Com você,
Vejo o silêncio
E a forma
Do lamento.
Com você,
Conto as peças
Do quebra-cabeças
E o refúgio
É o próximo
Abismo.

Errei...
Com você,
Calo o olhar
E as coisas
São tão
Desmedidamente
Limitadas...
Com você,
A memória
Coloca suas mãos
Em minha garganta
E me sufoca.

Com você
Talvez a derrota.

Karla Bardanza

TUAS MÃOS


Contemplo a poesia brusca e súbita
De tuas mãos.Sinto o infinito em fios
Tramados nas tuas palmas.Linhas que
Chegam em algum lugar e partem de
Teu silêncio.Esplendor doloroso são
Tuas mãos de luta, de fantasia e luz.

Juntas com as minhas constroem
Formas no escuro, esculpem flores
De vento.Tuas mãos são o meu rude
Lamento.Sinto o teu toque, cordas
Eternas em meu corpo.Melodia de
Amor multiplicando a memória do
Infinito.Plenitude de desmedida cor.

Ah...tuas mãos afagando minha
Imaginação, perfumando meu
Destino, arando os meus sonhos,
Surpreendendo-me por entre as
Nuvens de pipas e doces tulipas.

Tuas mãos costurando nossas
Estradas com manhãs enluaradas,
Plantando miosótis em minhas aléias.
Tuas mãos-acalanto de uma vida
Inteira.Mundo de encanto na soleira
De meu ser, formoso florescer...

Tuas mãos – vejo-as em eternidade
Em perpétuo mosaico, despertando-me
Para a delicadeza da redescoberta
De amar-te, de amar-me, de amar.

Karla Bardanza

MEUS LHOS SABEM QUEM ME MATOU


Meus olhos cinzas
E desabitados
São gaivotas sem
Asas e rumo
Vagando pelo
Avesso do destino.

Em mim
O sabor
Do desgosto,
A torpe desilusão
Da certeza.
Em mim
A delicadeza
Da morte
E o saber
Transfigurado
De dor.

Meus olhos sabem
Quem me matou.
E eles morreram
Antes de meu
Corpo...E eles
Morreram com
A tua feliz traição.

E fui
Morrendo
Com a tua
Assombrosa
E
Desmedida
Alegria...
E fui
Morrendo
Dia após
Dia ...

Meus olhos sabem
Quem me matou.
Nada mais
Careço de ver.
Onde estou,
As trevas são
Companhia.
Nada ouço
Salvo as preces
Soluçantes
E gemidos.
Nada mais
Preciso.

Meus olhos sabem
Quem me matou.
Agora cumprem
Seu tempo
Fora do tempo
E expiram lentamente
A agonia
Da mente magoada.

Deitada ao
Lado do meu corpo no
Horizonte,
Sou sombra
Em abismo.
E eles – apenas eles-
Sabem quem
Me matou.
E eles –apenas eles-
Sabem quem fui
E o que sou.

Meu olhos sabem
Quem me matou...
Karla Bardanza

MENSAGEM PARA VOCÊ




Receba a luz
Em esplendor..
Receba a flor
Como esperança.
Abrace o céu
Com encanto
De criança
E dilua-se
Na intensidade
De teu ser.

Teça estrelas
E luares
Em viagens
Dentro de ti.
Aprenda
A conhecer
O teu sol e
Rito e
Seja o teu
Próprio mito.

És singular.
Não há outra
Pessoa com o
Teu charme
E cheiro.
És espécie
Em extinção
De doce olhar
E mãos.

Deixo-te
A minha
Alma,
O meu céu
E um buquê
De rosas
Orvalhadas
Bordadas
No vento,
Beijadas
Por fadas.

Deixo-te
O meu amor
Cravejado de
Amizade e
Essa canção
De saudade
Que apenas
O teu coração
Pode entender.
E deixo essa
Mensagem de
Sonho para você.

Karla Bardanza

O JASMIM E O CORAÇÃO


O jasmim basta-se.
Contemplo e sinto
A trama da flor
Em perpétuo
Desabrochar.

Calado e distante,
Nada o detém.
Acorda poeticamente
E
Levanta-se sem
Pensar.

Sinto seu silêncio
Em meu olhar.
Sinto sua contínua
E intensa transformação.

O jasmim basta-se
Assim como basta-me
O coração.


Karla Bardanza

E SOMOS O AMOR...


E teus olhos fechados,
Sentindo, sentindo...
Sonhos em densa surpresa,
Breve beleza é o teu rosto,
É o teu prazer devorando o
Luar e as estrelas...
Uma constelação toda
Caindo em minha pele,
Em minhas mãos.

No chão,
Encontro de pêlos e poros,
Imploro e mais tenho
O que não posso
Ter, você em nua pele,
Em naves espaciais,
Em instantes desiguais...

Tua boca fora de ti,
Teu corpo a me sorrir
Em fantasia rasgada, em sofá.
Você a me sussurrar, a me guiar,
A me fazer em um mosaico,
Em um caledoscópio de
Cores, em plenitude,
Em mil diferentes flores.

E meus beijos fogem de mim,
São pétalas em teus rosto,
São jardins e brinquedos,
Teu segredo,nosso segredo
Tatuado em espelhos,
Em tardes e noites silenciosas
E escondidas, em camas atrevidas.

Sou margarida
A enfeitar teus cabelos, sou o
Que não posso ser e ainda assim,
Sou teu o prazer esculpido em marfim,
Eterno em teu corpo, belo.

Elo que nos une, desejo para além.
Te chamo e vens
E morremos em entregas sem fim
Quando estou tão dentro de ti,
Tão fora de mim.
E somos papoulas, sono
E fantasia...E somos a paixão
Em êxtase e o desejo
Em esplendor.
E somos apenas o amor...

Karla Bardanza



A MENTIRA NOSSA DE CADA DIA


Boa sorte...boa sorte...

Que bom!!Alguém interessante!!

Que legal!!Que bacana!!!

Que sacana te desejar

o que não sinto!!!Minto por tão pouco!!!

Louco e denso ódio...

Que bom..alguém para ocupar

um lugar que nem tive

a oportunidade de estar...


Karla Bardanza

PARA ENTENDER UMA BORBOLETA


Não me pergunte quem sou...


Nem de onde venho...


Nem para onde vou...


Tampouco se me contenho...




Não me prenda...


Não me controle...


Apenas me entenda...


Apenas não me enrole...




E acenda meu desejo


toda hora,todo o tempo


com mãos,boca e beijo...




E sempre me chame de flor,


de pérola,de paixão e


se puder de meu amor...




Karla Bardanza

ELEGIA


Depois dela,
Só há espumas
Afundando em sonhos.
Só há plumas
Tristes, caladas
Pelo tempo.

Depois dela,
Só há um vento
Destruidor
Dissolvendo
O que fui,
O que sou.

Depois dela,
Só há precipícios,
Intranqüilos solistícios
Dentro de meu olhar.

Depois dela,
Só há rosas magoadas
Tecidas nas tortas
Linhas de minhas
Esquecidas mãos.

Depois dela,
Apenas a cicatriz
Da solidão.
O estigma tatuado
No avesso da lua.

Depois dela,
Sono letárgico,
Vida abissal,
(Des)contínua e
surreal.

Karla Bardanza

FLOR



Te sinto, sim...sinto...
Tua boca em minhas pernas
Geografia a se perder...você...
Mãos são seios, prazer todo,
Um desejo e meio, ouço..
Tua voz, nós em sussurros,
Nós em palavras dissolvidas,
Em beleza desmedida em
Espelhos...teus joelhos,pernas
À revelia, dia é madrugada,
Estou encantada em olhares.
Teu contorno é melodia, é luz
E fantasia...te sinto...sinto...
Tua língua em minha alma,
Tua calma entrega, sou o que
Se traduz em nossas peles, flor.
Tua cor em maravilhas, em mim...
Charmosa beleza de alecrim,
Mar sem limites para navegar
E se isso é prazer, quero morrer...
Meus cabelos em teu sexo, nexo
Por quê?Aqui pode-se apenas
Ler as entrelinhas...metáfora
Para quem quiser, sou uma rosa,
Gineceu e androceu,corola e estames,
Venha, me ame... tudo aqui é
Meu...sou tua mulher...meu cálice
Para te proteger, venha...ó venha
Sempre e sempre me beber...

Karla Bardanza

A TRAMA DA SOLIDÃO


Aos poucos a solidão foi tecendo a vida dela.Foi deixando sonhos engavetados, esperanças no porão,até notar que tinha perdido o próprio coração em algum lugar...Aos poucos foi deixando de admirar o amor...Olhava-o com extremo desencanto...Olhava-o desconfiada, armada...Levava a vida ou talvez a vida a levasse.A paixão deu lugar ao vazio, à pobreza de espírito, ao medo de arriscar, de se recriar.Seu grande desafio agora era viver...Sem grandes emoções, sem fantasia, sem prazer...
Foi murchando aos poucos...Primeiro, parou de se olhar no espelho,de ser achar desejável.Depois, descobriu que o amor era dividido e não multiplicado ou talvez o segundo tenha acontecido primeiro...Já nem mais conseguia lembrar.Parou de perseguir a felicidade e começou a ver o silêncio com espantosa nitidez.Cristalizou-se, ajustou-se a solidão,matou-se, coisificou-se.,sufocou a memória e refugiou-se na eterna escuridão.Aos poucos, foi se perdendo de si mesma e vivendo o seu mimetismo particular.

Karla Bardanza

O PESCADOR DE ILUSÕES


Uma palavra caiu de dentro dela.Caiu e espatifou-se no chão, aos pés dele. “Fica”, ela disse.Ele olhava o mar.”Fica”, ela repetiu.Ele, pescador de ilusões, pensava apenas em jogar a sua rede em tantos outros mares, em mares que ansiava por domesticar.Queria tanto encontrar outra pérola.Era um conquistador, tinha sangue de conquistador e um coração de eterno marinheiro.Precisava tanto daquela sensação louca e indescritível de descoberta, de peixes multicoloridos em sua rede...Precisava...Quem sabe poderia até achar uma sereia...Quem sabe...Uma sereia de belos cabelos e voz, inteira, maravilhosa...
Sonhava ele...A palavra havia quebrado em mil cristais, não havia como cola-la...Nunca mais...Nunca mais...Viu ele sair mar adentro, cheio de expectativa e desejos...Viu ele encontrar falsas pérolas.Acompanhou distante toda a odisséia daquele Ulisses às avessas...Não se sentiu Penélope.Isso nunca!Não esperou, não dispensou pretendentes, não desfez o fio da trama.Dormiu em paz todas as noites desde que ele partiu.Não sofreu porque havia cansado de ser seu porto seguro, havia cansado...Deixou apenas que ele se enroscasse em sua própria rede de sonhos, que pescasse outra e outra e outra ilusão...

Karla Bardanza

POR TI




Escrevi uma carta da tessitura
De uma cantiga de amor,
Perfumada com sortilégios de fadas
E clara madrugada de sabor.

Vesti um poema tecido
Com paixões e plumas
Enfeitado com orquídeas de mel
E celestiais espumas.

Bordei a água com tulipas de
Vento,doce paz e sentimento.
Pintei um pouco de sonho
Em pequenas pipas no tempo.

Costurei um beijo no horizonte,
Um abraço num monte
E retalhos de meu velho
Coração num colchão.

Plantei camélias em corais
Multicoloridos.Tricotei
Com a linha do infinito
Alguns tênues vestidos.

Pesquei nuvens do teu olhar,
Desenhei teu contorno com giz.
Fiz tudo para te enfeitiçar.
Só queria ser o teu país.

Multipliquei toda a plenitude em
Perpétua primavera e intensa cor.
Despi-me do silêncio e do abismo.
Aconteci em selvagem esplendor.

E por ti moveria o éter e o ar,
Criaria ritos, mitos e harmonia
Porque tu és o fogo do meu ar,
A minha fábula e melhor fantasia.

Karla Bardanza

0 AMOR SENTIDO


sensação no sentido
voz boa no ouvido
visão de enlouquecer
gosto na boca de você

pele nua no colchão
pêlos em minha mão
carinho feito amor
estou em esplendor

na tua boca raro mel
tocar-te é luar no céu
teu cheiro a me namorar
sentir é poder te amar

e te amo com meu olhar
minha boca a te mergulhar
desejo tecido em melodia
dança da vida em harmonia.

Karla Bardanza

LILITH


Sou o pecado

E o abismo.

O medo profanado,

A doce escuridão,

O veneno mais sagrado

Bebido com paixão.


Sou o prazer desmedido,

O desejo na veia,

O gozo enlouquecido

Da aranha na teia.


Sou o segredo

Entre quatro paredes,

A fome e a sede,

Sou o sangue, a vítima

E o algoz, sou a que

Fala sem voz.


Sou a devassidão,

A loucura e o

Ímpio coração,

Sou a mancha

E a mácula no

Colchão.


Sou o vento e a destruição,

O olho do furacão,

A negra lua, a mulher

Nua sem redenção.

Sou a serpente e o

Leão.Sou a ousadia,

Sou a atrevida,

Sou um anjo caído

E cheio de vida.


Karla Bardanza

O REAL ME FERE



Abri as janelas do meu infinito
Para consentir um instante eterno
Ao meu olhar maculado e doce.
Contemplei minha vastidão-flor.
Construí um tempo de refúgio
E delicadeza, rasguei todos os
Véus...Minha alma refletiu o
Mar.Minha alma dissolveu-se
Em luar e bastou-se.Sinto-me
Despedaçada.Tudo parece dor
Sem fim.Perco pessoas que se
Perdem de mim. Um silêncio
Anula a trama da vida, pessoas
Feridas.O fio do destino em
Tolo desatino desfia, bordado
Meu desfazendo...Linhas na
Palma da mão choram o sonho,
Lágrimas misturam-se.Sento à
Beira da janela para olhar o que
É passado, pessoas são mitos.
Um grito mudo cristaliza-se
Dentro do meu peito.Choro,
Apenas choro porque nada mais
Pode ser feito.Porque resta tão
Pouco agora.Apenas esperar...
À beira da janela, vejo a tristeza.
Calo o meu olhar...O real me fere.

Karla Bardanza

O SABOR DO SOSSEGO


Não tenho mais medo
Do sabor de saber o
Que em mim nasce em
Mistério e segredo.

Provo em minha escura
Escuridão,pedaços de
Mim e de meu próprio
Coração.

Sob a língua, o gosto
De ser, o meu mais
Precioso e refinado
Prazer.A surpresa
E a delícia tatuadas
Em pele, em pêlo,
Em poros,em paz.

Não tenho mais medo
Do que o tempo traz
Em mito, em rito, em
Gritos...Liberdade...

Provo e me renovo
E bebo a ousadia.
Quem sou à noite,
É meu duplo de dia.

Sob a língua, o deleite,
O devaneio, o degredo.
Sob a língua, o gosto
Libertário do sossego.

Karla Bardanza

DELÍCIAS


O sabor da tua luz
Vem como tênue
Esplendor.
Perco-me em
Meu corpo que
Consente delícias
E labaredas.
Contemplo-te.
Sinto...Sinto...
Eterno minuto
Em que redescubro-me
Sob tua língua.
Dissolvo-me em
Mar essencial, em
Um mosaico ardente.
O tempo nos esquece
Enquanto Vênus tece
Fios para nos prender.
As formas perdem-se
Em infinitos, em doces
Espamos e gritos
E a delicadeza encontra
O além...De olhos fechados,
És o meu bem, o meu
Decisivo e único bem.

Karla Bardanza

O AMOR

O amor tenta o absoluto, é a plenitude desnudada e sagrada que nos surpreende em sonho e flor.Contemplamos nossa alegria no encontro com o outro, nos redescobrimos em uma eternidade onde nos perdemos do tempo e nem o contamos mais. Nossa vida nos consente um esplendor feito de prazer e desejo e dissolvemos perante aquela/e que rasga o nosso véu e nos adentra sem nos pedir licença.Nos bastamos nesse sentimento que nos multiplica em um infinito de possibilidades, nos deslimitamos porque o amor não conhece cercas.Sim, estamos amando. Tudo é refletido em nosso espírito, tudo é luz calma.Juntos alcançamos a floração perpétua em nossos corações.É o amor verdadeiro.É a completude conquistada.
O amor real desconhece finitude e dor porque é ilimitado e desinterassado.Mesmo em silêncio trama a sintonia, mesmo refugiado é a surpresa do tempo.Constrói segredos que apenas os amantes conhecem, é cúmplice, amigo e a mais bela metáfora.É o sabor que traz o mais profundo saber.É a busca concretizada em toques e olhares essenciais.É a vida decantada em delicadeza e perpétua primavera.

Karla Bardanza

DESPERTAR PEDRAS


Despertar pedras
Caladas, medrosas
Em sono desigual.
Acordar rochas
Inertes , fortes
E de braços cruzados.
Ensinar o além,
O impossível e o
Bem.
Transformar pedras
Em bocas, em mentes
Constantemente.
Tentar o absoluto
Para lapidar o ser.
Deslimitar para que
As pedras possam voar.

Karla Bardanza

TEAR POÉTICO


Nas tramas dos fios,
Tecer o desafio
E esconder-se em
Cálido horizonte
Pálido.

Nas tramas dos fios,
O vazio tem forma
E não se conforma
Com o silêncio.

Nas tramas dos fios,
Gestação criativa
Em eterno cio.


Karla Bardanza

SOB A LÍNGUA



Sob a língua,
O beijo, a surpresa
Do sonho em
Encanto e sabor.
Sob a língua,
O saber desperto
Em palavras,
A dissolução
Do silêncio em som.
Sob a língua,
O dom racional
Perpetuado.
Sob a língua,
O gosto do outro
Decantado em
Prazer sagrado.

Karla Bardanza

PRETEXTO PARA SER POETA


Retalhar a palavra até a morte.
Signo e sorte.Despedaçá-la
E refazê-la.
Perdê-la.
Acha-la.

Refletir a palavra
No espírito.Desarma-la,
Descoisifica-la.
Pari-la em prefixos,
Em sufixos,em sintaxe,
Cria-la no laboratorio
Da mente,perdida-
Mente.

Poetizar a palavra
Em fios e tramas
E dramas.Sonha-la
Em contextos, em
Textos, pretexto
Para ser poeta.
Para reinventar
A si mesmo.

Karla Bardanza

SEGREDO


Construir segredos
em perpétuo tempo.
Diante do instante
eterno, o momento.
O segredo solidifica
o mito, multiplica
o rito, é o saber e o
sabor do infinito.

O segredo busca o
início em pura eternidade,
limita a realidade e
desmente o silêncio.
Fala alegórica da
Vida em absoluto
Testemunho do ser.
Enigma maior
entre mim e você.

Karla Bardanza

MENSAGEM PARA O MEU AMOR




Precioso Amor, abres meu céu


Com poesia e pétalas delicadas


Da tessitura do mel e das espumas.


Doce pluma de encantado luar,


Teu olhar me enfeita, me enobrece,


Enternece cada manhã de prosa,


Cheira a rosa orvalhada pela


Madrugada de suspiros e sons


De cantigas do puro infinito.


Grito dentro do dentro de mim


Que teus braços são eternidade


De estrelas e tulipas amarradas


No nada.Sou maravilhada mulher


À beira da felicidade perfumada.


Fazes de mim uma ode a alegria,


Fazes de mim a perfeita harmonia.




Precioso Amor, sem você o que


É a vida?Amado Amor de minha


Alma, com você sou uma mulher


Infinita, sou uma flor ao vento...


O tempo nos solidificou em paz


E jardim.Então, sejas sempre


Esse luar entrando tão além de


Mim, sejas minha estrada de


Fantasia e emoção, sejas meu


Cristal, Meu Amor,Meu Coração.


Te amo nessa vida, te amarei


Em tantas outras em que tua


Mão for meu ombro e pão.


Precioso Amor, Doce Amor,


Aqui estou, aqui estou...




Karla Bardanza

O CORPO FALA


O corpo fala...
Cala minha pele,
Move meus olhos.
O corpo é um texto
Da tessitura do desejo.

O corpo é fogo,
É jogo
Do inconsciente...
O corpo sente...
Sente...O corpo
Lê o outro,
Fecha-se.
Abre-se.

Entrelinhas e além,
Denotação da alma.
O corpo é uma rosa.
Branca pétala macia.

O corpo é simetria.

O corpo é
O verbo calado.
É a gramática
Silenciosa.
O corpo é
A poesia em prosa.

Karla Bardanza

MEU PAI ENTRE AS FLORES


Meu pai era um homem diferente.Todos os sábados, religiosamente, ele comprava flores para minha mãe.Eram muitas e muitas flores, de todos os tipos, de todas as formas.Era um mundo de flor!Às vezes, nem tínhamos jarras suficientes para hospedar tantas rosas, palmas, lírios, jasmins, crisântemos,copos-de-leite, margaridas e etc.Como eu era adolescente, achava uma perda de tempo tudo aquilo, especialmente, porque era a minha responsabilidade arrumar todas elas.Eu detestava!Reclamava como toda adolescente, porém fazia o que tinha que fazer, cheia de má vontade.Era um martírio para mim...Mas, em minha casa, todos tinham tarefas a cumprir.Depois que meu pai se foi, os próprios feirantes guardavam as flores para a gente.Adoravam o meu pai.Ele ia à feira e fazia uma festa.Todos o conheciam.Porém, era muito sofrimento para minha mãe vê-las.Então, nunca mais tivemos aquela beleza em casa.Lembro que no dia do acidente, ele primeiro foi fazer a feira e levar a s flores para minha mãe para depois viajar...Foi a última vez que vi meu pai com vida...Fiquei muito tempo sem ver qualquer tipo de flor.Muito mesmo.Tempos depois entendi o quanto tinha aprendido com o meu pai.Conheci cada flor, seu nome, sua beleza.Aprendi a simetria e como fazer arranjos.Acima de tudo, aprendi a ter paciência porque para tornar uma jarra bonita de se ver, você precisa ter muito.Não é apenas pôr água no vaso e jogar a coitada.Tem que arrumar com delicadeza e se tiver mais de um tipo, tem que haver equilíbrio e uma bela combinação.Na verdade, é quase uma terapia. E esse fato marcou minha vida, tanto que o nome de minha filha é um nome de uma flor.Toda vez que penso no meu pai, penso nele entre as flores.Onde quer que ele esteja lá no céu, deve haver um roseiral...Deve haver um monte de jardins...Saudade sem fim, Pai...Saudade nunca tem fim, Pai...Sempre fostes um homem de coração de flor...Sempre...


Karla Bardanza

HOJE EU NÃO QUERO NADA


Hoje não quero palavras.


Não quero absolutamente nada.


Estou nublada.Chove dentro


Dessa minha vida sem saída.


Hoje apenas o silêncio deve


Ecoar branco pelo meu sangue.


Talvez seja uma fase, talvez


Seja uma face, disfarce de quem


Se engana.Hoje talvez eu esteja


Um tanto menos humana.Mas,


Ainda assim esta sou eu, triste,


Amuada, olhando para o abismo e


Pensando seriamente em pular.




Karla Bardanza

BALÉ DO INFINITO DESEJO




Vaga música, acordes para além
Dessa melodia de corpos e peles.
Danço, face a face com o desejo.
E sinto o que se levanta e encanta
E me toca...Rasgando com dentes
E unhas minhas costas, pernas e
Ferida, penetra frinchas com luz.
Ecos de mim atravessando olhos,
Em vaga música, em passos com
Coreografia de bocas e mãos, de
Pés e ombros...Balé do infinito, te
Sinto no som do vento. No pulsar
Pungindo meu prazer...Cadência
Perfeita, encontro de ritmo e ser
Morrendo no compasso de viver.

Karla Bardanza








QUEM PODE AJUDAR,LEVANTA A MÃO


Às vezes ela nem consegue levantar.Odeia o sol. Mete-se lençóis abaixo e espera a sede chegar. Já nem mais sabe como se salvar, já perdeu a ingenuidade de acreditar. Fome não tem...Desejo sempre vem intenso e ela que esqueceu a dignidade em algum lugar sempre corre atrás daquilo que pensa ser sua vida ou que parece dar sentido à sua vida. De vez em quando pensa na família, mas sabe que a família cansou de pensar nela. Quantas vezes disse que estava “limpa” sem estar...Quantas mentiras no ar...Quando acorda parece ainda dormir, quando é verdadeira parece ainda fingir...Detesta olhar-se no espelho e ver os estragos.Emagreceu tanto, é um fio de mulher. Agora, quase nem tem mais roupas, cheirou quase todas.Cheirou a casa também.De repente, móveis, utensílios e aparelhos eletro-domésticos viraram pó...É, assim, num passe de mágica! Ironia...Num passe de mágica, ela virou pó também...Perdeu amigos, trabalho, amor, ganhou um labirinto sem volta, um terremoto particular. Já pensou em se matar, já pensou em tanta coisa e agora, nem quer mais pensar...Olho para ela e nada vejo...Escuto-a com atenção...Quem pode ajudar,por favor, levante a mão...


Karla Bardanza

O TERCEIRO OLHO



O que se revela

É o não revelado.

É o presente sem

Dimensões, é o

Todo unificado.


Conhecimento

Divino do futuro,

Eternidade e visão,

Olhar do coração.

Total resolução

Da dualidade,

Percepção unitiva

Da morte e da vida.


O perto está distante.

Deixe abrir sua porta

Do sol, veja de olhos

Fechados o que é tão

Profano e tão sagrado.


O olho que tudo vê:

Tanto a mim quanto você.






Karla Bardanza

COISAS DE FAMÍLIA


Meu sobrenome,
Não vendo, não
Empresto, não dou.
É tudo de importante
Que meu pai e deixou.

*
Sobre honra e sangue,
Meu avô me ensinou.
Tudo ficou impresso
No que presumo que
Sou.
*
Minha mãe me lapidou
Para estar à frente do
Tempo.Quando abri
Minhas asas no vento,
Ela me ensinou a voar.
Só não me disse como
Pousar.
*
Minha irmã é quase uma
Filha, é quase uma fã e
Somos iguais: deixamos
Tudo para depois de amanhã.
*
Minhas avós...Ah, minhas avós...
Um nó!Uma me cozinhava
Em português,a outra em
Italiano.Com ambas aprendi
Como era um ser humano.
*
Coisas de família,retratos,
Passado, futuro, presente,
Amor em atos.Uns já se foram,
Outros estão aqui.Todos me
Fizeram e fazem sorrir.
Saudade Pai,Vô,Vós...
Saudades de vocês...
Saudade de nós...

Karla Bardanza

A FEITICEIRA


Uma feiticeira,uma poção

Borbulhando no fogo de

Sua ardente imaginação.

Lua crescente, encantamento,

A feiticeira joga palavras

E desejos ao vento.


Flores de maracujá,folhas

De manjericão, patchouli,

Trevos e vinho tinto no

Caldeirão e ela acende o

Fogo da paixão.


Velas rosas para o sagrado

Ritual.Sortilégios de amor.

E a feiticeira é algo entre

Uma estrela e uma flor.

E assim sua magia atrevida

Voa aos céus mudando

Com delicadeza a vida.


Karla Bardanza

ALMA PROFANADA


Noite absoluta
À beira do meu olhar.
Noite, sutil noite
A me naufragar
E morro de pensar
No olhar grave
De meu medo
Tão particular.

E me acho
Na noite irreal,
Caindo do céu
Em redes sem fundo,
Num mundo cego,
Sem som,
Sem vida.

Noite absoluta,
Morta e sem saída.
Noite que lambe
Minha torpe ferida.

Dor sem fim
Na escuridão calada
De meus assombrados
Confins.Nublada mulher
agonizando dentro de mim.

Fantasmas brotando
De sombras, terror
Em minha alma
Profanada...Nada...
Nada sou nesta
Noite de silêncio
Insone...Nada sou
Em meu mundo
Que some...E
Morro sempre
E morro nisto
Que me apavora
E consome.

Karla Bardanza

O AMOR NÃO SABE O MEU ENDEREÇO


O amor não sabe o meu endereço
E quanto mais o procuro, mais
Estou pelo avesso.Olho para dentro
De meu coração e só vejo solidão a
Dois...Nada faço, deixo tudo para
Bem depois...E vou indo assim me
Perdendo mais de tu, me perdendo
Muito mais de mim...O amor não
Sabe onde estou, o que gosto, o que
Posso ser ou sou, o amor não gosta
Da minha poesia, não me entende,
Nem sabe mais o que é romance ou
Mesmo alegria...Não tem vontade
De me fazer feliz, não pede mais bis,
Não tem aquele antigo fogo no olhar.
O amor – estranho chegar a esta triste
Conclusão – parou de me amar...

Karla Bardanza

UMA MENINA DE NUVENS


Uma menina de nuvens
Com cabelos de céu
Uma menina de sonhos
E olhar de flor e mel

Uma menina de sorriso
E com grandes asas
Uma menina que mora
Em tantas casas

Uma menina voando
Além de si e do sol
Uma menina com mãos
De luar e girassol

Uma menina e seu vestido
De estrelas e jardim
Uma menina lá dentro
Do dentro de mim

Uma menina brincando
Com outra criança.
Uma menina que eu
Chamo de esperança

Uma menina brotando
Bela como um jasmim
Uma menina amada
Minha filha Yasmim

Karla Bardanza


Mario Quintana disse que poemas devem ser dedicados, esse é para a minha alma e continuação.