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A ALQUIMIA DO AMOR


Dá-me a tua mão à beira do abismo,
Estamos para além da paixão e para
Além do próprio destino.O desejo
Transforma-se em amor em perfeita
Alquimia, uma união do sonho com
A sintonia.

Tantas trasmutações neste processo
Do encontro do prazer com o sentir.
A volatização de corpos,a combustão
Do desejo, a plenitude entre abraços
E beijos.A destilação de carícias, a
Conjunção final.Com você, o amor é
A ponte que me une ao que é universal.

Dá-me a tua alma e deixe eclodir a
Flor.Da paixão evoluímos para a
Magia do amor.E nesta alquimia
Da matéria para um estado mais
Espiritual, a vida tornou-se algo
Transnatural.

Dá-me a tua eternidade e descubra
Em mim espaços de luz e paz.Dou-
Te meu coração na alquimia do amor,
Dou-te pérolas e diamantes.Receba a
Amiga, a mulher e a amante.

Dá-me a tua mão à beira do abismo
E pulemos para a integração total,
Pois o amor está nas profundezas
Das alturas indefinidas, está em
Tudo que uniu as nossas vidas.

Karla Bardanza

A ALMA DO MAR


Escuto a alma do mar,
Vastidão ao redor...
Profundeza a me levar.
Abismo tão maior...

Silêncio...Silêncio...
Se eu dormir,
Não devo acordar.
De olhos fechados,
Meu corpo a flutuar...
Pedaços colados
De quem não pode
Mais se encontrar.

Leveza calma,
Correnteza sem fim
A me puxar para
Tão além de mim.

Karla Bardanza

MANDALAS E IANTRAS


Mandalas e Iantras...

Contemplação sentida.

Círculos consolidando

A profundidade da vida.

O eu integrado no todo

Em síntese intemporal.

O invisível real...


Mente concentrada,

Abrindo-se para a

Divindade.Magia

Interiorizada em

Sagrada geometria.
Imagem do mundo

Em símbolo maior.

A vida em sintonia

em mim e ao redor.


Karla Bardanza

O ENCONTRO




Ela olhava com mistérios e degredo o corpo do amante sem dúvida, sem medo. E olhava sem ver porque para ela sentir era mais do que prazer. E nada via com os seus olhos fechados em lânguidez e alegria. Abraçada ao seu cais, queria muito mais. Queria o céu da boca e todos os sons e todos os sins eram seus enfim. E quanto mais ancorava naquele porto, mais sentia o seu corpo com velas içadas em madrugadas de contemplação e paz. Deitada nua para ele e para a lua, o mundo era o nunca e o jamais.

E nessa entrega fatal e selvagem sentou-se à beira de si e em total encontro consigo mesma, começou a sorrir.


Karla Bardanza





Imagem:The Lovers por Nicoletta Tomas

O DESEJO, O POETA E A BUSCA


Quantos desejos cabem em um ser humano?Somos seres desejantes por excelência.Nascemos marcados por esta eterna busca de satisfação.Na realidade, nascemos partidos com a idéia de que estamos inteiros, enquanto estamos despedaçados.Em cada pedaço, somos ilimitados.Caminhamos pela vida, ansiando por inteireza e completude.Precisamos imensamente saciar o desejo de plenitude.Porém, cada vez que saciamos um desejo, outro nasce em seu lugar e por assim ser, nossa misteriosa fenda nunca é preenchida.Mudamos de um objeto para outro porque a finitude de um desejo implica no nascimento de outro.


Assim é o ser humano.Assim é o poeta diante de sua criação.Estamos eternamente buscando e esse é o nosso grande mistério e a nossa interminável batalha.




Karla Bardanza

A SÚBITA POÉTICA DO AMOR


Ele ouve o mar nela
E as nuvens o enlaçam
E os minutos não passam.
A hora aquietou-se.
A flor, apenas a flor
Encantou-se.
Imóvel momento
De súbita poética.
Ele sente, ele sente...
Ele a ama.
E ama o essencial:
Os cabelos de brisa,
O olhar de água-marinha
( queimando a pele e tudo
que rasga seu imperfeito
peito),
seu sorriso de pérola
escondido em ostra,
que quase revela.
Ele a ama...
E o amor é uma vela
De jangada acenando
No infinito.
E o amor é que
Nunca foi lhe dito.

Ele ouve gaivotas nela
E a respiração do mar.
E sem entender, pergunta-se
Se realmente sabe amar.

Karla Bardanza

HÁ SONHOS DENTRO DE DEUS




Há sonhos dentro de Deus.
Sonhos tecidos em luar e
Sabedoria.Sonhos de vaga
Música e desmedida alegria.

Há oceanos dentro de Deus.
Oceanos de encontro de mãos
E flor.Vastos oceanos de
Liberdade e amor.

Há estrelas dentro de Deus.
Estrelas plantadas em céus
De anjos e harpas de mar.
Estrelas de onde eu posso
Me jogar e sorrir porque
Nos braços de Deus vou
Cair.

Há florestas dentro de Deus.
Árvores enraizadas em nuvens
E à beira do nada.Árvores de
Sutil luz onde posso encostar
Sempre a minha pedra e aminha
Cruz.

Há uma eternidade dentro de Deus.
Uma eternidade de poesia escrita por
Diáfanas mãos.Dedos de fantasia
E toques do coração.

Há tantas razões dentro de Deus.
A maioria tem rosto e corpo, pele e
Voz.Uma sou eu.
A outra somos nós.

Há sonhos dentro de Deus...

Karla Bardanza

UM GRÃO DE MIM


Doces geografias
Trago em meu olhar.
Perto do coração,
Uma flor de manacá,
E para onde lanço,
Meus olhos de flor,
Contemplo magnólias
E camélias, manjericão
E alecrim.
Pensamento de sonho...
Um grão de mim...

Cresce tudo ao
Meu redor:
Lavanda e acácia,
Murta e lírio...
E eu me sinto
Um tanto menos só.
E olhando vejo que
O tempo se deixa ver.
E mesmo sem olhar,
Vejo sem querer
Um grão de mim
Na face sonhada
De uma árvore rebelde,
De uma flor recatada.

Pensamento de sonho,
Vulto à meia-luz,
Eu sou apenas
O que o papel traduz.
Um grão de mim
Feito à medida da poesia.
Tatuado com flores
E letras de fantasia.

Karla Bardanza

METAMORFOSE




Ela foi fechando o rosto
E foi fechando as mãos.
Ela foi fechando os punhos
E colocando os pés no chão.

Ela foi cortando os cabelos,
As asas e a delicadeza.
Ela foi esquecendo de tudo
Inclusive do que era beleza.

Ela foi criando malandragem
E tanta sutileza.
Ela foi perdendo a coragem
E ganhando só tristeza.

Ela foi se livrando
Até do olhar sereno.
Ela foi cuspindo
Tanto veneno.

Ela foi criando escamas
E aprendendo a deslizar
E a escapolir.
De repente parou de chorar
E também de sorrir.

Ela foi se (des)construindo.
Ela foi se metamorfoseando.
Ela foi morrendo.
Ela foi matando.

Karla Bardanza

GUEIXA E SEDUÇÃO



Na sombra tua boca

Em charme e sedução

Uma pétala no chão.

Plumas e espumas

A me levar.Um sorriso

Singular...Pelas dobras

Da noite uma dança

Sem fim.Você dentro

E dentro de mim...


Teu contorno é jardim.

Camélia e gueixa sou

Eu deitada em meu

Próprio mito,ressuscito.

Caledoscópio de emoção,

Paraíso e sedução...

EuLevemente encarcerada

Sou tua, nua e mais nada.


Toques de duendes,mãos

De cetim, costas perfeitas,

Pérola ou marfim?Sonho

Em alto mar, entrega de

Céu e luar...Esta sou eu

Na sombra, em tua boca

,Louca magia que me quer...

Melodia e doce eternidade

É ser tua amante-mulher.


Karla Bardanza
Não quero nada que me contém...Não convém poesia certa...Versos são para ser livres...

ENCANTADO AMOR











Pesco nuvens de dentro de teus olhos
De entrega enquanto me negas as mãos,
Os fins e tudo que me é leito e pluma.

Deito-te em segredo e em magia de coral
Apenas para achares o que mais tens em ti
E que é semente e brisa me fazendo florir.

Escrevo-te em contornos de pele e paz e
Palavras quero tantas mais para dizer-te
Que a minha senha é feita de céu e anjo.

Sinto e sinto pelas curvas do tempo todo
O vento que voa pelo teu corpo, pela tua
Alma, calma lua aberta ao meu desejo.

E em meu infinito de silfos e sonhos, és
A idéia singular de deslumbramento e luz,
É aquilo que traduz o meu vôo no tempo.

Encantado amor por entre as espumas,
Sou da tessitura de teu mais doce dia,
Sou tua fada, teu fetiche, tua fantasia.

Peça e peça-me sempre e sempre te darei
As flores as pérolas as pétalas o paraíso
Nada quero, salvo o beijo de teu sorriso.


Karla Bardanza

COISAS DE CRISTAL


Coisas de cristal
Estão dentro do dentro
De mim...Entre silfos
E fadas, minha madrugada
Cheia de amor e sonhos
De nuvens e vento...
No meu infinito,
O contorno de tuas mãos,
Tuas palavras de espuma,
Um silêncio de gaivota perdida.

Coisas de cristal
Habitam minha vida,
Tão nobre vida...
Textura do céu, plumas
A nos esconder, camélias
E coral a te prender
Em quadros dentro do
Dentro de mim...
Singular jasmim,
Begônia e mito,
Meus olhos desabitados
Ressuscitam e
Nada preciso além
De ver o teu sorriso
Em letras,em páginas,
Em palavras da tarde.

Coisas de cristal
Quebram dentro do dentro
De mim pelas curvas
Da manhã...Perfume
A me queimar, desejo
Fere-me...Crio asas
E posso voar...Dentro
Do dentro de mim,
Minha verdade silenciosa:
Te amar, sempre te amar...

Karla Bardanza

E SE MORRI


E se escuto, não ouço.
E se cai, foi no fundo do poço.
E se falei, foi mentira.
E se sorri, foi na ira.
E se há futuro, é no escuro.
E se há passado, foi sagrado.
E se há caminho, não é para mim.
E se há flor, não é do meu jardim.
E se abri, já fechei.
E se morri, foi quando te amei.
E se sou uma mulher, já nem sei.

Karla Bardanza

QUE MULHER!!!!!!!


Quando ele viu a morena,
Esqueceu da vida.Correu
Atrás até conseguir aquilo
Tudo que o mundo tinha
Trazido de presente.

Ele cada vez mais ausente...

Andou com a morena
Pelos quatro cantos do
Rio de Janeiro.O romance
De vento em popa...Era o
Início de Fevereiro.

Ela no navio negreiro...

Ele de cabeça virada,
Dava tudo para a morena:
Casa, comida e roupa lavada.
Vivia em função de seu
Muito doido coração.

Ele cada vez mais ausente...

Um combustível diferente
Alimentava aquele caso.
Ela era movida a dinheiro.
Ele era movido a paixão.
Ele - um sonhador...
Ela - pé no chão...

A outra apanhando
No navio negreiro
Era um restinho de mulher.
Se olhava no espelho e dizia:
“Meu marido não me quer.”

Um dia ele não dormiu
Em casa.Ela criou asa
E voou até o trabalho
Do marido.
Quebrou o escritório,
Ele e o oratório.
Foi uma confusão só.
Quebrou a morena também.
Desatou o nó.

Ele deixou o barulho rolar.
Não fez nada para salvar
A gostosona das mãos
Daquela selvagem.
Amarelou.
Perdeu a coragem.

Ai, então, percebeu
Que o buraco era
Mais embaixo.
Botou coleira.
Virou capacho.

Agora, ela é quem manda.
E ele obedece.
Virou santinho, tão quietinho.
Não bebe, não fuma,
Futebol, nem pensar!
Descobriu uma nova mulher
Em casa.Virou escravo.
Voltou a amar.

Quanto mais ela pisa,
Mais ele a quer.
E pensa feliz:
“Isso é que é mulher!”

Karla Bardanza

GOZO DA ALMA


Minha alma goza...
É rosa e delicadeza
Serenando
Em meu corpo.
Pétalas abertas
Para a eternidade,
Perene, perene...


Profana alma,
Indo além,
Tão além do bem
E do mal, existindo
Íntegra e parodoxal
Quando desejo o
Teu desejo e os meus
Lábios são apenas
Um beijo...


Morro em meu corpo,
Morro no teu corpo,
E minha alma goza
A rosa entre-aberta,
A palavra certa.


Saio de mim,
Perco-me de mim
Numa alegria louca
E desmedida
E sem culpa nenhuma
Gozo a vida...


Karla Bardanza

FILOSOFANDO SOBRE A MORTE E A VIDA


Para Sartre, a morte tira todo o significado da vida, pois a morte é a certeza de que o nada nos espera.Já para Heidegger é justamente o contrário: é a morte que dá sentido à vida.E eu que sou como Alberto Caeiro e não tenho mais filosofia:só sentidos,não penso e não quero mais pensar.Contudo,creio que a vida só vale se a gente amou e foi amado.
Morrer é fato.Não há como fugir da consciência de nossa finitude.Nascemos sabendo onde o destino vai desembocar.Porém, se aceitamos o convite para sair de nós mesmos, exercemos o amor em sua plenitude e conquistamos a nossa maturidade.
Nesse sentido, a vida ganha outra dimensão e sobrevive para além da morte à medida que a nossa partida resiste até a nossa própria ausência, especialmente, para aqueles com quem criamos um vínculo de amor verdadeiro.
Acima de tudo, apenas nós mesmos podemos dar sentido à nossa vida.Dessa forma, devemos viver da melhor maneira possível, sem jamais nos esquecermos de que as nossas atitudes morrem conosco, mas não morrem na memória alheia.


Karla Bardanza

HISTÓRINHAS DE AMOR


SUA CONFISSÃO

Quando você me disse
Que amava outra,
Fiquei louca.
Minha boca foi pouca
Para te chicotear
Com o meu ódio.
Te bate, te soquei,
Te esfolei.
Depois percebi
Que apenas eu
Amei.

TUDO SEMPRE IGUAL

Você pega e faz tudo
Sempre tão igual.
Não quebra a rotina.
Não faz nada de especial.
Já nem sei se o problema
Sou eu ou você.
Mas, parece que há tempos
Paramos de viver.


MISSÃO

Ela parou de trabalhar
Para tomar conta dos filhos
Depois do casamento.
Ficou gorda, ficou sem vaidade,
Ficou em casa,
Virou a mulher do fulano
De tal.
Ele continuou com
Sua vida normal.
Ela cumpriu a sua missão.
Ela sempre na rua,
Arrumou uma paixão.

Karla Bardanza

O TEMPO NÃO PASSA


O tempo não passa
Para quem faz pirraça
E não dá o braço a torcer.
O tempo não passa
Para quem (des)espera
No banco da praça.
O tempo não passa
Para quem sente a ameaça
Da solidão.
O tempo não passa
Porque mesmo despejado
Você ainda mora no meu coração.

Karla Bardanza

PERSÉFONE POR ELA MESMA.


Meu nome é Perséfone
E eu sou a amada filha
De minha amada mãe.
Um dia, a roda do destino
Girou e Plutão apaixonado
Saiu do útero da terra
E me raptou.

Meu grito ecoou, o chamado:
-Mãe...Mãe...
Apenas Hécate pôde ouvir.
Chorei por minha Mãe
Que chorou tanto por mim.
Por nove dias e noites,
Ela errou sem saber
O meu paradeiro.
E o que estava inteiro,
Partiu-se em metades.
-Mãe...Mãe...Saudade...

Minha Mãe cruzou
Seus braços de flor.
A terra dormiu e quase
Não acordou.Nada havia,
Nem folha, nem fruto,
Nem o nosso belo amor.
Frio e desolação no
Coração de uma mãe
Sangrando por sua filha.
Minha Mãe deixou seu reino,
Saiu do Olimpo.
(Mãe...Te sinto...)
Nada havia mais,
Apenas uma mulher
Sem paz.

Um dia,
Provei da româ...
E o amanhã
Aconteceu em segredo.
Perdi tudo
E até o medo.
Descobri minha morada.
O inferno era o meu lugar.
Com Plutão, tornei-me
A mulher amada.
Com Plutão, aprendi a amar.
Fui sua rainha, sua mulher,
Sua papoula.
Com ele, beijos de eternidade.
Saudade de Hera
Por seis meses.

Minha vida pela metade.
Seis meses, sou primavera.
Semeio a terra.
Minhas flores e frutos
Brotam em alegria,
À beira da paz,
Em bela poesia.
Ao lado de minha Mãe,
Sou a beleza em gestação.
Veja com seus próprios olhos,
A natureza em canção.
Mas sinto a angústia
Da solidão...
Meu amado...Plutão...
Preciso voltar...

E quando volto
Para as entranhas de Gaia,
O frio raia e beija a terra,
O monte, o mar e a serra.
Estou nos braços de meu rei
E senhor nas profundezas
Obscuras do amor.
E tudo que começou
Em dor, tornou-se
Sangue em minhas veias,
Melodia e canto.
É o encanto da escuridão.
É a paixão,é a paixão.

Nos braços de meu amado,
Estou no tempo perdido
No tempo.
Nos braços de meu amado,
O amor também é sagrado.
Seis meses de saudade
Do sorriso de minha Mãe.
Lá fora...O vazio...
A terra sem cio.
Aqui dentro, o calor.
O meu esplendor.
Sou a rainha dos infernos.
A senhora das estações.
O amor de minha Mãe.

Nosso imortal elo
Supera a eternidade e
O tempo.[E o mistério
Dos mistérios.
Nós duas somos a revelação.
Quem quiser ver que abra
Seus olhos e o coração.

Meu nome é Perséfone
E eu sou a amada filha
De minha amada Mãe.
Sou a guardiã de um
Grande segredo. Se
Você não descobriu
É porque ainda é cdo.

Eu sou amor verdadeiro,
A conciliação, a história e
A fertilidade.
Eu sou o que não está escrito,
Eu sou o mito e a realidade.
Eu sou a prova real que o
Amor é sagrado,
Um dia saberás...
Um dia serás iniciado...

Karla bardanza

SONHO DE BICHO


Um gato com sono
Esparramado no sofá,
Não quer sabe da vida
E nem do que há. Olha
Para um ratinho, mas
Quer mesmo é roncar.

Um leão descabelado,
Preocupado com a juba.
Faz cara de mau e não é
Não!Tem um coração
Cheio de formosura.
Brinca e pula, adora
Uma pequena travessura.

Uma zebra com roupa de
Dormir e você pensa que
Ela vai ficar em casa?Que
Nada!Ela vai é mesmo sair.
Toda listrada, toda igual.
Não faz mal!Ela se sente
Tão linda e especial.

Uma girafa subindo uma
Árvore.Seu pescoço vai
Lá no céu.Ela encontra
Deus numa nuvem e diz
Que faz rapel.Sente que
O limite é apenas o céu.

Um elefante fazendo dieta.
Inquieto corre, faz atletismo.
Salta de para-quedas para
Dentro de um abismo e acena
Igual a uma cena de cinema.

Um cachorro levando seu
Dono para passear.E lá vão
Eles flutuando no ar.Não há
Coleira e nem nada parecido.
Pra quê?Eles são amigos.

Uma abelha cansada de guerra.
Não quer ser operária de jeito
Nenhum.Não quer fazer mel
Também não.Gosta mesmo é
De queijo e macarrão.

Um beija-flor cheio de amor
Para dar.Beija tudo sem parar.
Beija bicho e gente também.
Namora tudo que vê e chama
De docinho e meu bem.

Uma joaninha cansada de
Seu nome.Quer mesmo é ser
Chamada de Catharine.Acha
Tão formoso, diz que é nome
De atriz.Joaninha é nome sem
Graça.Chateada diz que vai
Mudar de país.

Um monte de bichinhos,
Com muito para sonhar...
E você amiguinho, o que
Você gostaria de mudar?

Karla Bardanza

MEU SENHOR


Meu Senhor,
Teus olhos de dor
Buscam muito mais
Do que te dou.
Enigma, incógnita,
Equação...Medo na
Escuridão...Segredo
Dessacralizado...
Quem és tu, Amado?


Minha alma e meu
Sangue em teu corpo.
Morto amor, diga-me
Quem sou...Teus passos
Noturnos, teus nervos
De aço, diga-me o que
Fazer...Meu Senhor,quem
É você que chega assim
Arrancando a vida de mim?


No espelho, nada vejo.Sou
Tua sombra, teu resto, sou
Aquela que elegestes para
Morrer...Por que nada posso
Ver? Por que nada sinto
Salvo está fome de você?


Meu senhor,
Sou teu alimento.
Sou teu céu e o
Teu vento...Sou
A escolhida, a que
Morreu e não perdeu
A vida...Sou aquela
Que carrega a eternidade
Nas veias, sou a aranha
Esperando a vítima na
Fria teia, sou apenas
O que fizestes de mim.


Meu Senhor,
Sou tua serva, teu único
E poderoso sim.Peças
E teu desejo é ordem.
Não há luz em nosso
Mundo..Não há emoção
Que possa nos atingir.
Não há nada do que
Possamos fugir.Sou
Corpo sem alma e
Com sono.Sou aquela
Com um único dono.


Meu senhor,
Então por que
Sinto tanta dor?
Por que nada mais
Posso ver além do
Horror de quem
Quer viver?


E toda noite,
Salto do abismo
Para o alto...
E sou solidão...


E toda noite
Temo que alguém
Mate de novo o
Meu coração...


E neste labirinto
Nada sei, nada sou,
Nada sinto,
Meu Senhor,
Apenas pavor.
Apenas o medo
De quem já morreu,
De quem já matou.



Karla Bardanza

APENAS CHORAR...


E o que escuto
Em deslumbramento
É o chamado do vento.
E o que vejo
Bordado em minha boca
É a papoula mais bela.
Pela janela a revelação do
Que ainda não passou.
A faca rasgando
Na profunda dor da saudade.
A hora nua
Trazendo a inquietação.
O silêncio absurdo
De meu coração.
Eras música dentro de mim.
Acordes de perfeição
E harmonia.
A voz tão afinada
E em sintonia.
Sento à beira do sonho,
Para ouvir tua melodia
E as lágrimas de minha alma.
Estrelas em estilhaços,
Lua vestida de Hécate.
O amor por entre brumas e flores.
Passos no além de mim.
O amor sorrindo pelo
Meu jardim.
Saudade caminhando
Pela minha poesia,
Passado anunciando
O desejo preso e
Imantado.
Sagrado amor,
Tempero de minha
Saudade.
Eternidade para lembrar
O que foi
E nunca mais será.
Sento à beira da memória
E começo a chorar...
Nada me resta,
Salvo lembrar...

Karla Bardanza

FILOSOFIA DO VENTO




E minha sombra não senta mais comigo.


É meu duplo, vivo, aberto para a eternidade.


Vive para além de mim, reconhece-se no infinito.


Grito e ninguém pode me escutar, no espelho


Sou a morte, perdi minha alma.Quem poderá


Encontrar?E se algo é um sopro em mim


É porque estou além do bem e do mal.


Será que morri?Será que a vida pode ter


Sentido agora?Será que fui embora antes


Mesmo de saber do que foi e não mais será?




Olho para o que ainda me alimenta e tudo


Se ausenta de meus sonhos, de meus olhos.


O que sou, sou duplamente.Turva mente,


Uraniana.Tenho critérios de verdade? O que


Me espera?Preciso superar a facticidade.


Minha angústia me reconduz a mim mesma.


O que sou e o que serei como dona de meu


Destino me duplica, me unifica,me faz ir


Adiante, transbordar e transcender.Reconheço


Assim quem sou eu, quem é você.Isto é a


Minha compreensão da vida., do ser e do tempo.


Meu olhar é a minha filosofia escrita no vento.




E a minha sombra é tão limpa e transparente.


Ela está viva e me sente, me sente, me sente.




Karla Bardanza

AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA E SOLIDÃO


Na tela, ela encontra

O enigma.Do outro lado

Um alguém que ela diz

Chamar de Meu Bem.

Ela é aquela que espera

Em frente as várias

E tantas janelas.Ela

E seus contatos rasos,

Sem contigüidade, sem

Sonho nem saudade.


Embaixo da lâmpada,o

Lugar mais sombrio,o

Frio do vazio nunca e

Nunca preenchido.Ele,

Só através de fotos e

Webcam.Quem é ele?

Ela pensa que vai saber

Um dia, talvez amanhã.


Toda noite é encanto.

Ela se inflama e teme

Que a chama não resista

ao verdadeiro encontro.

Tantos já vieram, tantos...

Esse vai ser diferente, ela

Sente, ela sente.Fascinada,

Ela ultrapassa etapas, ela

Sabe de tudo, quase tudo.

Ele é o homem idealizado,

O príncipe encantado virtual

Que irá salva-la do real.


Mas eis que o baile de máscara

Termina e o mistério é assim

Desvelado.Ele é um blefe,uma

Mentira, uma bola de sabão.

O sonho foi em vão.Vencida

Ela? Claro que não!Ela liga

A máquina e corre atrás de

Mais uma doente ilusão.

Ela é solidão, ela tem tanto

A esconder.No fundo, ela

É igual a mim e talvez a você.


Karla Bardanza

YASMIM


Mãos de fada, olhos de algodão e luar,
Cabelos de estrela, pérola de bravio mar.
Ninfa do bosque, pedaço de pétala e flor,
Sorriso e sortilégio,jardim em esplendor.

Delicadeza nascida de perfumado céu,
Anjo de luz e melodia com asas de mel.
Princesa de sonhos e nuvens de alegria,
Ela é a paz que acalanta o meu tênue dia.

Dentro de ti, o muito do que há em mim:
Passarinhos e borboletas, amor-perfeito
Em aléias, azaléias em sagrado jardim.
Esperança de futuro onde sempre deito.

Minha semente, a minha bela mais amada,
Filha de minha alma, minha continuação,
Você me tornou uma mulher tão encantada.

Você e só você trouxe-me um novo coração.




Karla Bardanza

DEITADA NOS BRAÇOS DA TRISTEZA


Deito nos braços da tristeza
Enquanto ouço minha alma
Sangrar.
Silêncio em meus confins.
Uma paz cruel ao redor.
Solidão só
Solidão e nó.
Razões não acho,
Não pulam de minhas entranhas.
Estou do lado de fora de mim.
Olho essa estranha,
olho essa que me acompanha.
E nada sei salvo essa subjugação:
Eu escrava de minha reflexão.

Minhas idéias fogem, escapam
Para o recorte de minha realidade
Estou situada no mundo
E o mundo não cabe em meus espaços.
Não o interpreto, não o leio, não creio.
Oculto-me nos sofismas que disseram.
Engulo a contradição, a lógica, o cânone.

O que é não vai ficar tal como está.
Minha angústia é o meu par.
Quero a negação da negação:
Quero a síntese de mim mesma.
O devir...Sorrir, apenas sorrir.
Deitada no coração da tristeza,
Trago o céu para a terra e em
Dor encontro a essência do amor,
Nesse silêncio que me apavora.
Não vou além, apenas vou embora.
E esse drama que me atravessa
E me confunde, me dilacera todo
E todo dia na busca de mim mesma.

Karla Bardanza

UMA GORDINHA CHARMOSA


Uma gordinha cheia de curvas,
Uma uva em cachos bem apetitosa,
Lá vem ela, tão cheinha e charmosa.

Uma mulher sinuosa, uma mulher
Fora dos ditames e dos padrões,
Quem disse que ela não arrasa
Milhares de desolados corações?

Beleza da renascença, odalisca
Enfeitando sonhos e sorrisos, ela
É a estrela destronada, a mulher
Ainda amada, o fetiche de alguém.

Uma gordinha silenciosa, passos
De luar e mel, lá vem ela direto
Do céu, lá vem ela e seu excesso
De flor.Vejam todos uma gordinha
Encantando o distraído amor.Vejam
Todos o que é beleza e esplendor.

Karla Bardanza

O ESTATUTO DO AMOR


DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art.1.Esta lei dispõe sobre o amor e a necessidade de amar e ser amado.
Art.2. Considera-se que todos, para o efeito desta Lei, devem amar e ser amados.
Parágrafo único. Crianças gozam especialmente do direito de serem amados muito mais do que amar, a fim de lhes facilitar o aprendizado de amor.
Art 3. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral amar e respeitas suas crianças assim como os seus idosos.
Art.4. A natureza também deve ser amada e respeitada.Nunca deverá ser destruída em detrimento do progresso.Outrossim, preservada por todo o sempre.
Art 5. Nenhuma criança, idoso,mulher, homem, animal ou planta será objeto de negligência, crueldade ou violência.
Art 6. Todos os seres têm o direito inexorável do amor.Cada um encontrará quem lhe aqueça o coração e a alma.Dessa forma, a solidão é assegurada somente a quem a deseja.
Art 7. É dever de todos construir um mundo melhor através de atitudes amorosas para com o seu semelhante.
Art 8. O aprendizado do amor será um processo natural e contínuo.O encanto pela vida será sempre renovado e recriado.
Art 9. Fica proibido que o ser humano chore, salvo diante da saudade e da morte.
Art 10. Fica decretado que a partir de hoje todo coração está aberto em flor e pétala e que cada ser será um presente visto com os olhos do coração.

Karla Bardanza

UM PECADO DE AMOR


Um silêncio, uma voz.
Um pecado, um de nós.
Uma maçã, uma mordida.
Quem foi algoz?
Quem perdeu a vida?

Um medo, um mistério.
Um segredo calado.
Um desejo, um caso sério.
Quem sabe?
Quem finge não saber?
Todos?
Ou apenas você?

Um prazer tão nosso.
Uma forma particular
De amar.
Um esconderijo do sol.
Um refúgio do olhar alheio.
Venha, eis o meu seio.
Eis a minha alma
Na palma de tua mão.
Eis a nossa cama
E o nosso colchão.

Uma tarde, uma manhã.
Uma escapulida.
Uma cerca rompida.
Um limite na desmedida.
Uma fronteira atravessada.
O que sou?A amante?
Ou a amada?

Uma aliança na escuridão.
Um sonho perigoso.
Uma verdade silenciosa.
Uma dor maior.
Às vezes, eu tão só.

Um amor profanado.
Um encontro sagrado.
Quem ganhou?Quem perdeu?
Você ou eu?

Um quarto com espelho.
Um desejo pintado de vermelho.
Um prazer tão sombrio.
Às vezes sinto frio.
Sinto um nó na garganta.
Ás vezes eu tão santa.

Um perpétuo desengano
Tatuado no corpo.
Um erro, um dano.
Um desejo domesticado.
Um pecado, um pecado.

Um lembrança guardada
Na pele, escrita com
Luxúria e flor.
Um pecado de amor...

Karla Bardanza

INDO PARA AS ESTRELAS



Enquanto ela gritava, blasfemava descabelada, ele fazia as malas impassível.Ela invisível, ela tão frágil.Ele olhava maquinalmente para o armário e para as roupas alheio a tudo, alheio àquele mundo que agora não fazia mais nenhum sentido, nenhum sentido mesmo.Estava firme em sua decisão.Pensava na outra, naqueles olhos, naquele corpo, no desejo escrito nele mesmo.Maravilha era estar com aquela mulher em seus braços.Como ela era tão diferente de sua esposa, tão doce, tão entregue!Sentiu a paixão subir pelo rosto.Por um momento sentiu vergonha de estar tão apaixonado diante daquela que finalmente via.Olhava para ela com um estranhamento singular.Já nem mais lembrava quando havia deixado de amá-la.Deve ter sido quando ela engordou, ou talvez quando ela cansada dormia sem se incomodar com ele.Aos poucos o desgaste, a falta do aconchego, do amor bem feito.Aos poucos a inevitável deterioração e escapulida que ficou difícil de administrar.E agora a constatação que não queria mais aquele corpo perto dele.A plena certeza de que queria apenas estar com a outra, sentindo o seu cheiro, a sua delícia.


Subitamente aquela mulher parou de gritar, ficou calada e miudinha sentada num canto, apenas olhando aquele homem...Sem mais nada dentro de si lembrou que ele era seu marido.Pensou no início, pensou nas coisas que foram ficando perdidas pelo caminho, na delicadeza, no próprio amor.Viu a filha menor apavorada na porta testemunhando sua perda.Viu que não havia mais como parar a roda do destino...Fechou os olhos e olhou para dentro por um segundo, contou de um até dez e permitiu, apenas permitiu que tudo continuasse acontecer, sem interferir, sem ferir mais a si mesma.


Ele esvaziou o armário, encheu as malas com tudo que era seu, pegou-as, chegou perto da filha e disse:”papai vai morar em outro lugar, só isso, só isso, tá bem?”, a menina nada disse, agarrou mais a boneca, colocou a chupeta na boca e deixou ele passar.Olhou para mulher jogada no canto de cabeça baixa, sentiu um soco no rosto, sentiu sua alma se despedaçar, mas seguiu em frente.Abriu a porta, saiu do inferno.Finalmente, se sentia livre, aliviado, tão cruelmente feliz.Fazia um belo sol mesmo sendo inverno, um sol frio, porém gostoso.Abriu o carro, pôs as malas, entrou, ligou o rádio, arrancou para as estrelas.Enquanto isso, ela continuava no chão e ficou ali por muito e muito tempo, ficou ali mesmo quando a primavera chegou plena, ficou ali o verão todo, ficou ali por uns dois invernos.Ela só percebeu que estava há muito tempo no chão, depois que a filha começou a frequentar o jardim de infância.Era primavera.Notou que suas violetas brotavam tão belas.Sentiu aquela visão tão intensamente, tão viva.Sentiu tanta coisa diante daquele simples vaso de violeta.Percebeu enfim que já tinha sofrido o suficiente, que era hora de dar a volta por cima, de se vestir de flor.


No início teve todas as inseguranças do mundo.Depois entendeu que tinha que recomeçar de alguma forma e recomeçou.No trabalho, notaram logo as mudanças e elogiaram.Sentiu que estava indo pelo caminho certo.Cada vez mais sua alma se cobria de um amor por si mesma, era a sua fã número um.Surgiu o primeiro namorado.Que delícia a paixão!Ela se lambuzava desse doce tão antigo e tão necessário.Seu pensamento voava, ela estava no vento, nas cores, no mar. As filhas cresciam, a vida seguia seu curso interminável de surpresas diárias, o mundo tinha um gosto tão diferente...Nunca mais havia pensado nele, nunca mais se odiou por ter perdido a competição.Ele, por sua vez, não cumpriu com a promessa feita a filha.Tempos depois ela soube que ele estava separado.Não se sentiu feliz tampouco vingada por isso.Ela estava feliz demais para abrir o seu coração para esse tipo de coisa.Nunca mais o viu desde aquele dia.




* * *




Ela olhou para céu da janela de seu carro, estava azul com um sol que parecia usar um casaco...Ainda assim, o dia estava gostoso: frio e calor na medida certa.Naquela manhã em especial, estava se sentido plena, inteira, uma flor.O namorado já havia telefonado e dito o “eu te amo” habitual, as meninas estavam bem, o trabalho tão tranqüilo, tudo estava em equilíbrio.O sinal ficou amarelo, ela parou e por um segundo observou as pessoas ao redor.Pareciam sós.Um homem de casaco azul chamou sua atenção.Ela conhecia aquele rosto.Um frio desceu espinha abaixo: era ele!Era ele!O coração parou por um tempo indeterminado e ela viu num flash toda a dor do passado.Viu e sentiu tudo de novo, com uma intensidade atroz.Ele parecia tão mais velho e tão menos feliz.Ele parecia o mesmo apesar dos danos.Bem ali na sua frente, seu algoz.Respirou aliviada.Ele atravessou e se foi.Junto com ele, o passado e o erro.Nunca mais sentir aquela dor, nunca mais!Sentiu-se livre.Ligou o rádio: Marisa Monte aqueceu o momento.O sinal abriu e lá se foi ela, sem olhar para trás, sem querer lembrar, sem tristeza, sem rancor. Anestesiada contra a dor, arrancou para as estrelas...Agora, apenas o céu poderia ser o limite.




Karla Bardanza

A EQUILIBRISTA




Ela se equilibra


No fio de seu


Curto salário.


Dentro do armário


O suficiente para


Mais um dia.


Existe alegria


Na vida?Quem


Vai lamber suas


Feridas?




Ela se equilibra


No fio da solidão.


Quatro filhos para


Criar e pobreza


Na palma da mão.


Ela sobrevive de


Esperança. Ela


Dança na corda


Bamba, ela bebe,


Ela samba.Ela


Carrega o peso


Maior, ela luta


Tão só.




Ela se equilibra


De barriga vazia


Na casa da Madame,


Na beira da pia.


Ela carrega a bolsa


Vazia e em casa,


Deitada no chão,


Morre todo dia


Uma linha da sua mão.




Karla Bardanza

O MERGULHO


Salto para o infinito,

Sussurro, suspiro e grito.

Mergulho no desejo e

No prazer.Me afogo

Nos lençóis,me afogo

Em você...A sós me banho

Em tua água cristalina e

Nem respiro...Tua boca

A me receber, me atiro

Sem pensar, quero isso,

Quero te amar, quero

Morrer em teu olhos

De paz e luar...Salto

Para as estrelas, vou

Enlouquecida descobrir

A vida nos teus braços,

Sensações sem fim,

Eu dentro de você,

Você dentro de mim.

Mergulho, teu corpo

É seda, é cetim, é linho,

É veludo a me beijar

E a me fazer passarinho.

Teu corpo é água

De beber, é a minha praia

Tão particular...Bom

Te morder, te sentir,

Te dizer que quero

E quero te navegar.

E vamos sem hora

De voltar, e vamos

Sem olhar para trás.

O mergulho é flor no céu,

Nossa cama é trampolim,

Vem Amor, venha, ó sim

Venha de novo desaguar

Em mim, em mim,em mim...


Karla Bardanza

VOCÊ ME DEU ASAS


Te vejo...

Tua pele é rosa aberta

Escorrendo mel,

É céu onde deposito

Beijos e estrelas,

É estrada por onde

Deslizo sem hora de chegar.

Tua boca é pintura,

É uma tela de Renoir.

É a paisagem que nunca

Me canso de admirar.

Teu corpo é melodia

Vibrando e verberando

E penetrando o ar com deleite

E flor.Teu corpo foi feito

Para o meu amor.

Teu olhar é paraíso

E plenitude, é a luz

Em candeeiro,

É meu canteiro

De lavanda.


- Te vejo na varanda -

E minha noite

É prazer...


E todas as dores do mundo

Ficam do lado de fora de casa.


Te vejo

E vôou...

Você me deu asas...


Karla Bardanza

ENVELHECER É BELO


O espelho, esse grande inimigo diário, o espião do tempo sempre denuncia um algo diferente em nosso corpo: um fio de cabelo branco, aquela ruga escondidinha no canto do olho, o peito que não suporta a gravidade, a barriguinha escondida por uma blusa larga e tantos outros sinais de que estamos perdendo a juventude.
Ser jovem é tudo em nossa cultura.É quase uma tirania ou talvez uma obrigação.Como se a juventude durasse para sempre tal qual a filme “Highlander”.Ora bolas não somos imortais!Amadurecer faz parte da vida, por que ficar neurótica/o diante desse fato?Antes de pensar que se perde a juventude, deve-se pensar que se ganha a maturidade e a experiência.Não posso dizer que ganhamos a “velhice”.A palavra carrega conotações tão ruins.Minha própria mãe acha a palavra feia porque pensar no velho é pensar naquilo que está acabado, deteriorado.E sabe que ela está certa!Pense nesta palavra.O que vem a sua mente?Já posso até imaginar...Usamos esta palavra aliada a outras tão piores;”ela é velha e gorda!” ou “ele está ficando um velho chato!” ou ainda “preciso comprar um computador novo, este está velho e cansado”.Dessa forma, estar velho é estar cansado, fora de moda, fora de forma, fora dos padrões e, atualmente, o padrão é o da beleza e juventude eternas.
Como se não houvesse beleza nos cabelos brancos bem vividos ou naquele seio que caiu, mas que ainda causa emoção no seu parceiro!
Envelhecer é uma arte nesta sociedade em que vivemos.No outro dia escutei a seguinte pérola:”pôxa esses aposentados não têm nada o que fazer mesmo!Acordam cedo e pegam o ônibus ali para descer aqui!E então me perguntei: e daí?Agora que é o momento de pegar o ônibus e descer onde quiser, pois antes o caminho era casa-trabalho e agora há outras opções.Por que as pessoas se importam com detalhes ou pior: não se vêem pegando o ônibus ali para saltar aqui?
Quando eu ficar velhinha, quero pegar o ônibus e ir para onde eu quiser e bem entender.Quero cuidar de meus netos, sim, mas também vou querer viajar, dançar, estudar e tudo que não consegui fazer por conta de meu trabalho e falta de tempo.Posso estar perdendo a juventude, a minha já vai longe, porém estarei ganhando todo o tempo do mundo para viver coisas que não vivi.Creio que não precisamos envelhecer, achando que agora é sentar e esperar a morte chegar.Há tantos mortos-vivos que são jovens!
Meu avô viveu até os oitenta e seis anos de idade, minha avó até os setenta e oito e eu quero viver o suficiente para ver os meus netos e bisnetos, exatamente como eles.Adorava ouvir meu avô falar da guerra, do passado e da política.Ele era fã de Lamarca.Adorava chegar na casa de vovó e ouvir ela dizer “Karla, comprei goiabada para você. Está em cima da geladeira.”...Saudade...Quanta saudade Meu Deus!Adorava ouvir o avô de uma amiga que trabalhou na resistência italiana contar o que fez para ajudar as pessoas.Sabe, quero ter o que contar para as pessoas, para os meus netos e bisnetos e quem mais chegar quando eu chegar lá.
Chame como quiser, mas envelhecer é ter história de vida, é ter um baú aberto dentro de si cheio de coisas encantadas.Eu não quero me olhar no espelho e ficar chateada por não ser mais uma garotinha com a pele lisinha e os cabelos pretinhos.Não quero saber de plástica ou qualquer coisa do gênero.Não estou dizendo com isso que acho errado quem faz plástica, cada um sabe de si.Não quero também parecer uma colega de minha filha, nem bancar a “irmâe”.O espelho que me desculpe e o Poeta também: a beleza é fundamental.Contudo, envelhecer é mais belo ainda.


Karla Bardanza

UMA VIDA EM BRANCO


Ela sente aquele cansaço convencional depois que chega em casa.Fica muda olhando sua família e um estranhamento bate à sua porta.Não gosta de estar cansada, não gosta mais de si e de mais nada.Tira a roupa, conversa um pouco e sente aquela inquietude na alma.Brasa queimando, esqueleto no armário incomodando.Liga para o namorado.Ele não diz nada que a acorde por dentro .O “eu te amo” já nem mais existe.Ela havia cansado de dizer e não ter resposta.Cansou também de falar de sonhos para ele não escutar.Desliga o telefone com uma leve dor, sente uma máquina no peito, sente que a noite nem mais estrelas tem.E a lua por onde andará?
Senta, assiste um pouco de televisão enquanto que aquela angústia continua a mastigar a sua alma.Fica ali sentada em frente aquele aparelho, vendo e ouvindo nada, salvo a sua agonia.Como queria estar apaixonada!Como queria um amor diferente, queria muito, queria tanto...Pensa no namorado, tanto tempo de quê? Casariam ainda?Casar para quê? Para morrer de tédio no sofá...Ele tão diferente, tão pé no chão, tão prático...Subitamente sente que não tem mais sonhos, sente que não há mais amor, talvez acomodação, talvez...Sexo políticamente correto sem emoção...
E nem mais sabe se algum dia teve.Sua mãe fala-lhe algo...O assunto é sempre o mesmo: dinheiro – sempre o dinheiro.Escuta e nada responde.Quando olha no relógio a noite quase está no fim. Liga mais uma vez para o namorado.Ele fala do dia estressante, dos problemas, de tudo que ela já sabe...Ela ouve muda.Então diz que quer ver um filme, mas ele responde friamente, “você sabe que não gosto deste ator!”, e ela mais uma vez muda...”Quero dormir cedo tá!”. Ela entende que está na hora de desligar o telefone...E desliga olhando o poster do filme no jornal.Vai ao banheiro, tira a roupa e fica ali se olhando com olhos curiosos e sem luz.O corpo não é mais o mesmo tampouco ela é a mesma.De repente, se dá conta de que é uma mulher.Olha seus seios, seus pêlos, sua pele.Abre o chuveiro e em líquido afeto pensa que não escreveu um livro, não teve um filho e nem plantou uma árvore.E já nem sabe se é uma mulher mesmo...Lembra de uma redação de um concurso que não conseguiu escrever...Falar sobre sua vida...Que ironia! Sua vida...Vida? Eu tenho uma vida?Pensa e pensa e chora baixinho embaixo do chuveiro...Sua vida era aquele papel que deixou em branco, era o que não acontecia, era a perda diária de sonhos, de alegria, de si mesma.Sua vida...Tomou seu banho, enfiou o pijama de ursinhos e deitou.Dormiu para sempre.


Karla Bardanza

DESTINO DE ÁGUA


Olho teus cabelos molhados, seus ombros selvagens e estou confusa, amedrontada.Nunca pensei em te amar, nunca desejei te amar.
É horrível ter você beijando minhas pernas e no entanto, – e no entanto, não tenho forças para te fazer parar.
Na escuridão, teus olhos têm aquela luz vaga da vitória, tem aquele brilho que me atrai e repele...É assustador...”Você me ama?” Tua pergunta me rasga por dentro.Você me toca, me puxa para perto...Tento evitar e acabo por deslizar meus dedos pelos teus ombros...Não tenho nenhuma intenção de te amar e, no entanto, tocar tua pele é tão sublime.Percebo que teus olhos são luzes acesas, percebo neles um mar bravio para arriscar todas as minhas naus.Nada digo...
Olho para você e as luzes se apagam...Teus olhos dormem em dúvida e medo.Um cinza aterrorizante paira sobre eles.Mal consigo me afogar em teu mar. Me abandono deixo meu coração gritar por você.Percebo uma água estranha brotando em tua face...Meu coração queima e derrete.Meu coração!Ó Deus...Ele está vivo...Eu te sinto, sinto tuas lágrimas molhando minha garganta e subitamente desperto. Enfim, percebo que quero continuar com tua cabeça em meu ombro.
“Você me ama?”
A pergunta me acorda definitivamente por dentro.E eu digo SIM.Como doía dizer sim!Não porque não fosse verdadeiro, mas porque era verdadeiro demais.Era uma verdade repentina e eu já nem sabia o que era mais doloroso: amar ou ter um coração batendo novamente.
E bem ali em teus braços, o chão se abriu e o infinito me envolveu...Logo eu que sempre me vi como a rainha da chuva, estava coroada de sol e flores.Pensei em Alberto Caeiro:”...o destino da minha água não era ficar em mim.”O destino da minha também não...Então desagüei em amor, jorrei em sentimento, deixei de me despertencer e me abri como rio em direção ao teu mar.

Karla Bardanza

Seu comentário é especial para mim.

NEGOCIANDO AS CONTRADIÇÕES


Rejeito o papel social que me foi prescrito,

e grito minha própria história.

Meu mistério é simples.

É feito de carne e saliva.

Às vezes, não sei como estar viva,

Mas, geralmente, estou aquém

e além da vida.

Dentro de mim, um turbilhão,

um milhão de mulheres.

Seres desejantes, inflamados.

Seres delirantes, revoltados.

Tudo vem contra mim;

não quero o destino traçado.

Quero amar,o que penso amado, e

transcender o meu próprio sexo.

Não entendo esta incompreensão de mim mesma.

Minha incompletude é diferente.

Nunca vou assimilar o estabelecido.

Sempre negociarei o proibido.


Karla Bardanza

DESCUBRA-ME




Beba-me em paz,


no lilás de uma flor,


no infinito...




Abro-te as portas,


os poros, a pele...


E deixo-me contemplar


em sentidos e sentimentos,


por você e pelo vento...


Minhas metáforas a te sorrir,


meu silêncio a te gritar


em coloridas nuvens...


Eu inteira sou líquido


afeto a te brindar...




Beba-me em pequenas gotas,


descubra-me em sabor poético,


em caledoscópios e multifacetada,


sou a amada, sou a amante


escorrendo em sonho


pelas tuas veias,


pelo teu olhar perdido


em meu mais profundo mar.




Beba-me...


Em delicadeza...


Em perfume...


Descubra-me


em um lume de estrelas,


em pipas encantadas,


em tulipas bordadas no ar...


Venha para mim,


minha alma quer te amar...




Karla Bardanza